12/11/2008 - 8:00
PERGUNTE A SCOTT MCNEALY O QUE ELE PENSA DA Microsoft. Ele dará a seguinte resposta: “Eu não gasto muito tempo pensando na estratégia da Microsoft. O sr. Ballmer faz isso. Eu me preocupo apenas com a Sun.” A mensagem pode ser encarada como a de um sujeito sincero. Ou como a de um homem que venceu uma batalha e agora trata seu adversário com magnanimidade. Durante muitos anos, Microsoft e Sun Microsystems travaram disputas às vezes surdas, às vezes ruidosas. A empresa de Bill Gates sempre apostou na linha de softwares proprietários, aqueles em que os usuários pagam licença. Já a de McNealy nasceu apoiada no conceito de software livre. Nos últimos tempos, o mercado dá sinal de que caminha rumo ao modelo da Sun. E não é só porque a linguagem de programação Java, desenvolvida pela empresa, está cada vez mais enraizada na maioria dos equipamentos eletrônicos existentes. O conceito ganhou defensores de peso como Google e Mozilla. Mas quem começou o jogo foi Scott McNealy, como contou com exclusividade à DINHEIRO: “As comunidades de desenvolvedores são responsáveis pela propagação do sistema. Mas nos consideramos a estrela guia, os líderes desse movimento”(leia a seguir a entrevista).
Scott McNealy, fundador da Sun: “Nos consideramos a estrela guia do open source”
O Brasil se tornou um dos maiores adeptos de sistemas de código aberto. Ao menos 73% das maiores companhias brasileiras utilizam software livre, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Sem Fronteiras – que recebeu patrocínio da IBM, Itautec, Intel e Red Hat. O País também está entre os líderes de usabilidade do modelo. O desempenho é tão significativo que a Sun pretende criar por aqui um centro de treinamento voltado à formação de mão-de-obra especializada em open source. Além disso, a companhia de McNealy revelou em primeira mão à DINHEIRO que será responsável pela execução do projeto Galileu, financiado pela Petrobras e que será anunciado na próxima quarta-feira. A iniciativa visa à construção da maior base computacional da América Latina, interligando as supermáquinas das universidades PUC-Rio, UFRJ, Ufan e ITA. Com foco em pesquisas aplicadas, o projeto contribuirá para o desenvolvimento da tecnologia e da educação do País. “O código aberto é uma estratégia de negócios-chave para a região de mercados emergentes”, afirma Rodolfo Fontoura, presidente da Sun do Brasil. No quarto trimestre, a receita total da Sun Internacional para a região das Américas foi de US$ 287 milhões – crescimento de 19,1% em relação ao mesmo período de 2007. Só na América Latina, registrou um aumento de 20%. Entre as principais vantagens que explicam o sucesso do open source na região está a financeira. “Seu desenvolvimento é comunitário e, conseqüentemente, os custos são rateados entre os colaboradores, o que o torna muito mais barato”, explica Cezar Taurion, gerente da IBM Brasil. E, no atual cenário econômico, a expectativa de redução nos gastos ganha mais importância. “Quando o dinheiro está apertado, softwares livres se tornam mais atraentes”, disse McNealy.
A trajetória da Sun não foge em nada à regra das empresas instaladas no Vale do Silício, na Califórnia. O ambiente de trabalho, no entanto, é um pouco mais corporativo, se comparado ao dia-a-dia descontraído de companhias como Google e SAS, com direito a máquinas de sorvete e videogame. Mas a peculiaridade da Sun está mesmo em seu fundador. Jogador assíduo de golfe – já disputou, inclusive, uma partida ao lado do premiado Tiger Woods -, a história de McNealy é uma exceção entre os grandes nomes da área. A tecnologia só despertou seu interesse aos 28 anos, quando foi convidado por dois amigos a fundar a empresa. Sob a influencia de seu pai, que na época era o vice-chairman da American Motors Corporation, sua formação foi voltada ao mundo dos negócios. E, de acordo com analistas, foi esse diferencial que fez com que a Sun obtivesse sucesso financeiro logo nos primeiros anos de existência – as vendas saltaram de US$ 9 milhões em 1983 para US$ 39 milhões em 1984. Em seus primeiros contatos com o segmento, McNealy percebeu que os computadores só atingiriam seu potencial máximo trabalhando juntos, em rede. Essa filosofia explica a aposta no software colaborativo. “Nós damos às empresas de telefonia móvel a linguagem Java e dizemos: criem Java para o celular. Eles o fazem e ainda nos pagam pelos royalties. O mesmo fez a Sony com o PlayStation e o Blu-Ray DVD”, diz McNealy. “As pessoas fazem o trabalho para a gente. Existe coisa melhor do que isso?”, questiona sorridente, tomando uma Coca-Cola. Mas apesar do bom humor, o ano fiscal da companhia começa em queda. A Sun anunciou um prejuízo líquido de US$ 1,677 bilhão entre julho e setembro de 2008, ante lucro de US$ 89 milhões registrado no mesmo período do ano anterior.
“O mundo está caminhando para onde sempre desejamos”
Scott McNealy fala sobre o futuro da tecnologia da informação
Como ganhar dinheiro com softwares livres?
Como o Google ganha dinheiro com sistema de busca grátis? Eles vendem qualquer coisa. Como uma empresa de telecomunicação ganha dinheiro oferecendo aparelhos de telefone grátis? Com planos de fidelidade de dois, três anos. Ganhamos dinheiro com suporte.
Por que acredita no modelo open source?
Além de ser mais amigável, pode ser testado e modificado sem pagar nada, é mais seguro. Muitos acreditam que ao manter algo em segredo ninguém irá descobrir uma porta para entrar. Mas cedo ou tarde alguém vai descobrir. Isso porque humanos têm horror de segredos e são muito bons em desvendá-los. Num sistema aberto, temos o mundo de olho no software para garantir que não haja uma brecha para ser invadida. Lembra o caso do Cavalo de Tróia? Se o cavalo fosse feito de vidro, certamente não teriam sido pegos desprevenidos. Deixariam o cavalo para fora da cidade. Essa é a beleza do open source.
Na época do lançamento do Java o sr. foi considerado a maior personalidade da internet. Hoje as estrelas são pessoas como os criadores do Google e do YouTube. Onde o sr. se encaixa nesse novo cenário?
O mundo está caminhando para onde sempre desejamos. Nós damos todo o suporte, software e infra-estrutura para empresas como MySpace, Yahoo, eBay, Google, AT&T, para ajudá-los a ser cada vez mais competitivos. Isso é ótimo. Estamos muito satisfeitos com os resultados.
Como as empresas estão sendo afetadas pela crise?
Quando os bancos estão em situação complicada não quer dizer que as transações serão interrompidas. Apenas serão transferidas para outra instituição. Não vai haver fúria nas transações só porque o setor estará mais concentrado. Os bancos sobreviventes vão usar mais agressivamente a tecnologia para sobreviver a esse momento.
Qual é a importância dos mercados emergentes nesse cenário?
Muito importante. Até porque os países emergentes não têm tendência a ficar presos a modelos de base de dados da Oracle ou sistemas da Microsoft Nossa estratégia é muito parecida com a idéia de estratégia do Brasil, por exemplo.