16/03/2022 - 18:56
O novo Índice de Cidades Empreendedoras (ICE), mapeamento realizado pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) com apoio da Endeavor sobre o ambiente de negócios nas 100 maiores cidades brasileiras, aponta a queda dos cenários em Brasília e no Rio de Janeiro, que saíram das 10 primeiras posições no ranking geral deste ano. O desempenho do Distrito Federal, que desceu da 5ª para a 69ª posição no levantamento, foi afetado por ter a maior alíquota de ICMS no País (41,4%) e um sistema com alto grau de complexidade burocrática, fatores que impactaram a avaliação de ambiente regulatório, considerado o pior entre todos os analisados. Já a capital fluminense saiu do décimo para o 15º lugar de um ano para o outro, com performances abaixo da média na área de infraestrutura do município, em que se destacaram o elevado valor do metro quadrado comercial e os índices de homicídio, além de queda no acesso a capital humano, que mede a disponibilidade de mão de obra qualificada no mercado. Já São Paulo e Florianópolis (SC) mantiveram seus postos como as primeira e segunda melhores cidades para empreender no Brasil, respectivamente, seguidas por Curitiba (PR), que estreou na terceira posição, e Vitória (ES), que segurou o quarto lugar pelo segundo ano consecutivo.
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Em sua sexta edição, o levantamento avaliou os municípios em sete áreas determinantes para o ambiente de negócios: cenário regulatório, infraestrutura, mercado (desenvolvimento econômico e potencial consumidor), acesso a investimentos, inovação, capital humano e cultura empreendedora (iniciativa). O cenário para o empreendimento no Brasil continua concentrado nas regiões Sul e Sudeste, mesmo no contexto de pandemia, quando 70% das micro e pequenas empresas passaram a integrar a economia digital, segundo o Sebrae.
A iniciativa empreendedora no País está fortemente associada ao comércio varejista, e a retomada das atividades presenciais teve um papel crucial para o renascimento dessa cultura. O número de abertura de negócios foi recorde em 2021, com mais de 3,9 milhões novos empreendimentos. Do total de cadastros, as microempresas – com faturamento anual de até R$ 360 mil – corresponderam a 17%, enquanto os pequenos negócios – com receita de até R$ 4,8 milhões por ano – representaram menos de 2%. As MPEs são 90% das empresas brasileiras, mas movimentam apenas 30% do Produto Interno Bruto, já que a economia fica nas mãos dos grandes.
O setor de franquias refletiu essa recuperação – e concentração – do mercado, com um crescimento de 9% em 2021, voltando ao patamar de 2019, movimentando R$ 185 bilhões em vendas no ano. Em períodos de crise e com desemprego em alta, ascende o empreendedorismo por necessidade, e o modelo das franquias se torna uma alternativa viável. Só no ano passado, foram inauguradas mais de 22 mil unidades no País, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising. Esteve em alta um novo formato de microfranquias, menor e com investimento inicial de até R$ 105 mil, que atraiu 60% dos interessados em abrir negócios.
Ainda que os índices no interior do Sudeste tenham melhorado ou que a cultura empreendedora tenha evoluído em outras capitais, casos de Goiânia (GO) e Maceió (AL), que surgiram no primeiro e no quarto lugar desse recorte, o mercado segue concentrado. Com as barreiras para entrada e consolidação dos negócios, especialmente nessa nova economia, que demanda uma infraestrutura de logística e escoamento do produto para o resto do País, a tendência é que as empresas continuem a se estabelecer nos bolsões do Sudeste. E a menos que a gestão pública e o mercado trabalhem para promover acesso a investimentos e melhorar as condições gerais do mercado, será difícil falar em desenvolvimento do empreendedorismo nacional – com algumas exceções aqui e ali.