14/11/2020 - 7:29
Diretor médico de um hospital referência para covid-19 na Bahia, Risvaldo Varjão resolveu dar uma contribuição extra no combate à pandemia do novo coronavírus. Aceitou ser voluntário de estudos feitos no Brasil com a vacina produzida pelas farmacêuticas Pfizer e BioNTech. A participação dele ajudou as empresas a chegarem a um resultado promissor. Na segunda-feira, as fabricantes anunciaram que o imunizante teve 90% de eficácia na fase 3, a última de testes.
Se a vacina ainda necessita de passar pelo aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de ser registrada e aplicada em larga escala na população, Risvaldo afirma que pôde atestar sua eficácia. Após tomar duas doses durante os testes, o médico fez exame sorológico por conta própria.
Segundo relata, ele descobriu ter desenvolvido o IgG, anticorpo contra o Sars-Cov-2, vírus que provoca a covid-19. O resultado das sorologias feitas pelo Centro de Pesquisa Clínica das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), onde os testes foram realizados em Salvador, ainda não foram divulgados para os 1.549 voluntários.
“Como trabalho em um hospital que trata pacientes com covid, já tinha feito seis testes (da doença) anteriormente, com resultados negativos. Quinze dias depois de ter tomado a segunda dose da vacina, fiz um teste de sorologia e deu IgG positivo, indicando que desenvolvi imunidade”, relatou Risvaldo ao Estadão.
O médico recebeu as duas doses do imunizante em setembro, com intervalo de três semanas entre uma e outra. Na primeira vez, não teve efeitos colaterais. Na última, apresentou dores musculares, que apareceram logo após tomar a vacina. “Mas não foram dores intensas. Passaram no mesmo dia.” Ele não sabe se tomou o imunizante ou o placebo, já que a informação não é passada para o voluntário. Mas acredita ter recebido a vacina – o placebo, composto apenas de soro fisiológico, não provoca reações adversas.
O fato de estar acima do peso e integrar o grupo de risco para covid-19 levou Risvaldo a participar de testes de vacinas na Bahia. “Já tinha me voluntariado para outra (pesquisa com testes de outra vacina), mas não fui chamado. Sou obeso e fiquei com muito medo de pegar covid porque é um fator de risco. Tenho contato com todos os médicos que estão em linha de frente, tive contato com pessoas que “positivaram”. Queria poder exercer minhas atividades com segurança, sem preocupação. Quando me chamaram, falei: Vvou na hora’”, afirmou.
Após ter descoberto que desenvolveu anticorpos, o médico aparenta tranquilidade de causar inveja. Não abandonou o uso da máscara e mantém a higienização nas mãos. Fora isso, diz levar vida “praticamente normal” em relação a antes da pandemia. Sua saúde mental foi quem mais sentiu os efeitos positivos da BNT162b1.
“Você sai psicologicamente de casa muito mais tranquilo. Antes, saía meio paranoico, com medo. Isso tranquilizou muito mais a minha vida. É um lugar que sonhei muito estar. Faço caminhada na orla, vou a bar, vou à praia me sentindo muito mais seguro. E poder voltar às atividades presenciais no meu trabalho, ficar mais próximo dos colegas, ajudar nesse momento delicado é muito importante”, disse, entusiasmado.
O médico continuará sendo acompanhado pela equipe responsável pelos testes por dois anos. O objetivo é medir se o voluntário desenvolveu algum problema de saúde e medir se a quantidade de anticorpos gerada pela vacina se mantém estável ou tem queda brusca com o tempo. Ele voltará ao centro de pesquisa da Osid em mais quatro ocasiões neste período, para consultas médicas.
Apesar de considerar os resultados promissores, Risvaldo alerta a população que não é hora de relaxar nos cuidados com a pandemia.
“É importante que as pessoas continuem evitando aglomerações, se higienizando, respeitando protocolos porque a pandemia ainda não acabou. É importante pensar principalmente nos profissionais de saúde. Todos os hospitais mudaram a forma de trabalho. Isso causa estresse profissional e psicológico muito grande aos profissionais de saúde e aos pacientes.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.