Se o meio é a mensagem, como pontificava Marshal MacLuhan nos anos 1960, o Vaticano está à frente de muita empresa moderna ? no avesso do comportamento da Igreja diante de questões como o homossexualismo e o uso de camisinha. O site da Santa Sé na internet (www.vatican.va) funciona desde 1995. Na semana passada, às vésperas do início do conclave, no dia 18, foi divulgado um vídeo com imagens inéditas sobre a cerimônia de sucessão de João Paulo II. As cenas mostram as cédulas e o incinerador de onde emanará a fumaça branca. Mas o que chamou a atenção foram os detalhes das instalações do Domus Sanctae Marthae, dentro do Estado do Vaticano, o hotel de US$ 20 milhões, com 108 suítes e 23 quartos simples, mandados construir pelo Papa em 1992. É exagero dizer que se trata de um endereço luxuoso, mas é um tremendo avanço diante do franciscanismo a que tradicionalmente são submetidos os cardeais romanos. O saguão de entrada é ensolarado. O chão é de mármore. Os quartos, simples, são claros. Têm televisor (que serão retirados durante o período de sigilo compulsório do conclave). E, novidade das novidades, ostentam banheiros simples mas limpos. Uma revista italiana, a Expresso, não perdeu a chance e cravou: ?Milagre no Conclave: os Cardeais terão chuveiro?.

A história ensina que chuveiros representam, sim, um agrado que merece beatificação. Em 1978, quando foram alçados ao trono de Pedro os papas João Paulo I e João Paulo II, as instalações do Vaticano ainda eram singelas. As camas foram alugadas de um colégio de missionários em Roma. As lâmpadas, amareladas, mal permitiam a leitura. Tomava-se banho em bacias quase medievais. Um cardeal boquirroto, o italiano Silvio Oddi, já falecido, teve a coragem de descrever o que se passou nos corredores a caminho da Capela Sistina. ?Éramos quase todos velhos, com problemas de próstata, e havia um banheiro para cada dez pessoas?, disse Oddi. ?Eu dormia perto do toalete, mas vi homens cansados atravessando 70 metros para alcançar os aposentos íntimos, e eles estavam invariavelmente ocupados.? Cabe lembrar que já foi pior. Em 1271, depois de três anos de Sé Vacante, católicos ansiosos instalaram os príncipes da Igreja em quartos fétidos, sem pão e água, de modo a acelerar a escolha. Doses extras de motivação foram acrescentadas com a retirada do teto onde se realizava o Conclave, e depois de três meses de chuva e sol, surgiu o nome de Gregório X.

Prevê-se, agora, uma eleição mais rápida, apesar do conforto da santa hospedagem. Paulo VI foi escolhido em três dias. João Paulo I, em apenas dois. João Paulo II, em três. A velocidade, dizem vaticanistas de reputação, transformou-se numa necessidade nos tempos modernos, em que o vazamento de informações é um risco real, com a invasão dos celulares e e-mails. Mas Karol Wojtyla, antes de morrer, anunciou, na Universi Dominici Gregis, a constituição apostólica que dita as regras da eleição de seu sucessor: ?Se na eleição do Romano Pontífice fosse perpetrado ? que Deus nos livre disso ? o crime da simonia, delibero e declaro que todos aqueles que se tornarem culpáveis do mesmo incorrem em excomunhão?. Soa atemporal, parece texto extraído das aventuras religiosas de O Código Da Vinci, mas é neste ritmo que os 115 cardeais elegerão o novo papa ? dois deles, doentes, perderão a belíssima chance de conhecer o Sanctae Marthae.

De onde virá a fumaça

URNAS: São circulares, com bordas feitas de ouro (à esq.). No tampo há imagens religiosas

INCINERADOR: A fumaça branca indica novo papa. Enquanto nào se chegar a 2/3 dos votos, haverá fumaça negra