02/11/2001 - 8:00
O testamento do banqueiro Edmond Safra está a um passo de virar tema de disputa judicial familiar na Suíça. As três irmãs do banqueiro morto em 1999, Arletter Huzan, Huguette Michaan e Gaby Safra, contrataram o escritório de advocacia suíço Lenz & Staehelin para cobrar nas cortes de Genebra uma parcela de US$ 60 milhões do patrimônio de Edmond que acreditam ter sido destinada a elas. Do outro lado do processo estará Lily Safra, a viúva de Edmond e controladora das lojas Ponto Frio, que se recusa a fazer o pagamento às três irmãs enquanto não obtiver da família uma garantia de que não haverá contestações judiciais ao conteúdo do testamento, que fez da viúva praticamente a única herdeira de um patrimônio avaliado em mais de US$ 3 bilhões. A condição, imposta por meio do advogado de Lily e também executor do testamento, Marc Bonnant, é uma tentativa de inviabilizar processos movidos pelos irmãos homens de Edmond, Joseph e Moise, donos no Brasil do Banco Safra. ?Se a família disser que respeita o testamento e me pedir para executá-lo, isso será feito imediatamente?, afirma Bonnant.
Joseph e Moise são contra a viúva do irmão e consideram duvidosa a validade do testamento, modificado por Edmond poucos meses antes de sua morte de forma a excluí-los completamente dos direitos de herança. O irmão sofria do mal de Parkinson e, em seus últimos meses de vida, deixou crescer a influência de Lily sobre suas decisões de negócios. Foi nesse período que Edmond surpreendeu o mercado ao vender de uma vez ao HSBC todo o seu império bancário, constituído por uma holding na Suíça e um banco forte nos Estados Unidos, o Republic New York. A surpresa foi maior porque Edmond, ao revelar a doença que o atingia, em 1998, havia declarado que os Safra estavam mais decididos do que nunca a trabalhar juntos e a manter todos os negócios dentro da família, como habitualmente faziam. ?Partilhar informações e posições em conselhos é parte da tradição de nossa família?, afirmou na época o banqueiro. A rivalidade entre seus irmãos e sua mulher, porém, afastaram-no da família em seus últimos meses. Rumores em Genebra dizem que uma contestação de Joseph e Moise à divisão do espólio é inevitável. O caso de suas irmãs contra a viúva servirá, segundo se diz nos meios financeiros suíços, para a abertura pública de informações sobre como o banqueiro fez seu testamento. As relações entre os irmãos e Lily só pioraram após a morte de Edmond. Logo de início se desentenderam devido à falta de explicações claras sobre a morte do banqueiro, vitimado por um incêndio criminoso no banheiro de sua própria mansão em Mônaco. O primeiro embate público veio em seguida. Joseph e Moise queriam enterrá-lo no cemitério israelense de Monte Hertzel, onde o próprio Edmond havia reservado um lugar, mas a viúva fez a cerimônia em Genebra sem consultá-los. Eles, em represália, não compareceram.