09/02/2001 - 8:00
Carregar quase toda a equipe quando se muda de emprego é uma estratégia arriscada: pode trazer resultados a curto prazo, sobretudo em empresas concorrentes, mas também pode se transformar num pesadelo se as perspectivas de negócio não forem bem dimensionadas. Há quem tenha conseguido, com a prática, arrancar em pouco tempo clientes de peso de companhias rivais. Outros, puderam viabilizar rapidamente uma nova divisão de negócios ou resolver questões de ineficiência em determinada área. Casos de empresas que demitiram vários funcionários, trouxeram uma nova equipe e em seguida foram obrigadas a correr atrás dos antigos colaboradores em virtude do fracasso dos recém-contratados, também fazem parte da história das panelinhas de executivos. Em resumo, é preciso ter uma estratégia cuidadosamente estudada antes de trazer a ?turma? ? sob pena de a solução se transformar numa enorme dor de cabeça.
A Siebel, por exemplo, tirou de uma só tacada mais de 30 funcionários da multinacional alemã SAP, líder mundial em software de gestão empresarial integrada (o chamado ERP). A debandada aconteceu no final de 1999, após a saída do carismático vice-presidente Augusto Pinto. Convidado para assumir a direção da Siebel, ele levou consigo toda a equipe que o cercava. A empresa chegou ao mercado com uma proposta agressiva de remuneração e de participação em ações. Além disso, havia o entusiasmo: a Siebel estava trabalhando as novas gerações de software para e-business, bem mais de ponta que a SAP. ?Minha missão era vender US$ 10 milhões em software nos três primeiros meses?, afirma Pinto. ?Não dava tempo para contratar head-hunter e ficar fazendo entrevistas. O recrutamento é demorado e me vi obrigado a buscar gente de confiança para ganhar tempo.? A debandada deixou traumas na SAP, que não comenta o assunto. Entretanto, nem tudo são flores quando se trabalha com amigos. Na hora em que o negócio aperta e a empresa é obrigada a fazer cortes, fica mais difícil seguir a máxima ?amigos, amigos negócios à parte?. ?Foi difícil, mas me vi tendo que demitir um funcionário que eu conhecia há dez anos?, diz Pinto.
A única baixa na equipe da Siebel parece insignificante diante do que aconteceu com o moinho Anaconda. A empresa contratou o executivo de vendas da Nestlé, Wilson Tagliatela, para incrementar o setor de vendas após a aquisição da fábrica de macarrão Premiata, comprada da Sadia. Tagliatela demitiu 20 vendedores e contratou outros 80, alguns dos quais saídos da Nestlé. Foi um fracasso total. Em apenas quatro meses, a empresa demitiu o executivo e toda sua equipe e tentou recontratar os antigos vendedores. ?Quando você admite equipes formadas, você admite junto certos vícios?, afirmou o porta-voz da Anaconda, Fernando de Sousa.
Nas indústrias de serviço, onde o capital humano é o ativo mais importante, os departamentos de Recursos Humanos estão se tornando áreas estratégicas. Afinal, com a saída dos melhores executivos há sempre o risco da perda de muitos clientes. ?São as pessoas que dão credibilidade ao serviço, mais do que a empresa?, afirma Grace Cerqueira, vice-presidente de seleção de executivos da AT Kearney. ?É como na medicina. Você vai ao médico e não à clínica.? O exemplo se aplica na Value Partners do Brasil, empresa de consultoria com sede na Itália. Há três anos, os três sócios da VP se desentenderam com o diretor da matriz e se juntaram para abrir o escritório da concorrente Bain. Levaram junto 20 funcionários. Os clientes foram migrando aos poucos. Hoje, a Bain possui seis clientes com os quais os executivos tinham trabalhado na VP. Por conta disso, a VP entrou com um processo contra a Bain, que está correndo na Justiça brasileira e americana por concorrência desleal. ?As pessoas são livres para mudar de trabalho?, rebate o CEO da Bain, André Castellini.
Sempre que uma empresa perde grandes executivos ou mesmo toda uma equipe de determinado setor é bom ficar atento aos sinais. Talvez seja o momento de fazer uma auto-avaliação para tentar descobrir o motivo de tanto descontentamento. ?Um mínimo de 5% de rotatividade de pessoal é saudável para as empresas?, afirma o head-hunter Leonel Mendonça, diretor geral da Nicholson International no Brasil. ?Mas se você perde mais de 10%, é sinal que a empresa ou um determinado departamento está com problemas sérios.?