05/04/2022 - 12:49
Mencionar a cidade russa de Togliatti remete de imediato à gigantesca fábrica de veículos Avtovaz, onde se produz o lendário modelo Lada. Devido às sanções internacionais, seus trabalhadores agora temem uma queda em seu nível de vida.
De um pequeno apartamento do bairro Avtozavodsky, nas proximidades da montadora, é possível ver funcionários sentados à mesa de seu sindicato, o Edinstvo.
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“É uma cidade-fábrica. Todo mundo trabalha, ou para a fábrica, ou para a polícia”, disse Alexandre Kalinin, 45 anos, há 15 na Avtovaz, gigante do setor automotivo do qual a aliança Renault-Nissan controla 68%, junto com o Estado russo.
“Para Togliatti, a fábrica é tudo. Toda cidade foi construída ao seu redor” na época soviética, conta Irina Mialkina, de 33, que trabalha no depósito de reposição há 11 anos.
A construção da fábrica começou em 1966, com o apoio da Fiat, nesta cidade batizada com o nome do líder comunista italiano Palmiro Togliatti.
A região conheceu a glória na época soviética; o caos, nos anos 1990; e um renascimento, nos anos 2010, com a Renault.
Com a ofensiva russa na Ucrânia e as sanções econômicas internacionais, Togliatti e seus trabalhadores se preparam para um período sombrio.
Peças de reposições já não estão chegando. Os funcionários se encontram em situação de desemprego técnico e recebem um terço do salário. Irina, por exemplo, agora ganha 13.000 de seus 20.000 rublos mensais, ou seja menos de 140 euros.
Os empregados foram obrigados a tirar suas três semanas de férias de verão em abril, enquanto a Renault busca uma saída para Avtovaz.
Nenhum diretor do gigante industrial russo quer falar sobre o assunto. E, no momento em que a AFP filmava nos arredores da fábrica, seguranças chamaram a polícia, que levou os jornalistas para a delegacia.
Apesar de ainda não haver demissões, muitos funcionários se veem obrigados a procurar outro emprego.
– Partir –
A derrocada de Avtovaz seria também de uma parte da história industrial russa.
Em uma garagem subterrânea, homens de uniforme azul trabalham em um Lada Niva dos anos 1980, o mítico 4×4, cuja lataria recém-pintada reluz um vermelho brilhante.
“Desde a infância, toda minha vida está ligada a esta fábrica. Meu tio trabalhou lá nos anos 1970, depois meu pai, minha mãe e eu seguimos o mesmo caminho (…). Não havia outra opção, tudo está relacionado com essa empresa”, disse Sergueï Diogrik.
Aos 43 anos, ele se dedica ao Lada History Club, que reúne apaixonados por este carro soviético do mundo inteiro. Ele já trabalhou com mecânica, mas hoje atua com a restauração de Ladas antigos.
“A produção era intensa. No início dos anos 1980, chegou ao recorde de 720 mil carros por ano”, lembra-se, contra os cerca de 300 mil veículos produzidos em 2021 em Togliatti, conforme o consultoria Inovev.
O pesquisador Andrei Yakovlev, da Alta Escola de Economia de Moscou, prevê que Avtovaz “se concentrará em modelos, cuja produção será totalmente local”, e depois “vão procurar os chineses”.
Avtovaz e sua fábrica devem levar, no entanto, de dois a três anos para conseguirem se reerguer.