03/03/2019 - 8:13
O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, e três diretores da mineradora apresentaram cartas ao Conselho de Administração da empresa solicitando o afastamento temporário do comando da companhia. O conselho se reuniu por teleconferência e aceitou os pedidos.
A decisão foi tomada por causa das pressões de integrantes da força-tarefa que investiga o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que deixou 186 mortos e 122 pessoas desaparecidas. Um documento com o pedido de afastamento deles da direção da empresa, assinado por representantes do Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público Estadual de Minas Gerais (MPMG) e Polícia Federal foi entregue na sexta-feira, 1º, a advogados da empresa.
A força-tarefa pedia ainda que empregados não compartilhassem nenhuma informação profissional com as pessoas cuja saída da Vale foi recomendada. Além do presidente, também integram o grupo citado pela força-tarefa o diretor executivo de ferrosos e carvão, Gerd Peter Poppinga, o diretor de planejamento, Lúcio Flávio Gallon Cavalli, e o diretor de operações do corredor sudeste, Silmar Magalhães Silva.
Na carta, a qual o Estado teve acesso, Schvartsman afirma: “Tomei a decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e a suas famílias, de solicitar a esse Conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento temporário das funções de diretor presidente da Vale”.
Os integrantes da força-tarefa dizem que a atuação dos executivos junto aos empregados estaria atrapalhando as investigações. Além disso, a divulgação pela empresa do acordo para pagamento do auxílio emergencial para os atingidos como uma iniciativa da empresa provocou desconforto. De acordo com o promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais André Sperling, a empresa pretendia pagar o auxílio apenas aos moradores das duas localidades mais atingidas – Parque da Cachoeira e de Córrego do Feijão -, mas foi obrigada a estender a indenização para todos os moradores de Brumadinho.
“Não foi bem uma questão de aceitação da Vale. A Vale viu-se compelida a fazer isso. Ela queria (pagar para os moradores) Parque da Cachoeira e Córrego do Feijão”, disse o promotor.
O Estado teve acesso também a um trecho da carta de renúncia dos três diretores, preparada pelo mesmo advogado. Trecho do documento diz: “Estou convencido de que nesse momento de polarização, o melhor que tenho a fazer, tanto para mim como para a Vale é solicitar o afastamento temporário de minhas funções, até que as autoridades concluam suas investigações e possam apurar, independentemente do meu cargo, de forma técnica, legal e imparcial, as causas e circunstâncias do rompimento da barragem”.
Futuro
Com a saída do grupo, a Vale será conduzida, interinamente, pelos diretores remanescentes, sob o comando do diretor executivo de metais básicos, Eduardo Bartolomeo. Fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast dizem que não há movimentação no mercado, nesse momento, em busca de um substituto.
A mudança definitiva só deve ocorrer em abril, após a Assembleia-Geral Ordinária de acionistas, quando também são esperadas mudanças no Conselho de Administração da companhia, com a redução do peso da Previ, que hoje ocupa quatro assentos no conselho, e o aumento da presença de conselheiros ligados ao setor de mineração.
Em nota divulgada à noite, a Vale confirmou o afastamento de Schvartsman e dos três diretores. Além de Bartolomeo, que será o presidente interino da mineradora, a companhia confirmou que Claudio de Oliveira Alves vai assumir a área de ferrosos e carvão e Mark Travers ficará na função de diretor executivo de metais básicos.
No documento, a empresa afirma que “permanece em prontidão, na busca de um relacionamento transparente e produtivo com as autoridades brasileiras, visando o esclarecimento dos fatos, a reparação apropriada dos danos e a integridade da empresa”.
Avaliação de risco
Na semana passada, a pressão sobre a Vale aumentou também no campo das finanças. A agência de avaliação de risco Moody’s rebaixou a nota da empresa, que perdeu o grau de investimento.
Um segundo rebaixamento, que pode vir da agência Standard & Poor’s, poderia obrigar muitos fundos de investimentos estrangeiros a se desfazerem de ações da empresa.
O papel da mineradora já perdeu cerca 25% de seu valor desde 25 de janeiro, quando aconteceu a tragédia em Brumadinho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.S