A presentado ao mundo como uma opção aos combustíveis derivados de petróleo, o etanol brasileiro nunca teve vida fácil nos fóruns internacionais. Até mesmo ambientalistas de carteirinha torcem o nariz. 

 

As justificativas são muitas, mas a maior corrente alega que separar terras para produção de combustível pode comprometer a produção de alimentos. Na quinta-feira 24, o etanol ganhou um embaixador de peso. 

 

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O ator e o índio: ”A sustentabilidade precisa ser um atributo considerado sexy para as pessoas”

 

Ninguém menos que Arnold Schwarzenegger, ator que ficou mundialmente conhecido no filme “O Exterminador do Futuro” e ex-governador da Califórnia. 

 

Ele foi um dos responsáveis por tornar o mais rico dos 50 Estados americanos  uma grande potência verde. “O governo dos Estados Unidos está cometendo um erro ao manter a sobretaxa sobre o etanol brasileiro”, disse Schwarzenegger. 

 

A pregação em favor do etanol feito de cana-de-açúcar soou como uma boa melodia  para os ouvidos de cerca de 700 empresários, executivos e políticos na abertura do 2º Fórum Internacional de Sustentabilidade, promovido pela Seminars e pelo Lide, do empresário João Doria Jr., realizado em Manaus. 

 

Dentre os palestrantes ilustres, destaque para o ex-presidente dos EUA Bill Clinton e o empresário Richard Branson, do Virgin Group.  A disputa no campo do etanol começou na década de 1980, quando o Congresso dos EUA criou uma sobretaxa de US$ 0,45 por galão (que equivale a 3,79 litros), além de uma tarifa de importação de US$ 0,54, por galão, para a entrada do etanol brasileiro no país. 

 

A medida assegura a competitividade dos produtores americanos de etanol, que usam o milho como matéria-prima. Os subsídios ao setor custam cerca de US$ 6 bilhões por ano aos contribuintes americanos. 

 

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Hasta la vista, baby: Schwarzenegger, ao lado de João Doria Jr., recebe homenagem
de índios tucumãs e o cocar de Jecinaldo Sateré, no Fórum Mundial de Sustentabilidade

 

Em sua pregação ecológica, “Arnie”, como o ator é chamado, cavou diversos espaços para alfinetar figuras proeminentes do Partido Democrata. A começar pelo presidente Barack Obama. 

 

Segundo ele, seu governo erra ao conceder subsídios apenas ao carro elétrico. Hoje, os compradores desses veículos recebem um desconto de até US$ 7,5 mil. 

 

“Quem tem de saber qual é a melhor opção é o mercado”, afirmou. “O governo está privilegiando uma tecnologia quando o ideal seria apostar em todas as fontes sustentáveis ao mesmo tempo.” 

 

A manifestação de apoio de Schwarze-negger foi comemorada por Marcos Jank, presidente da Unica, a entidade que reúne as usinas de cana-de-açúcar brasileiras. 

 

“A posição da Califórnia é muito favorável pelo tamanho de seu  mercado”, diz Jank. O Estado americano consome cerca de seis bilhões de litros de etanol por ano, o equivalente a 25% da produção do Brasil. “Nunca tínhamos visto uma manifestação tão clara de que os Estados Unidos deveriam se mover nessa direção”, diz. 

 

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A Califórnia utiliza mistura de 10% de etanol na gasolina e é favorável ao uso do combustível feito a partir da cana-de-açúcar porque considera que o produzido  a partir do milho, como acontece nos EUA, tem um balanço ambiental ruim.

 

Em sua passagem por Manaus, o republicano Schwarzenegger criticou também o democrata e ex-presidente Al Gore, outro porta-voz da ecologia global. “A sustentabilidade precisa ser um atributo considerado sexy pelas pessoas”, afirmou. 

 

Para ele, o discurso radical afasta as pessoas comuns desse debate. “Segundo a filosofia Al Gore, as pessoas que possuem tevês de LCD, usam carrões ou utilizam banheiras de hidromassagem deveriam se sentir culpadas por consumir muita energia.” Um tom muito diferente, contudo, foi utilizado por Schwarzenegger ao tratar de temas relacionados à política energética brasileira. 

 

Isso ficou evidente quando saiu pela tangente ao ser questionado se era contra ou a favor da construção da hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira (PA). “Não sou um expert nos assuntos de energia hídrica”, desconversou. “Na Califórnia também tivemos problemas na hora de tocar grandes obras que não contavam com a simpatia de todos. Vencemos apostando sempre no diálogo.”

 

Apesar do tom solene durante o debate, Schwarzenegger não deixou de recorrer a sua veia artística para cativar a plateia. Lembrou frases célebres de seu personagem em O Exterminador do Futuro: “Gostaria de dizer hasta la vista, baby! a todos os problemas relacionados à emissão de carbono”, ironizou.