09/12/2009 - 8:00
Para engordar o caixa: estima-se que, com a venda das redes de varejo, o grupo ganhe e 4 bilhões
Em março deste ano, quando o francês François-Henri Pinault, um dos homens mais ricos da França, saía de uma reunião em Paris, sentiu a fúria de 100 homens que tentavam bloquear o seu carro. O protesto durou pouco menos de uma hora e a polícia precisou intervir. O motivo da revolta era que Pinault, CEO do Pinault-Printemps- La Redoute (PPR), um conglomerado que faturou e 20,2 bilhões em 2008 e que é dono de gigantes como Gucci, Balenciaga, livraria Fnac, entre outros, iria anunciar um plano de redução de custos em todas as companhias. Os agitadores em questão eram os empregados da Fnac e da rede de lojas de móveis Conforama, também parte do PPR, que sofreriam com as medidas que seriam adotadas. Na época, Pinault se calou. A revanche do empresário, contudo, veio na semana passada. Em entrevista ao jornal americano The Wall Street Journal, Pinault detalhou um plano varejo, com o objetivo de focar os negócios do grupo no segmento de luxo. A decisão pode ter um grande impacto na operação da filial brasileira. Com nove lojas no País, a Fnac é forte tanto na venda de livros como na venda de produtos de tecnologia. “O grande ativo da rede é o seu acervo de clientes”, diz Claudio Felisoni,
Com o dinheiro levantado pela venda, especialistas avaliam que nomes como a Lacoste e a Tommy Hilfiger seriam o próximo alvo |
coordenador do Programa de Administração de Varejo da USP. A rede que a comprasse teria um ganho de escala e já conquistaria, de cara, milhares de consumidores fiéis. A preocupação com a possível venda, entretanto, se acentuou devido ao modo enfático com que Pinault revelou seus planos. “Quanto antes (vender a Fnac), melhor”, disse o executivo na entrevista.
“Temos uma grande fraqueza, que é o varejo (as redes). Trata-se de um negócio que não pode se desenvolver rapidamente no exterior porque leva muito tempo até que os consumidores se acostumem com um nome desconhecido”, completou. De acordo com o executivo, já há uma lista de 20 interessados em comprar as empresas. Se o negócio sair, especialistas do setor estimam que deverá gerar ao grupo PPR uma cifra de e 4 bilhões. Com esse dinheiro, Pinault comprasumidores fiéis. A preocupação com a possível venda, entretanto, se acentuou devido ao modo enfático com que Pinault revelou seus planos. “Quanto antes (vender a Fnac), melhor”, disse o executivo na entrevista. “Temos uma grande fraqueza, que é o varejo (as redes). Trata-se de um negócio que não pode se desenvolver rapidamente no exterior porque leva muito tempo até que os consumidores se acostumem com um nome desconhecido”, completou. De acordo com o executivo, já há uma lista de 20 interessados em comprar as empresas. Se o negócio sair, especialistas do setor estimam que deverá gerar ao grupo PPR uma cifra de e 4 bilhões. Com esse dinheiro, Pinault compraria outras marcas de luxo como, por exemplo, a Lacoste, Tommy Hilfiger, Abercrombie & Fitch e Levi’s.
