06/06/2012 - 21:00
As pequenas e médias empresas talvez sejam o principal símbolo da situação desoladora em que a Espanha se encontra. Com as torneiras do crédito fechadas pelo sistema bancário, mais de 500 mil companhias encerraram suas atividades desde o estouro da crise, em 2008, segundo levantamento do jornal americano The New York Times. O quadro é ainda mais dramático em uma economia que, além de registrar o maior desemprego da Europa (quase 25%), tem 80% dos seus postos de trabalho gerados exatamente por essas pequenas lojas e indústrias.
O primeiro-ministro Mariano Rajoy, eleito em novembro do ano passado sob a esperança de que dias melhores viriam, até agora não conseguiu colocar a economia nos trilhos – ao contrário, todas as projeções pioraram nos últimos seis meses (leia quadro). Pressionado por investidores que cobram juros de quase 7% ao ano para rolar a dívida soberana, Rajoy fez, na segunda-feira 28, um apelo para que o Banco Central Europeu (BCE) ajude as economias mais frágeis por meio da compra de papéis podres. “Precisamos de uma defesa clara, convincente e enérgica do euro”, afirmou o primeiro-ministro espanhol.
De cabeça baixa: diante de protestos, presidente do BC espanhol, Fernández Ordóñez, sai do governo.
Apesar da situação desesperadora, Rajoy se recusa a pegar um empréstimo do FMI e do BCE nos mesmos moldes de Grécia, Irlanda e Portugal, que têm de seguir à risca uma cartilha fiscal. Com bancos debilitados e um déficit orçamentário crescente, a Espanha vem sofrendo sucessivos rebaixamentos pelas agências de classificação de risco. Para evitar uma maior corrida bancária – em abril, os saques totalizaram € 31,4 bilhões –, o governo está promovendo mais uma reestruturação no setor, com fusões e injeções de recursos. “Ao contrário do sistema bancário português, que já foi inspecionado, há dúvidas sobre como será a recapitalização dos bancos espanhóis”, diz Carlos Andrade, economista-chefe do Banco Espírito Santo, em Lisboa.
Na semana passada, em meio a fortes turbulências do mercado, protestos de jovens e isolado pelo governo, o presidente do Banco Central, Miguel Fernández Ordóñez, resolveu antecipar em um mês a sua saída do cargo. Enquanto isso, por aqui, já é possível sentir os efeitos da crise espanhola. De janeiro a abril, o volume de investimentos diretos hispânicos caiu 84%. Embora a prioridade das companhias espanholas, no curto prazo, seja enviar dinheiro para a matriz, o rei Juan Carlos desembarca no País nesta semana para deixar claro que o mercado brasileiro continua sendo estratégico para a Espanha – hoje e, principalmente, quando a crise passar.