14/05/2008 - 7:00
COM UMA ÁREA POUCO maior que Mato Grosso do Sul, o departamento boliviano de Santa Cruz responde por 33% do PIB boliviano, de US$ 10 bilhões, e 72% da produção agrícola. Se fosse um país independente, Santa Cruz teria indicadores bem diferentes da Bolívia, o país mais pobre da América do Sul. Por isso, o movimento autonomista, que por enquanto reivindica apenas uma maior independência para administrar a riqueza gerada na região, é rechaçado fortemente pelo governo central, que acusa os líderes de promover a divisão no país. É em Santa Cruz e no departamento de Tarija que se concentram os campos de gás, inclusive os investimentos da Petrobras, que investiu na região mais de US$ 1,5 bilhão. É também onde se concentra a produção de soja, outra fonte de riqueza para o país. No domingo 4, 80% dos eleitores votaram pela autonomia. Em Tarija, Beni e Pando, os eleitores farão a escolha em junho. Nesses departamentos, a pressão pela autonomia é ainda maior, principalmente após a descoberta do campo de Margarita, que pode ter algo como 20% das atuais reservas do país. Somente em royalties advindos da venda de hidrocarburetos produzidos na região, o governo central de La Paz recolheu US$ 720 milhões no último ano. Margarita acrescentaria outros US$ 100 milhões a essa conta. Os partidários da autonomia negam que o movimento seja separatista. “É incorreto e prejudicial ao nosso movimento insistir na mentira de que queremos deixar de ser bolivianos”, disse à DINHEIRO Rubem Costas, governador de Santa Cruz. “Temos orgulho de nossa nacionalidade, mas não concordamos com as políticas sociais demagogas do presidente Evo Morales.”
DIAS ATRÁS, 80% DOS ELEITORES VOTARAM PELA AUTONOMIA
Com tantos problemas institucionais, não espanta que o clima entre empresários seja de insegurança e receio. Dados da Unctad mostram que o investimento estrangeiro vem caindo na Bolívia – assim como em outros países nacionalistas como Venezuela e Equador -, atingindo um estoque de pouco mais de US$ 3 bilhões. Pelas contas da Câmara Nacional de Comércio Boliviano- Brasileiro, com seus 82 associados, os investimentos brasileiros no país vizinho somam pouco mais de US$ 100 milhões, excluídos os recursos da Petrobras. São, a grosso modo, projetos de engenharia, como estradas tocadas pela Queiroz Galvão, e maquinário agrícola. “O momento é de apreensão e incerteza em relação ao que mais pode vir de surpresas desse governo”, explica José Eneas Bueno, presidente da Câmara.
“Mesmo que não haja sinalização de separatismo, é difícil concretizar investimentos numa região que está, na prática, sub judice”.