Procurada, a empresa, por meio de sua assessoria de imprensa, tentou minimizar as declarações de seu CEO. “Ao contrário da impressão passada em certos artigos, até a data de hoje, não há um processo de venda em curso”, disse à DINHEIRO Charlotte Judet, diretora de comunicação do PPR. Outra envolvida diretamente, a Fnac, também não reconhece a oferta. “Não recebemos nenhuma indicação de mudança em nossos planos de expansão. Continuamos a abrir lojas normalmente e vamos abrir mais”, comunicou a Fnac Brasil, por meio de sua assessoria de imprensa. Por que, então, Pinault daria uma declaração bombástica como essa? A resposta para essa questão está na lucratividade das empresas que formam o PPR. Apesar de, no primeiro semestre de 2009, a Fnac ter sido responsável por 20,6% do faturamento total do grupo e o Grupo Gucci (que representa as marcas de luxo do PPR) aparecer com 17,8%, é a divisão das marcas premium que responde pela maior parte do lucro da empresa. Enquanto o Grupo Gucci surge com 42% do lucro do grupo, a Fnac fica com 4,4%. Ou seja, as margens no setor de luxo são bem mais atrativas. “Não podemos esquecer que a Fnac é uma empresa de forte atuação e com uma estratégia que funciona. Uma declaração como a do CEO pode abalar a confiança dos investidores e funcionários”, aponta Eugenio Foganholo, diretor da consultoria de varejo Mixxer. Essa estratégia da Fnac, de misturar livraria e loja de produtos eletrônicos de alto padrão, garante à rede uma característica inovadora. Parte do que a faz original, como uma parceria para vender lançamentos da Apple, só é possível devido à força de ser uma cadeia de mais de 140 lojas. “É pouco provável que, ao vender, a operação seja desmembrada”, diz Foganholo, da Mixxer. Mas se isso acontecer os prováveis compradores seriam as Lojas Americanas ou a Saraiva.
![]() | François-Henri Pinault: “Quanto antes, melhor”, disse o empresário sobre a venda da Fnac. A estratégia da holding é focar seus negócios na gestão de marcas reconhecidas internacionalmente |
Enquanto isso, os passos do conglomerado na França apontam mesmo para o luxo. A empresa acaba de anunciar uma parceria entre a Gucci e a casa de leilões Christie’s, ambas do grupo PPR, para janeiro de 2010, em que será criado um site de vendas de produtos Gucci com o objetivo de barrar as vendas de falsificados em portais como o eBay. Mais: em outubro, o PPR anunciou que pretende vender a maioria das ações do CFAO, grupo de sua propriedade com foco na distribuição de produtos farmacêuticos e carros na África. “Esse projeto é um passo adiante na estratégia do PPR em focar seus negócios em marcas de luxo reconhecidas internacionalmente”, afirmou Pinault, em comunicado. Com essa filosofia, as marcas de alto padrão sob a égide do PPR comemoram os bons resultados.
Faturamento em 2008: 20,2 bilhões Portfólio de empresas: Fnac, Redcats, Conforama, CFAO, Christie’s e Grupo Gucci (Gucci, Stella McCartney, Bottega Veneta, Yves Saint Laurent, Balenciaga, Boucheron, Sergio Rossi, Alexander McQueen) |
No caso da Puma, por exemplo, que teve 27% de seu capital comprado pelo PPR, em 2007, a grife deu um salto. A marca, com faturamento de ? 2,76 bilhões em 2008, deixou de ser reconhecida apenas como uma grife esportiva para se tornar um rótulo de estilo de vida. “O PPR é um investidor que pensa no longo prazo” afirmou Jochen Zeitz, CEO da Puma, em entrevista concedida à DINHEIRO em abril deste ano. Isso comprova que o grupo sabe lidar com o negócio do luxo como poucos. “As empresas devem se focar em suas melhores competências”, afirma Luciano Deós, diretor da consultoria de marcas GAD. É uma cartilha que o PPR pretende seguir à risca.
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A Gucci como arte |
A casa de leilões Christie’s consagrou-se entre as melhores do mundo por conseguir trazer ao martelo grandes nomes da arte como Rembrandt, Monet e Picasso. Agora, no site da Christie’s, estarão ao lado das obras-primas da humanidade nada mais nada menos que uma seleção de itens da Gucci. Batizado de Gucci Collector, o site trará a possibilidade de os clientes customizarem bolsas, além de permitir que os potenciais vendedores postem fotos, que serão analisadas por especialistas para comprovar sua veracidade. O objetivo da Gucci é evitar a venda de produtos falsificados, em especial na internet, em sites de leilões como o eBay.
“A sinergia entre os dois negócios é grande. E a vantagem é que os dois conseguem se associar e continuar com imagens independentes”, afirma André Robic, diretor do Instituto Brasileiro de Moda. As novidades da Gucci não param por aí. Até 2011, quando a marca completa 90 anos, será inaugurado um museu da marca, em Florença, na Itália.