Após investir em inovação em 5G e inteligência artificial (IA), a Samsung agora mira democratizar esses dois pilares, fazendo com que ambos não sejam mais exclusividade dos modelos de ponta.

A companhia lançou oficialmente nesta quinta-feira, 10, o Samsung Galaxy A06 5G. Anteriormente o modelo só operava como 4G e, oficialmente, é o smartphone mais vendido do Brasil, segundo dados internos da empresa.

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Apesar do salto tecnológico no modelo, a companhia quer manter preços atrativos para chegar a um público maior, de olho nos ‘desafios da renda no Brasil’. O preço sugerido do smartphone é de R$ 1.099, mas com parcerias com operadoras o aparelho deve chegar ao consumidor por cerca de R$ 899.

Durante coletiva com jornalistas em Brasília nesta quinta, 10, Gustavo Assunção, Vice-Presidente Sênior da Samsung no Brasil, frisou que o foco da empresa no momento é aumentar a acessibilidade às tecnologias de ponta, fazendo com que inteligência artificial e 5G não fiquem no topo da pirâmide do portfólio da empresa.

O executivo brincou que o modelo do Galaxy A06 5G inclusive se ‘assemelha fisicamente’ ao Galaxy S25 – que não sai por menos de R$ 4 mil atualmente.

“O pilar da Samsung é inovação, mas olhamos para isso sob o ponto de vista democrático. O 5G é uma agenda do governo e da Anatel, e acho que o Brasil, quando comparamos com outros países, tem uma agenda avançada em termos de infraestrutura de 5G”, disse.

Dados exibidos durante o encontro apontaram que atualmente a esmagadora maioria dos aparelhos no Brasil ainda é 4G, ao passo que menos de 20% são 5G.

“Sempre houve um pleito das operadoras com relação a aparelhos mais acessíveis. Quando você vê a base de assinantes [de planos de telefone] ativos, nos dados até fevereiro, 16% usam 5G. O 4G ainda é predominante”, revelou assunção.

A decisão da gigante coreana de trazer um aparelho mais acessível ao mercado foi porque, vendo os dados do mercado, constatou que a grande barreira para uma maior adesão ao 5G era o preço. Entre janeiro e fevereiro de 2025 o preço médio de um smartphone 5G no Brasil ficava em torno de R$ 2.780, ao passo que o 4G tem um preço médio de cerca de um terço disso, em R$ 900.

Samsung e Anatel miram ‘golpe no mercado cinza’

A iniciativa da Samsung de tornar uma tecnologia mais acessível também vai na toada de uma agenda das companhias do setor em conjunto com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel): a de reduzir a venda de produtos originais por canais não oficiais, geralmente sem pagamento de impostos e sem garantia no país – o chamado ‘mercado cinza’.

Carlos Baigorri, presidente da Anatel, que também esteve presente no encontro, revelou que o problema já foi maior e que a agência tomou medidas nos últimos meses para combatê-lo.

Em um passado recente, segundo ele, o mercado cinza chegou a beirar 25% dos celulares em território nacional – ou seja, um a cada quatro celulares comprados tinha origem duvidosa. Hoje, Baigorri relata que esse dado fica em torno dos 13%.

O presidente da Anatel ainda destaca que o novo produto da Samsung deve ser um passo largo para uma adesão maior do 5G pela população – justamente por conta do preço acessível ter sido a prioridade.

“O que temos percebido com o 5G no Brasil é que, por mais que a infraestrutura esteja disponível em 1.225 cidades, para praticamente 80% da população, o principal desafio para a adoção é o acesso ao smartphone. O Brasil tem desafios do ponto de vista de renda. Certamente com um smartphone abaixo de R$ 1 mil, isso vai potencializar a adoção do 5G no Brasil”, disse o presidente da Anatel.

Sem impactos previstos pelo tarifaço de Trump

Indagado sobre os impactos do tarifaço de Donald Trump, Assunção frisou que a companhia segue cautelosa e não tem ‘nenhuma decisão tomada’ no momento atual. O crescimento no Brasil, segundo o executivo, deve crescer, mas a dada a volatilidade das decisões de Trump, a visão é de que ‘é muito cedo’ para bater o martelo sobre temas importantes.

Com o cenário atual, ainda é debatida a possibilidade de uma ascensão da coreana globalmente, como se a guerra comercial fosse, indiretamente, um presente do republicano na Casa Branca à empresa.

Isso, considerando que a Samsung tem uma produção de semicondutores em solo americano e, por conta disso, não teria incidência das tarifas. Além disso, a Coreia do Sul está no rol de países cujas tarifas anunciadas inicialmente não são tão volumosas.

Na contramão, o Vietnã – onde a Apple fabrica os iPhones – está no topo do ranking de maiores tarifas anunciadas. Segundo a Rosenblatt Securities, as medidas anunciadas por Trump há pouco – e pausadas por 90 dias – podem aumentar o preço do iPhone de modelo básico de US$ 799 para US$ 1.100.

Nesse contexto, a Samsung, que foca em preços mais atrativos, poderia abocanhar uma fatia de mercado da companhia chefiada por Tim Cook.

*O jornalista viajou a convite da Samsung