12/07/2013 - 6:09
Bernard Arnault, o todo- poderoso CEO do grupo LVMH, movimentou na última semana o seu tabuleiro de marcas de luxo. Na segunda-feira 8, o conglomerado anunciou a compra de 80% das ações da marca italiana Loro Piana, reconhecida por suas inigualáveis cashmeres. Trata-se de um negócio de US$ 2,5 bilhões, que garante a Arnault mais uma etiqueta made in Italy no portfólio ? as outras são Fendi, Emilio Pucci e Bvlgari. Mas o maior benefício para o empresário é dar um refresco no noticiário sobre a disputa judicial que seu grupo trava com os herdeiros da família Hermès.
No início do mês, a Louis Vuitton Moët Henessy foi multada em cerca de US$ 10 milhões pela Justiça francesa por más práticas comerciais. A AMF, autoridade que regula o mercado financeiro do país, condenou a LVMH por entender que ela agiu de forma antiética ao não informar ao mercado, em 2009, de sua intenção de adquirir parte da francesa Hermès. O fato se consumou e desde 2010 o grupo detém 22% das ações da maison. No processo da AMF, haveria provas do uso de empresas laranja na compra de pequenos lotes de ações desde 2001. O suposto escândalo foi revelado em maio passado e ganhou as páginas do principal jornal francês, o Le Monde.
O CEO se defendeu e já disse que vai recorrer do que considera ?multa injustificada?. Quanto à família dona da tradicional selaria, a estratégia é defender os 73% das ações que possui de um eventual xeque-mate de Arnault. Com o tabuleiro travado, a saída para o dono da LVMH foi movimentar-se para os lados. E a compra do controle da Loro Piana, conhecida como a ?Hermès italiana?, foi como um tapa com luva de pelica nos aborrecidos concorrentes franceses. Com 130 butiques próprias e faturamento de US$ 805 milhões em 2012, a marca italiana é sucesso absoluto entre as grifes de luxo. Liderada pelos irmãos Sergio e Pier Luigi Loro Piana, a sexta geração da família no comando, a companhia fez fama confeccionando cashmeres e tecidos de lã para casacos e ternos.
Alívio: Bernard Arnault, da LVMH, feliz com o controle acionário da Loro Piana. À dir., cabra hircus,
criada na China e Mongólia, é penteada para a retirada de lã, usada na produção do baby cashmere
?É uma maison extremamente rara?, disse Arnault à imprensa logo após o anúncio. ?Estou feliz que Sergio e Pier Luigi tenham acreditado que o grupo é o melhor para garantir o futuro da casa Loro Piana.? Os irmãos ainda detêm 20% das ações e serão mantidos em suas funções, até segunda ordem. ?A família está orgulhosa que nosso nome esteja associado à LVMH?, disse Sergio. ?A LVMH tem provado que respeita e nutre negócios familiares?, completou Pier Luigi, em comunicado. A fama da Loro Piana está associada à qualidade de seus tecidos, produzidos com fios raros encontrados em rebanhos de ovinos nos quatro cantos do mundo.
Da China, por exemplo, é extraída a lã das cabras da raça hircus, ainda bebês, que é usada para a produção do baby cashmere. No Peru, uma fazenda de mais de dois mil hectares foi montada, em 2008, pelo pai dos atuais administradores, Franco, para a criação de vicunhas ? ou lhama, como os peruanos chamam o animal. A espécie, então ameaçada de extinção, hoje está preservada e produz, em pequena escala, um valioso tipo de lã. Da Oceania, a família compra ainda a lã merino, mais comum, para a confecção de ternos. E na minúscula Myanmar, na Birmânia, a Loro Piana vai buscar a fibra vegetal obtida do talo da flor de lótus para produzir um raro tecido.
Sexta geração: os irmãos Sergio e Pier Luigi Loro Piana manterão
seus postos na marca da família, com 20% das ações remanescentes
O preciosismo aqui impera: são necessários 32 mil talos para confeccionar apenas um metro do pano. Esse caráter de exclusividade agrega alto valor à marca italiana. Com seis fábricas na Itália, a maison oferece seus atributos em outras frentes, como a customização de interiores de iates de luxo e jatos executivos. Há ainda outro serviço para os muito ricos. Um pacote de customização completo promete (e entrega) um mergulho profundo no lifestyle da marca. Começa com o avião particular da família buscando o cliente no seu país de origem. O primeiro desembarque é no head office da Loro Piana, em Quarona, no nordeste da Itália.
Ali, o cliente é recebido pelos irmãos Sergio e Pier Luigi (que hospedam o comprador em suas próprias casas) e decide, em conjunto, qual o tecido que será usado para confeccionar um terno, por exemplo. Definido esse detalhe, a pessoa é reembarcada novamente no jato privado rumo a uma das fazendas de criação da companhia. In loco, o cliente vai poder tocar nos animais e escolher a lã. De volta à Itália, é hora de se determinar a padronagem do tecido. O nome do cliente é bordado em uma etiqueta, que será costurada na lateral do rolo do pano. Desse tecido personalizado sairá o terno, cortado por um alfaiate exclusivo da marca. Custo da roupa? Difícil mensurar, mas a experiência toda sai por US$ 1,5 milhão.