14/03/2014 - 21:00
Dois encontros e uma mesma discussão: as queixas à condução da economia brasileira. Enquanto em Brasília empresários pesos-pesados foram convidados para um convescote com o ministro Guido Mantega, no qual puderam finalmente expor suas críticas, economistas tucanos do time que fortaleceu a moeda, alinhavou as regras de responsabilidade fiscal e deu tratos à bola da inflação, segurando seus pulos, não pouparam análises negativas sobre a perda de rumo. A conversa dos “Cavaleiros do Real” se deu no Instituto FHC, em São Paulo, por ocasião do aniversário de 20 anos do plano que mudou o País.
E serviu para repisar o diagnóstico de falhas da “nova matriz econômica” em vigor. A cruzada dos representantes do PIB, que reclamam principalmente do estilo distante de governar e da instabilidade de regras, foi por sua vez mais proveitosa. Esses ganharam promessas de revisão de tributos sobre seus lucros no exterior. Apenas promessas, é bem verdade, mas que soaram como gesto de boa vontade oficial após anos enfrentando medidas que eram adotadas sem consultas prévias aos maiores interessados. Os pais da estabilização – e assim gostam de ser chamados – centraram fogo no tripé de desarranjos monetários: câmbio, carestia e contas públicas.
Estavam, é bem verdade, inevitavelmente imbuídos por um sutil pendor partidário e pelo engajamento na ideia de que seu projeto foi inapelavelmente desfigurado. Sob a liderança do cacique Fernando Henrique Cardoso, que não dourou a pílula e tachou o governo de “autoritário”, economistas de grosso calibre como Armínio Fraga, Pedro Malan, Edmar Bacha, Pérsio Arida e André Lara Resende miraram a munição, principalmente, nas barbeiragens financeiras. Dois ex-presidentes do Banco Central foram direto ao ponto.
Gustavo Loyola, por exemplo: “Perdemos a transparência, reduzimos artificialmente juros, relativizamos o conceito de meta para a inflação e ocorreu intervencionismo exagerado no câmbio”. Armínio Fraga, por sua vez, classificou de “esquizofrênica” a gestão monetária, falando de “grande frustração e grave perigo”. É, guardadas as interpretações políticas, uma análise muito próxima daquela encontrada no campo da produção. Em ambos os polos de frustrados, a mesma conclusão: o País vem perdendo competitividade aceleradamente e algo precisa ser feito com urgência para mudar o ciclo perverso em andamento. As reclamações estão longe de cessar.