30/11/2025 - 9:00
A Andra, uma das maiores varejistas de materiais elétricos do Brasil, se prepara para comemorar meio século de operação de 2026. E para coroar as festividades de seus 50 anos, a empresa nascida em uma pequena loja na região da Santa Efigênia, na região central de São Paulo, já traça seus planos para se aproximar dos R$ 2 bilhões em vendas no próximo ano.
Em uma rara entrevista, Carlos Ferreira Rodrigues, o grande responsável por conduzir os negócios da empresa, recebeu a IstoÉ Dinheiro no escritório da companhia, no bairro da Barra Funda, para uma conversa exclusiva. Aos 71 anos, seu Carlos, como prefere ser chamado, lembra de quando comprou a empresa, em 1982, seis anos após seu nascimento.
Paulista, de ascendência portuguesa e espanhola, seu Carlos não foi o fundador da Andra. Fundada em 1976, a empresa de uma única loja na rua Santa Ifigênia enfrentou uma crise societária no início da década de 80. Os três sócios decidiram se desfazer da empresa e venderam o negócio para seu Carlos em 1982.
Mas não foi com a compra da Andra que seu Carlos entrou no varejo de materiais elétricos. Uma década antes, o amigo de colégio, Sérgio Gonçalves, o convidou para fazer uma sociedade em uma loja de materiais elétricos. A ideia era vender diretamente ao público a produção da fábrica de cabos que o pai de Sérgio tinha.
A compra da Andra
Aos 19 anos, seu Carlos não conseguiu entrar como sócio. “Ele me convidou para ser sócio, mas eu não tinha condição. A única coisa que eu tinha na época era um fusca 71. Então, ele me chamou para ser o gerente da loja. Eu acabei indo para ganhar a mesma coisa que eu ganhava e fiquei com ele durante 10 anos”, disse seu Carlos.
Com a credibilidade conquistada no mercado e experiência de uma década no varejo de materiais elétricos, seu Carlos fechou a compra da Andra e passou a ser dono do próprio negócio. Com o tempo, a necessidade de crescer bateu à porta. Da primeira para a segunda loja se passaram oito anos. Porém, mais do que um plano de expansão, a segunda unidade surgiu para suprir uma demanda da loja número um.
“Nós tínhamos um problema de espaço para ter mais estoque”, diz. A solução temporária foi alugar os fundos de um estacionamento na rua General Osório. A área de 600 metros quadrados adicionais garantiram um certo fôlego num primeiro momento, mas a estratégia adotada pelo empresário exigia ainda mais espaço: muito estoque.
Naquela época, manter grandes quantidades de produtos estocados era uma vantagem competitiva. Com as altas taxas de inflação da década de 80 e início dos anos 90, o produto armazenado não perdia valor como o dinheiro em caixa. Além disso, a disponibilidade imediata de entrega dos pedidos era também um grande diferencial da Andra.
“A Andra sempre teve em seu DNA ter muito estoque. Enquanto meus concorrentes compravam para revender, eu já tinha feito as compras meses antes. Hoje, mudamos um pouco isso, mas cheguei a ter estoque para atender a demanda de até um ano. Naquela época a inflação ajudava, mas hoje temos para dois ou três meses”, conta.
A loja número três nasceu fora da Santa Ifigênia, o grande centro de materiais elétricos e eletrônicos de São Paulo. Um amigo corretor ofereceu um galpão com cerca de 1 mil metros quadrados na Casa Verde, a cerca de 500 metros da Marginal Tietê. O plano era usar o espaço para desafogar o estoque da General Osório, já pequeno àquela altura, e reservar uma área para construir a terceira loja.
Entre os altos e baixos dos planos econômicos no Brasil da época, a Andra não parou. Até o fim do ano, a empresa inaugura a unidade de Caieiras. Entre fevereiro e março de 2026 será a vez de Guarulhos, na Grande São Paulo e até o meio do ano que vem, uma nova loja será aberta na Zona Sul de São Paulo, na região do Jabaquara.
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O novo comando da Andra
Depois de comandar a empresa por tanto tempo, a rotina de seu Carlos tem mudado nos últimos anos. Desde a pandemia, o empresário trocou o trabalho de segunda a sábado por um ritmo menor. Cuidando mais de si e da família, seu Carlos costuma visitar uma das lojas da Andra todas as terças-feiras.
Às quartas, o dia é dedicado às lojas na rua Santa Ifigênia. Nas quintas-feiras, seu Carlos visita o escritório corporativo, onde ficam as áreas administrativas da Andra. Foi exatamente em uma quinta-feira que ele recebeu a IstoÉ Dinheiro. Finalmente, às sextas, ele fica em casa analisando os relatórios de desempenho de todas as lojas.
Com apenas uma filha, que não trabalha na empresa, seu Carlos tem passado a gestão da Andra para a equipe que ele mesmo formou ao longo dos últimos anos. Seu braço direito é Sandro Melo da Silva, funcionário da empresa desde 1985, quando entrou aos 15 anos.

“Entrei como entregador. A minha primeira promoção em registro foi para o cargo de Office Boy. O que significa que até o Office Boy mandava em mim naquela época”, brinca Silva.
O executivo participou praticamente de todo processo de crescimento da Andra. A empresa que avançou no mercado abrindo lojas e fazendo aquisições de concorrentes deve fechar 2025 com uma receita de R$ 1,4 bilhão. O resultado vai representar um crescimento de 16,7% sobre os R$ 1,2 bilhão do ano passado. Para 2026, as projeções da companhia apontam para uma receita total de R$ 1,8 bilhão.
Uma das aquisições mais estratégicas foi a compra da Fecva, em 2024. A empresa é especializada no fornecimento de material elétrico para o setor industrial, segmento onde a Andra não atuava até então. No novo mercado, a empresa passa a concorrer diretamente com a francesa Sonepar, que vem consolidando o segmento nos últimos anos.
“Hoje atuamos com todas as possibilidades de clientes do mercado. Eu tenho desde o consumidor que vai em nossas lojas comprar lâmpadas até as indústrias que demandam contratos de fornecimento”, afirma Silva.
Atualmente, 62% da receita da Andra vem da venda de fios e cabos elétricos e infraestrutura industrial. Os demais 38% são divididos entre linhas de maior valor agregado como iluminação, automação, ferramentas e o portfólio residencial, composto principalmente por interruptores e tomadas, com uma atuação focada apenas no Brasil, em três Estados – SP, SC e PR. E a expectativa é explorar ainda mais o mercado doméstico antes de partir para o exterior.
Em um mercado onde a disponibilidade de produto é fundamental, a logística passa a ter um peso fundamental. No ano passado, a empresa inaugurou seu novo centro de distribuição em Cajamar, com 22 mil metros quadrados, o que permitiu aumentar em cinco vezes a capacidade de armazenamento da companhia.
“Pela primeira vez em nossa história, nossa logística tem fôlego para suportar três vezes o nosso atual faturamento. Até então, o nosso comercial crescia e a logística corria atrás. Agora isso se inverteu e nos dá tranquilidade para pensar em projetos de aquisição e expansão”, afirma Silva.

