24/05/2000 - 7:00
Desde dezembro do ano passado, quando o banqueiro Edmond Safra morreu asfixiado durante um incêndio em sua cobertura no Principado de Mônaco, executivos do mercado financeiro perguntam: para onde vão os Safra?
Nas últimas semanas, Joseph, irmão de Edmond e controlador de um dos maiores bancos brasileiros, o Safra, tem dado sinais que podem levar a uma resposta. Às vésperas de completar 62 anos de idade, Joseph, dono de uma das maiores fortunas do país, acelera a internacionalização de seus negócios. Em março, anunciou a captação de US$ 125 milhões nos Estados Unidos e na Europa. Meses antes, recolhera mais US$ 150 milhões. Agora, Joseph está batendo o martelo para a compra do Banco Uto, com sede na Suíça. Também arrrematou dois prédios naquele país.
A internacionalização não é uma novidade para Joseph. Ele já possuía instituições em Luxemburgo, Israel, Ilhas Cayman e nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova York ? para lá foi despachado seu primogênito, Jacob, com o objetivo de treiná-lo. Mas a corrida ao exterior ganhou força no segundo semestre do ano passado, quando Edmond vendeu seu banco nos Estados Unidos, o Republic, para o HSBC e levou US$ 3 bilhões. Pegou o dinheiro e recolheu-se em Mônaco para uma aposentadoria que, julgava, seria tranqüila.
Imediatamente, a clientela do Republic, formada principalmente por membros da colônia judaica, sentiu-se desamparada. Afinal, eles entregavam seu rico (riquíssimo, aliás) dinheirinho não ao Republic, mas sim a um dos integrantes mais respeitados da comunidade, no qual possuíam irrestrita confiança, o velho Edmond. Joseph teria visto aí uma tremenda oportunidade de negócio. Tinha o sobrenome, o conhecimento da atividade e o respeito dos judeus. Precisaria estar próximo deles. Daí a pressa em desembarcar em outras praças. Calcula-se que haveria 30 000 clientes, ?órfãos? de Edmond. A aposentadoria de Edmond e o processo de internacionalização desenhado por Joseph guardariam mais relação do que pode parecer. Oficialmente, Edmond, mais velho que Joseph, teria se afastado em função do Mal de Parkinson que o afligia há anos. Meia verdade, talvez. A decisão também seria fruto de uma briga feia entre os três irmãos Safra ? o caçula, Moise, era sócio de Joseph no braço brasileiro do grupo. Tudo teria começado com a decisão de Joseph de investir em negócios sem a participação dos irmãos, ferindo de morte um acordo firmado entre eles ? certa vez, Edmond declarou: ?o que é de um Safra é de todos os Safra. Meus irmão serão meus herdeiros?. Houve discussões, com tom de voz elevado e ameaças. As desavenças teriam uma base fértil, segundo membros da comunidade judaica paulista. Joseph e Moise não têm um bom relacionamento com Lily, mulher de Edmond, devido, inclusive, a razões religiosas. Os Safra são sefardins, enquanto Lily é asquenaze. Nada mudou depois da morte de Edmond. Em janeiro, Lily inaugurou um memorial para o marido na sinagoga freqüentada por ele em Nova York, sem a presença dos irmãos. Dias depois, os dois fizeram o mesmo tipo de homenagem em Israel ? e Lily não compareceu. Sem esperança de reconciliação, os três decidiram separar as fortunas pessoais. Safra teria hoje US$ 2 bilhões. Edmond vendeu o Republic, pois, com a briga, já não tinha mais herdeiros. Parte de sua herança ficaria com Lily, parte com uma fundação beneficente criada por ele. Ao morrer, Edmond não falava com os irmãos há mais de um ano. A briga azedou a relação entre Joseph e Moise ? oficialmente o caçula continua participando do controle acionário do Safra, mas comenta-se que ele não coloca os pés na sede da instituição há meses. O esforço de internacionalização tem sido conduzido apenas por Joseph. Diante disso, qual o futuro do Banco Safra? Analistas de mercado acreditam que o banco não está à venda, mas se uma boa oferta aparecer … Afinal, como os demais bancos brasileiros, o Safra também padece da falta de escala. O Safra é forte no atendimento a pequenas e médias empresas e no private banking. Uma alternativa para Joseph seria ficar com o private e se desfazer do restante. A participação no leilão do Banespa seria mais um sinal de sua força e do valor de venda do que uma estratégia de expansão. Mesmo porque seus olhos estão voltados para os ?clientes órfãos? de Edmond.