Nesta semana o Jornal Nacional iniciou sua série de debates com os presidenciáveis. Logo na estreia, um comportamento repetido pelo apresentador William Bonner e pelo entrevistado Jair Bolsonaro chamou a atenção e foi registrado em vários posts nas redes sociais: ambos interromperam e atropelaram as falas da também apresentadora Renata Vasconcellos em várias ocasiões. Em determinado momento, Bonner chegou a interrompê-la para explicar o que ela queria dizer. O nome disso é “mansplaining”, um hábito mais comum do que se pensa na política e também nas empresas. E isso é capaz de enfraquecer qualquer ação de diversidade em curso no mundo corporativo.

A origem do termo não é precisa, mas se refere ao comportamento de um homem que pressupõe que entende mais sobre algo do que a mulher, mesmo que ela seja especialista no assunto. Normalmente, o comportamento vem acompanhado de “manterrupting”: quando o homem interrompe constantemente a mulher não deixando que ela conclua a frase ou seu pensamento. Ou seja, ele a interrompe para explicar o que ela estava explicando com plena propriedade e conhecimento.

Muitas vezes, a desculpa é que o homem está ajudando a mulher a se defender ou a se expressar melhor, mas esquecem-se que elas têm autoridade e competência para se autodefender. Ela é subjugada.

Nas corporações essa prática é tão usual como corrosiva. Em tempos em que tantas companhias se esforçam para criar e divulgar ações para atrair e promover talentos femininos com a promessa de uma composição da liderança mais equilibrada em gênero, é preciso que se comece a educar os funcionários contra hábitos machistas. Mansplaining e manterrupting, entre eles. Mas há muitos outros: homens que prestavam atenção em uma reunião e começam a mexer no celular quando uma executiva começa a falar, que aproveitam o momento para sair rapidinho da sala ou que simplesmente viram as costas para a oradora. A interrupção nem sempre vem por meio de palavras.

Além de altamente desrespeitosa, essa postura é um sinal de que entre a estatística da diversidade e a prática da inclusão há um trabalho sério a ser feito. Como? Cabe a cada empresa criar a melhor estratégia de acordo com seu público interno: simulações, palestras, depoimentos com casos reais, filmes educativos… Mas certamente é urgente colocar luzes sobre esses problemas, afinal se as executivas estão ali trabalhando, de duas uma: ou elas são competentes, ou sua liderança é incompetente por mantê-las na empresa.

Em qualquer um dos casos, o resultado se traduz em má gestão de pessoas e, em última instância, má governança do uso dos recursos financeiros da companhia.