O paulista Fernando Haddad (PT) e o carioca Tarcísio de Freitas (Republicanos) saberão neste domingo, após a apuração das urnas, quem será o novo governador do Estado de São Paulo. De um lado, um professor. De outro, um engenheiro. Dois personagens com trajetórias e visões distintas sobre como o estado mais rico e populoso do País deve ser administrado. Ex-prefeito da capital, Haddad demonstrou durante a campanha ter mais conhecimento dos desafios da gestão pública. Já Freitas surfou na maioria bolsonarista do interior para consolidar seu nome.

Apesar de alguns escorregões – como o tiroteio mequetrefe em Paraisópolis, o plano de acabar com as câmeras da farda da polícia militar e a intenção de privatizar a Sabesp –, Freitas se empenhou para aprender rápido. Mudou o sotaque, se esforçou para a puxar o “r” ao estilo piracicabano e até aceitou chamar o “bixcoito” de bolacha. Um desafio imenso tanto para quem fala, quanto para quem escuta.

9 dos 12 Estados com 2º turno vão ter disputa entre aliados do PT

No campo político, seja qual for o resultado, a definição marcará o fim de um ciclo de 28 anos de hegemonia do PSDB no estado. Sem fazer juízo de valor ou apontar o dedo para os culpados, o fato é que o partido que um dia sonhou em eleger um novo Fernando Henrique Cardoso termina esta eleição como um dos maiores derrotados da corrida. Nem mesmo o mais tucano de todos os tucanos, Geraldo Alckmin, conseguiu ficar. Por razões óbvias, o vice de Lula está em outra sintonia.

Na esfera econômica, a definição do novo governador representará a passagem de bastão do estado mais bem resolvido do País sob a ótica das contas públicas. Embora tenha revelado uma fragilidade ética ao lamber as botas de Bolsonaro após a derrota no primeiro turno, o governador Rodrigo Garcia demonstrou firmeza na condução fiscal do estado nos últimos dois anos. Como ele mesmo escreveu em artigo no jornal Folha de S.Paulo, na quinta-feira (27), entregará o estado pronto para um inédito salto de desenvolvimento, com o menor endividamento da história, de 114% da receita consolidada, muito abaixo dos 175% da receita de quatro anos antes.

A despesa com pessoal atingiu o menor percentual em dez anos, com 37,6% da receita corrente líquida, longe dos 46,6% de limite. Em 2019, quando o governador João Doria assumiu o governo, o déficit era de R$ 10,5 bilhões. No Orçamento de 2023, São Paulo tem, de acordo com Garcia, R$ 31,5 bilhões somente para investimentos.

A gestão tucana nas últimas três décadas gerou importantes avanços nos indicadores de desenvolvimento. Há 30 anos, o estado tinha 97% de seus 645 municípios com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo ou muito baixo. Hoje 90% dos municípios paulistas têm IDH alto ou muito alto. No mesmo artigo, o governador reforça que o número de hospitais estaduais mais que dobrou no período, para 103 unidades, e que a mortalidade infantil caiu mais do que na média nacional.

Em contraste com a preocupante situação fiscal do governo federal, com um imenso rombo para resolver a partir de 2023, a engrenagem das contas públicas paulistas está muito bem sincronizada. Sorte para quem vencer nas urnas hoje. Se o próximo governador não fizer nenhuma grande besteira, São Paulo continuará bem pelos próximos quatro anos, seja com bolacha ou com biscoito.

* Hugo Cilo é editor de Negócios e colunista da IstoÉ Dinheiro