O Banco Safra promoveu entre os dias 6,7 e 8 de dezembro o Safra Trends 2023, evento online gratuito que teve como intuito apresentar aos investidores as principais tendências e oportunidades de investimentos para o próximo ano, que será marcado pelo início de um novo governo.

Com a intenção de trazer essa visão mais ampla sobre o que pode acontecer no futuro, os desafios da nova gestão e o panorama econômico no Brasil e no mundo, o primeiro dia do encontro reuniu especialistas como Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo e presidente da Indústria Brasileira de Árvores, Joaquim Levy, diretor de Estratégia Macro do Banco Safra, Chris Garman, diretor do Eurasia Group, Vivian Lee, portfolio manager da Ibiuna Investimentos, Maria Sosa Taborda, coordenadora da UNEP-FI, entre outros.

No primeiro painel, intitulado “Os desafios de um mundo em transformação”, conduzido por Levy, Hartung falou sobre as tarefas que o novo governo brasileiro precisa colocar em prática para garantir que o país aproveite as oportunidades que estão surgindo.

O ex-governador do Espírito Santo destacou três delas: a necessidade de pacificar o país após as eleições – que saiu dividido de forma profunda no que diz respeito a aspectos regionais, econômicos e religiosos – a organização de uma base no Legislativo sólida e confiável, a necessidade de reancorar as expectativas econômicas, principalmente no que diz respeito à responsabilidade fiscal e redesenhar o programa de transferência de renda.

Para Hartung, não houve uma oportunidade tão relevante para o Brasil como a que está batendo na porta do país atualmente. “Se a gente cuidar dessas tarefas conseguiremos acessar um mundo de oportunidades, com a descarbonização, desorganização da cadeia global de suprimentos, entre tantos outros fatores. Se acertarmos o passo, faremos uma bela caminhada”.

O aumento da demanda por consumo de energia limpa e alimentos podem ser dois importantes alavancadores dessas oportunidades. “O Brasil tem ativos extraordinários como biomassa, ventos constantes e sol, que podem ajudar a aumentar a oferta de energia limpa para outros países. Além disso, pode elevar ainda mais a sua oferta de alimentos globalmente – nos dias atuais, responde por 10% da alimentação do planeta”, enfatiza Hartung.

Mas o caminho ainda tem alguns entraves, o que pede que o Brasil faça seu dever de casa. “O país precisa ganhar confiança de volta dos próprios brasileiros e do mundo. E para isso precisamos ter segurança jurídica. Não podemos brincar com isso”.

Novo Brasil

Na segunda parte da série de debates do dia, Chris Garman foi o convidado do painel “Os desafios do novo Brasil”, coordenado por Eduardo Yuki, economista-chefe do Banco Safra. Garman chamou a atenção sobre a importância do Brasil olhar para o que está acontecendo lá fora. “O ambiente externo está hoje com placas tectônicas em movimento, influenciadas pelos problemas geopolíticos e econômicos. No entanto isso traz riscos e oportunidades no médio prazo para o Brasil”, reforçando a linha de pensamento de Hartung.

Entre os riscos, o especialista elencou três grandes: as chances de aumento dos conflitos na guerra na Ucrânia, a dificuldade que a China terá para sair do cenário de restrições sociais por conta da covid-19 e a situação indefinida da economia americana – se entrará ou não de fato em recessão. “Os riscos geopolíticos serão um empecilho importante para o crescimento global em 2023. Não deve haver tão cedo um acordo com a Rússia por conta das sanções internacionais”.

Garman ressaltou que a PEC da Transição do novo governo com um gasto maior, na casa dos R$ 198 bilhões, vem minando a credibilidade do setor privado sobre a retomada do crescimento econômico e dificultando qualquer movimento do Banco Central brasileiro de reduzir os juros em 20923. “As incertezas fiscais dificultam a capacidade da economia de ter uma retomada mais forte e estimula uma opinião pública mais hostil. O desafio da equipe de Lula é delicado”.

Para Yuki, do Safra, a volta da cobrança dos impostos estimula a alta da inflação, mas, outro lado, traz uma sustentabilidade fiscal “um pouco melhor”.

Sustentabilidade

No último painel do primeiro dia do evento, que levou o nome de “Finanças Sustentáveis: ESG, as letras que mudam o jogo”, comandado por Tatiana Gomes, economista-chefe do banco Safra, Vivian Lee e Maria Sosa Taborda mostraram com essas três letrinhas ganham cada vez mais espaço no mundo dos investimentos. “Com o tema ganhando cada vez mais importância para as pessoas e empresas de forma geral e com a mudança na legislação, isso tem tido efeito significativo nos investimentos”, disse Tatiana.

Para Maria Taborda, conhecida como Marô, a agenda ESG traz valor para as empresas. “Colocá-la em prática o quanto antes mitiga riscos e, por outro lado, gera valor. Questões climáticas, biodiversidade, inclusão, diversidade passaram a fazer parte dessa pauta. Os CFOs estão olhando para isso de forma pragmática no mundo dos negócios”.

Vivian Lee destacou o crescimento desse mercado no Brasil, cuja primeira emissão de um título verde ocorreu em 2015, com ativos na casa dos R$ 500 milhões. Em 2021, esse mercado atingiu R$ 16 bilhões. Foi um crescimento significativo, só que ainda é muito pequeno se comparado com o total de emissões de títulos de forma geral no mercado”.

Lee apontou que, apesar disso, o Brasil é visto como pioneiro na incorporação dos princípios ESG nos setores financeiro e bancário, que atua como catalisador para que as empresas se tornem cada vez mais preocupadas do ponto de vista sustentável. “Hoje nós vemos bancos financiarem grandes projetos, mas pedem licenças ambientais, fazem diversos checklists para ter certeza de que não vão contribuir para aumentar o impacto no meio ambiente e nas questões sociais”.

Tatiana aproveitou o ensejo e citou o ETF Mulheres na Liderança (ELAS11), emitido pelo Safra em março deste ano, que é baseado no Índice Teva de empresas brasileiras presentes na Bolsa que tem maior representatividade de mulheres nos conselhos e na diretoria. “Desde que foi lançado, o fundo está entregando uma rentabilidade superior ao Ibovespa. As mulheres tomam decisões melhores, com pontos de vista diferentes e baixo risco. Cumprem regras e acabam incrementando a rentabilidade das companhias onde atuam”, conclui.