Sob o tema “Segurança e futuro: como investir hoje de olho no amanhã”, o segundo dia do evento Safra Trends promoveu discussões sobre assuntos como a força da Selic, investimentos no exterior e o futuro dos investimentos para o próximo ano.

No primeiro bloco, executivos do Banco Safra, como Ricardo Negreiros, diretor de Asset, Cauê Pinheiro, analista de Research, Eduardo Yuki, economista-chefe e Yuri Machado, também da área de Research, realizaram reflexões para mostrar se a Selic, considerada um importante benchmark para os investimentos, ainda é – ou não – um porto seguro.

Machado destacou que a Selic funciona como termômetro para atração de investimentos para a renda fixa. “Com a alta da Selic, o risco da renda variável subiu, e observamos as pessoas buscando proteção, fazendo alocação em renda fixa. Como são ativos indexados ao DI, o prêmio pago é interessante. Nos últimos 12 meses, a performance desses fundos, em particular, o de crédito privado, foi positiva no Brasil”.

Para os investidores mais arrojados, no entanto, o cenário atual é um bom momento para ingressar no mundo das ações. “A Bolsa está bastante descontada, sendo negociada – 7x/lucro em relação à média histórica dos últimos cinco anos. Para aquele que quer ter posições na renda variável e tem um horizonte de investimentos um pouco mais dilatado, é uma boa pedida”, analisa Pinheiro.

Em relação aos setores escolhidos, o analista de Research do Safra enfatiza que a recomendação tem sido atividades um pouco mais defensivas. “São empresas que estão sendo negociadas a múltiplos mais baixos, não apresentam um crescimento expressivo, porém tem boa geração de fluxo de caixa e crédito saudável”. Entre eles, estão os setores de utilities, bancos e commodities. “As companhias de utilities – energia e saneamento – têm boa previsibilidade de resultados e capacidade de fazer o repasse da inflação e pagar dividendos”.

Sobre os fundos, Negreiros afirma que o investidor deve estar em uma estrutura robusta, já que existem empresas que acabam perdendo muito com a alta da Selic. “Por mais alta que a taxa de juros possa estar, ela não defende o poder de compra tanto local quanto internacional, já que ainda convive com a inflação alta e um câmbio aceleradamente depreciado”. Ele cita o desempenho dos fundos multimercado,  indexados à Selic, que têm dado um bom retorno, citando o fundo Galileu do Safra. “Sempre quando a Selic foi a 8% ao ano, o fundo superou a taxa básica”.

Investimentos no exterior: diversificação

Na segunda rodada de conversa do dia, Giovana de Biazi, da área de distribuição de fundos do Safra Sarasin, Lucio Rebouças, gestor de fundos internacionais do Safra Asset, e Jerckns Cruz, que integra a Tesouraria do banco e é conhecido como “Jota”, falaram sobre a importância de olhar para o mercado externo para diversificar a carteira de investimentos.

Rebouças disse que a diversificação é saudável para o portfólio, pois o risco é diluído entre diversos ativos. Giovana reforçou que, ao olhar somente para o mercado interno, o investidor perde a oportunidade de ter exposição a grandes empresas que não têm acesso por aqui. “Além disso, as quedas do mercado local acabam sendo maiores que a grande maioria do mercado internacional. Contudo, em 2023, isso será diferente. Quando o investidor constrói seu portfólio, tem que usar o tempo a seu favor”.

Para escolher as melhores empresas, é preciso levar em conta uma série de fatores, mas principalmente se elas têm crescimento sustentável. “Buscar características que o Brasil não tem. Os países desenvolvidos têm regras muito bem definidas no que diz respeito à regulação e um mercado financeiro funcional, além de força de trabalho e produtividade”. Outro ponto mencionado por Rebouças, é a escolha de regiões que tenham um progresso tecnológico como alavanca de crescimento, como é o caso dos EUA.

Giovana trouxe à discussão várias linhas que o investidor pode adotar para escolher seus ativos lá fora. Por exemplo os investimentos temáticos. “São companhias que transitam em assuntos como automação, digitalização, consumo, meio ambiente e envelhecimento. Elas vão se destacar e apresentar um crescimento diferenciado lá na frente. Alphabet, Alibaba e Shiseido são algumas delas”.

Já essa abordagem de investimento pode ser feita olhando temas únicos. “São fundos que investem na cadeia de desenvolvimento tecnológico, que contam com ativos de empresas que são relevantes nessa cadeia de valor – grandes data centers como Amazon, Google. Ou produtoras de semicondutores para essas atividades, como a Nvidia, ou companhias que fornecem soluções de Inteligência Artificial”.

O setor de saúde, segundo Giovana, hoje é considerado um dos mais defensivos. “A gente não consegue remediar a saúde. Temos grandes empresas farmacêuticas e de biotecnologia desenvolvendo medicamentos e estudos que ajudam a remediar doenças e ganham destaque no futuro”.

Jota trouxe um outro ponto de vista sobre a importância de diversificar os instrumentos dentro do mesmo tema. Nesse sentido, os gestores podem ajudar. “Eles trazem acesso a materiais de pesquisa que, normalmente, o investidor não tem acesso. Ele empacota temas interessantes em produtos financeiros. Essa disponibilidade ainda é algo recente”.

Venture Capital

Para falar sobre o futuro dos investimentos em venture capital, o Safra Trends recebeu Michael Nicklas, sócio do grupo Valora Capital. A conversa, coordenada por Mario Mello, diretor de Digital do Safra, fez um “passeio” sobre o mercado desde quando Nicklas abriu sua primeira startup, em 1995, até o mercado de tokenização de ativos.

Nicklas contou que atualmente a Valora tem R$ 2,2 bilhões em ativos sob gestão, com 115 empresas em seu portfólio que, em grande parte, são early stage, ou seja, estão no estágio inicial para captação de recursos.

O fundador da Valora ressalta que o mercado tinha muita liquidez desde 2008, com os BCs mundiais coordenando respostas para a crise da pandemia. “Por muito tempo, isso não impactava tanto as empresas early stages. Contudo, a partir do ano passado, havia muito dinheiro correndo atrás da mesma oportunidade, o que acabou gerando um ‘flight to quality’, com uma queda no montante investido e elevação das regras de concessão de crédito”.

Apesar da forte redução – que Nicklas coloca de R$ 5 bilhões para cerca de R$ 2 bilhões –, o montante ainda é considerado positivo para o mercado brasileiro. “Os valuations têm caído e Venture Capital é jogo de longo prazo. Com paciência, estamos olhando os melhores ativos e pagando um preço justo”.

Ao contrário do que muitos pensam, a pandemia trouxe oportunidades valiosas para VC, de acordo com o dono da Valora. “O ritmo reduziu para todos, mas houve várias mudanças de comportamento, como o aquecimento das compras online e o fortalecimento do delivery, que geraram boas oportunidades para os fundos. Por outro lado, a régua ficou mais alta para a escolha desses investimentos”, apontou.

Entre os próximos movimentos tecnológicos que vão gerar disrupção entre as startups, estão a Inteligência Artificial, Big Data e os dados. “Hoje nós temos uma geração de dados em nível extraordinário, o que demanda a utilização de uma inteligência preditiva para fazer o seu bom aproveitamento. O Big Data está sendo utilizado para avançar os estudos do microbioma humano”, reforçou Nicklas.

A tokenização e o DeFi (Finanças Descentralizadas) são analisados por Nicklas como mercados atualmente em evidência. “O Brasil já está se posicionando nessas áreas”, conclui.