Uma sequência de mensagens empolgou os moradores de uma pequena rua da Vila Madalena, na zona oeste paulistana, há uma semana. “Olhem o que apareceu no quintal da casa da minha mãe. Vocês já tinham visto? Um macaquinho!”, dizia a integrante de um grupo de WhatsApp ao enviar vídeo e fotografia caseiros de um sagui.

A novidade se tornou rapidamente o assunto da semana na vizinhança de cerca 12 casas, cujos habitantes estão em grande parte em distanciamento social por causa da pandemia do novo coronavírus. Vizinha da primeira moradora a receber o sagui, a jornalista aposentada e enfermeira voluntária Maria da Luz Lins, de 61 anos, logo suspeitou de quem seria o “visitante”.

“Os meus pais são de Santa Catarina, moram na Lagoa da Conceição (em Florianópolis) e lá tem muitos desses ‘miquinhos’, achei que era o mesmo som que ouvia lá”, conta. A vocalização da espécie lembra o soar de um apito ou de alguma ave.

“Naquele dia, ele andou por todas as casas. Todo mundo tirava foto e mandava, foi incrível. Ele passeou por tudo”, relembra Maria da Luz. As aparições continuam a se repetir, nem sempre no mesmo horário e da mesma forma. O que mais chama a atenção do animal são as árvores, especialmente uma jabuticabeira que começou a florir com dois meses de antecedência. Mas ele também sobe na fiação, em muros, telhados e parapeitos e outros espaços a certa distância de seus observadores humanos.

Agora quase “paparazzi” do sagui urbano, os moradores enviaram imagens do animal para uma especialista, que recomendou distância e identificou a espécie (sagui-de-tufos-pretos), caracterizada pela cauda listrada e os tufos escuros nas orelhas. “Ele é muito ágil. Às vezes vejo aqui e, daqui a pouco, alguém já posta foto dele do outro lado. Fica zanzando pelas casas”, comenta.

Maria da Luz também conta que a região tem “muitos passarinhos”. Ela já identificou 14 espécies diferentes, incluindo um pica-pau-amarelo. “O sagui deu um diferencial na quarentena, virou um assunto engraçado.”

Outros bairros

Relatos da presença de saguis durante a pandemia têm surgidos em outras partes da capital paulista. Um grupo de cerca de seis (entre adultos e filhotes) apareceu na vizinhança da empresária Joyce Cotrim, de 53 anos, há aproximadamente um mês, no Morumbi, zona sul. “Passeiam pelos fios.

Já a aposentada Eliana Assis, de 70 anos, deparou-se com uma dupla de saguis mais no início da quarentena, há mais de dois meses. “Nunca tinha visto em São Paulo, só em Paraty, perto da mata. Ali não tem mata, só árvores grandes. Fiquei pensando de onde poderiam ter vindo”, diz. Moradora do Pacaembu, na zona oeste, ela lembra que o tráfego de veículos ficou bem menor do que na pré-pandemia, o que poderia ter ajudado a atrair os bichinhos.

Os saguis são nativos de algumas regiões de São Paulo, mas são considerados “invasores” nas áreas urbanas paulistanas. “Hoje temos um híbrido de duas espécies que colonizam progressivamente os bairros da cidade”, explica Juliana Summa, diretora da Divisão de Fauna Silvestre da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. A diretora ressalta que a população não deve alimentar os saguis. O ideal é manter distância e, caso o animal esteja ferido ou seja um filhote órfão, é recomendado entrar em contato com a Divisão (por e-mail faunasvma@prefeitura.sp.gov.br ou pelos telefones (11) 3885-6669 e (11) 3917-8873).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.