Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – A colheita de milho do Brasil em 2021/22 pode superar as estimativas atuais, com um clima favorável para a segunda safra e uma área plantada superior às indicações iniciais, o que aumentaria a oferta em momento de maior demanda por causa do conflito na Ucrânia, avaliou nesta quinta-feira a consultoria Safras & Mercado.

“Vamos revisar os dados na próxima semana e possivelmente viremos com dados maiores (de colheita)”, afirmou o analista Paulo Molinari, em apresentação da consultoria.

A empresa de análises estima a segunda safra do centro-sul do Brasil em 83,3 milhões de toneladas, alta de 44% ante o ciclo anterior, quando o país sofreu os efeitos de seca e geadas.

“Não se surpreendam se vier com mais de 83 milhões de tonelada”, disse ele.

O analista explicou que essa revisão pode acontecer porque Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Minas Gerais podem ter plantado mais do que o projetado inicialmente na segunda safra.

Ele ainda disse que Estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) também plantaram muito milho, e a região pode ter uma safra recorde, impactando positivamente a produção total do país, estimada atualmente pela consultoria em 115,7 milhões de toneladas, versus apenas 91,5 milhões na temporada passada.

Se esse patamar se confirmar, o Brasil teria uma produção recorde de milho em 2021/22 –apesar da quebra da primeira safra pela seca, com registrou perdas severas nos Estados ao Sul–, uma vez que realizou um plantio nunca visto acima de 21 milhões de hectares.

Com uma safra maior, o país poderia exportar 34,5 milhões de toneladas de milho em 2021/22, ante 20,8 milhões da temporada anterior, mas ainda abaixo do recorde de 41,17 milhões de 2018/19.

EXPORTAÇÕES

Molinari citou uma recente reação nas exportações do cereal do Brasil, que deve fechar março, abril e maio com embarques estimados em até 2 milhões de toneladas, após uma maior demanda pelo grão brasileiro diante dos problemas na exportação da Ucrânia.

O analista citou que essas exportações colaboram para apertar o quadro de oferta e demanda, uma vez que a colheita da segunda safra só deve ampliar os volumes disponíveis no país no segundo semestre.

Mas ele comentou que “por mais que o quadro esteja apertado”, o produtor brasileiro tem vendido milho, “aceitando preços mais baixos”, enquanto prefere segurar a soja.

A cotação média do milho no centro-sul, que já superou 100 reais a saca de 60 kg mais cedo neste ano, agora está abaixo desse patamar, mais perto de 90 reais em várias regiões.

Segundo ele, o produtor está vendendo milho para fazer caixa, o que acaba segurando o preço. Mas, considerando que esse movimento enxuga a oferta ainda mais, as primeiras colheitas da segunda safra deverão ter preços sustentados.

Ele observou também que nessa transição até a entrada da chamada safrinha existe chance de algum repique de preços por clima, incluindo riscos de geadas.

As lavouras mais precoces devem ter colheita ao final de maio em algumas poucas áreas de Mato Grosso, mas a maior parte da safra chega entre junho e julho.

O analista chamou a atenção para o relatório da próxima semana do governo dos Estados Unidos que deverá trazer informações sobre o plantio da safra norte-americana, o que vai se sobrepor a preocupações com a disponibilidade da Ucrânia.

Os EUA são os maiores produtores globais, com uma safra estimada em 373,2 milhões de toneladas em 2022/23.

Ele disse que a estimativa de área plantada de milho dos EUA, que alguns creem que pode cair 2 milhões de acres, na verdade surpreenderia positivamente, com o plantio não recuando tanto como o mercado espera por conta dos altos preços na bolsa de Chicago.

“O milho a 7,50 dólares por bushel absorve qualquer desaforo em termos de custo de produção… Esses preços absorvem todos os custos e oferecem margens”, disse Molinari, ressaltando que o agricultor dos EUA tende a preferir o milho à soja.

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