Filmes de sucesso ajudam a introduzir novas manias no cotidiano. Em O Último Samurai, com estréia prevista no Brasil para o próximo dia 16, Tom Cruise vive no fio da navalha em meio aos lendários guerreiros que dominaram o Japão feudal por quase mil anos. Não se trata, como ensina o antigo chavão, da ficção imitando a realidade ? mas modernos samurais começam a invadir o Brasil na pele de empresários e executivos que utilizam os ensinamentos do kenjutsu, a arte do manejo da espada, para vencer nos negócios. ?Uma situação de negociação comercial é muito parecida com uma situação de combate?, resume Marcelo do Ó, presidente da Novo Nordisk Brasil, multinacional da indústria farmacêutica e praticante da filosofia samurai. ?Uma detalhe fundamental no kenjutsu é o conceito do golpe perfeito, desferido com o mínimo necessário de esforço, na hora exata?, diz Marcelo. ?Isso mudou meu modo de enfrentar os concorrentes.? Há algum tempo, ele e um assessor depararam-se
com seis executivos bem preparados, de diferentes áreas. Usando postura, concentração e determinação orientais, diz ter conseguido os resultados esperados. ?Os sentidos ficam evidentemente mais aguçados?, afirma.

Marcelo do Ó freqüenta o Instituto Niten, em São Paulo, o único no País a ensinar o kenjutsu. Seus mestres representam o Niten Ichi Ryu, estilo criado por Miyamoto Musashi, o maior samurai da história (1584-1645) e autor de O Livro de Cinco Anéis, obra sobre estratégia, espécie de bíblia dos empresários japoneses. ?O Niten foi criado há dez anos com o objetivo de passar modo de vida e culturas japonesas e dos samurais para os brasileiros?, diz o médico do esporte Jorge Kishikawa, de 40 anos, fundador do instituto e praticante do kenjutsu desde os seis. Esta filosofia é aplicada em sua família há tempos: seu pai lutava e seu avô era mestre do arco e flecha, outra modalidade samurai. Para difundir esses ensinamentos, ele criou o método KIR, Ken (espada) Intensive Recuperation, cujo objetivo básico é recuperar o potencial oculto nas pessoas.

Atento ao interesse dos executivos, ele lançou o KIR Empresarial, criado há quatro anos, onde instrutores do Niten fazem palestras e workshops em empresas. O Instituto Niten já ministra seus cursos em 13 Estados brasileiros e não pára de crescer. Gilberty Miglioli, dono da construtora Engesul, do Mato Grosso do Sul, pratica o esporte há quatro anos. Morando em Campo Grande, o empresário costumava pegar um avião a cada 15 dias para fazer treinos intensivos em São Paulo. Depois de dois anos treinando ele resolveu parar com esta ?ponte aérea?: agora coordena uma unidade do Niten em sua cidade. ?Meu pai e meu tio eram sócios e resolveram separar a empresa?, diz. ?Não houve brigas, mas foi um processo muito desgastante e o kenjutsu me ajudou a enfrentar isso. Imagine como éramos lerdos, uma empresa familiar atuando apenas regionalmente.?

As mulheres também aderiram à técnica milenar. Milena Ribeiro, aluna do curso de Administração Pública da FGV de São Paulo, pratica há cerca de um mês o manejo do bastão, o jojutsu, outra arma característica dos samurais. ?Me sinto muito bem fazendo isso, nem parece que cada aula dura três horas?, diverte-se. A luta funciona de uma forma catártica para o praticante. A proteção (acompanhe no quadro abaixo) garante segurança contra ferimentos e atrai praticantes. ?Em qual outro esporte você pode bater no adversário sem a preocupação de machucá-lo??, pergunta Jorge Kishikawa. Nesse caminho, num País que deve muito de seu crescimento aos imigrantes japoneses, os empresários olham para trás em busca da bem-sucedida e charmosa filosofia oriental.

O EQUIPAMENTO
? A armadura dos samurais é dividida em elmo, escudo e luvas. Preço: US$ 800 a US$ 1.200

? O iniciante no kenjutsu desembolsa ainda R$ 400 pelo
equipamento que inclui espadas de bambu e uniforme

? As espadas de madeira, as mais usadas, custam entre
R$ 140 e R$ 200. As espadas de metal servem apenas para decoração. Mesmo não tendo corte, são armas perigosas e só os muito experientes têm permissão para manejá-las.