19/09/2012 - 21:00
Pelo menos duas vezes por semana, o executivo paulista Amador Rodriguez, 51 anos, diretor de serviços da Serasa Experian, encerra o expediente impreterivelmente às 18 horas. O motivo para tamanha pontualidade é o curso de técnicas circenses que ele frequenta na sede da empresa, no bairro do Planalto Paulista, na zona sul de São Paulo. Nessas ocasiões o executivo deixa de lado seu traje cotidiano, composto pela clássica combinação de terno e gravata, para se vestir, literalmente, de palhaço, daqueles que usam uma bola vermelha no nariz. A partir daí, o profissional sisudo, que comanda uma equipe de 900 profissionais na maior empresa de análise de crédito do País, assume uma outra personalidade: a do palhaço Adamastor.
Dupla personalidade: semanalmente, Rodriguez, diretor da Serasa, troca o terno pela fantasia
de palhaço e vai para o curso de arte circense mantido pela empresa
O nome faz referência ao apelido que recebeu de seus amigos na época de faculdade. “Foi uma oportunidade que encontrei de mostrar meu lado mais descontraído e quebrar a rotina”, afirma Rodrigues, que há 11 anos participa do programa Magia do Riso, por meio do qual divide o palco com outros 20 funcionários da Serasa. Casos como o de Rodriguez são retratados no livro Felicidade S.A., que será lançado na terça-feira 18. Nele, o jornalista Alexandre Teixeira mostra como as pessoas podem ser felizes no ambiente de trabalho e como as empresas estão inserindo a satisfação de seus funcionários em sua estratégia de crescimento. Tudo contado por intermédio de personagens, entrevistados pelo autor durante os 12 meses em que se dedicou integralmente à produção da obra.
“A cada dia, o papel do dinheiro na nossa relação com o trabalho vem perdendo importância”, afirma Teixeira. “As pessoas buscam um sentido para o que fazem.” O tema sobre o qual somente mais recentemente o mundo corporativo e a literatura empresarial vêm se dedicando é motivo de questionamentos desde os primórdios da humanidade. Filósofos como o grego Epicuro, o hindu Sidarta Gautama, mais conhecido como Buda, e o francês Blaise Pascal elaboraram verdadeiros tratados a respeito. Coube a Pascal uma das definições mais emblemáticas. “A busca da felicidade é que motiva as ações de todos os homens. Mesmo dos que tiram a própria vida.” É exatamente no desenvolvimento de ferramentas capazes de motivar ainda mais os trabalhadores que os profissionais de gestão de recursos humanos vêm se debruçando.
Mundo corporativo: livro escrito pelo jornalista Alexandre Teixeira conta histórias saborosas de empresas
que cresceram apostando na qualidade de vida dos funcionários
Afinal, felicidade rima com lucratividade. Pesquisa do Instituto Gallup estima que as empresas dos Estados Unidos perdem US$ 300 bilhões por ano com a queda de produtividade, em função da baixa motivação de seus trabalhadores. “Pessoas felizes são mais dedicadas, mais criativas,têm mais energia e se mantêm produtivas por mais tempo”, diz Marília Silvério, gerente de Comunicação Interna e Cultura Organizacional da Serasa Experian. “Existe uma relação direta e comprovada entre a felicidade dos profissionais, a satisfação dos clientes e os resultados de negócio.” Para reverter esse quadro, nem sempre o caminho mais fácil é o reajuste de salário, o aumento no bônus anual ou outra vantagem financeira.
Rodriguez, por exemplo, viu no projeto da Serasa a chance de realizar o desejo de fazer um trabalho social. Isso porque o curso de técnicas circenses tinha como meta formar uma trupe de empregados da Serasa para se apresentar em instituições de caridade. “Esse tipo de experiência, além de ser extremamente enriquecedor, estabelece uma relação de cumplicidade entre os integrantes da equipe”, diz. Segundo Teixeira, o universo de empresas no Brasil que enxergam a felicidade de seus profissionais como uma oportunidade de crescer ainda é pequeno. “Mas, à medida que os resultados ficam mais evidentes, é inevitável que a questão passe a ganhar mais força e se transforme em um diferencial competitivo”, afirma o autor.