28/10/2009 - 8:00
Best-seller: desde o seu lançamento, já foram vendidas 100 mil cópias em sete países
O que torna um vinho cultuado como uma obra de arte? Mais do que o processo de produção, da safra ou do terroir de onde as uvas são retiradas, o que faz a diferença é, sem dúvida, a história que uma garrafa carrega.
Nesse universo de Bacco, no qual as tradições se impõem a qualquer outro atributo, um exemplar do reputado Château Lafite, uma das joias de Bordeaux, chama atenção.
Datada de 1787, a garrafa custou US$ 156 mil em um leilão na Christie’s. Mas, por trás de sua idade e de seu pedigree, há uma história obscura. Leiloada em 1985, ela supostamente havia pertencido ao ex-presidente Thomas Jefferson (1743 – 1826), autor da declaração de independência dos EUA.
O livro O vinho mais caro da história, do jornalista americano Benjamin Wallace, desfaz todo o mistério ao redor da garrafa e acusa: tudo não passa de uma fraude. No centro da história, encontra-se Michael Broadbent, um notório Master of Wine britânico e ex-diretor da Christie’s entre 1966 e 1992, que teria atuado como cúmplice na farsa.
“Michael Broadbent sentiu que foi difamado no meu livro.
Obviamente, eu discordo” Benjamin Wallace, autor de
O vinho mais caro da história”
Irritado com essa imagem, Broadbent resolveu processar a editora Random House, responsável pela publicação do livro. Na semana passada, a distribuição da publicação foi proibida na Inglaterra. “Michael Broadbent sentiu que foi difamado em meu livro. Obviamente, eu discordo”, disse Wallace à DINHEIRO.
O livro já vendeu 100 mil cópias em sete países. O caso ficou tão famoso que os direitos da obra foram vendidos à produtora do ator americano Will Smith, que pretende filmar a história para o cinema.
A confusão teve início, no começo da década de 80, quando Hardy Rodenstock, um exprodutor musical alemão e colecionador de vinhos, disse ter descoberto um lote de bebidas de Bourdeaux que ficou escondido por 200 anos em uma casa em Paris. Os rótulos possuíam as iniciais Th.J – um indício de que pertenceram a Thomas Jefferson.
A partir daí, os vinhos se tornaram objetos de disputa e foram comprados na Christie’s por diversos milionários. Christopher Forbes, da família que publica a revista Forbes, foi quem pagou US$ 156 mil pelo mais caro deles, um Lafite 1787. A questão mais intrigante é que Rodenstock nunca disse exatamente onde os vinhos foram encontrados e o leiloeiro dos vinhos era ninguém menos que Michael Broadbent.
A fundação responsável pelo legado de Thomas Jefferson alegou não haver registro dos vinhos leiloados. Além disso, um outro comprador desconfiou da procedência do vinho e submeteu a garrafa a uma análise de laboratório que comprovou que as iniciais de Jefferson só poderiam ter sido feitas por máquinas modernas.
Sugere-se então que as outras garrafas seriam todas mais farsas de Rodenstock. A família Forbes, porém, segue acreditando que possui um dos vinhos mais caros do mundo. Se não for, contudo, já faz parte da história.