“Quem disser que a baia de Guanabara estará limpa em menos de 20, 25  anos é um mentiroso”, reconheceu em entrevista à AFP André Corrêa,  secretário de Ambiente do governo de estado do Rio de Janeiro,  ressaltando as “dificuldades financeiras” do Brasil para cumprir  promessas feitas antes das Olimpíadas.

-Tomar banho de mar na baia de Guanabara é uma utopia?

“Depende do lugar. Existem lugares onde se pode cair na água. Eu já  nadei no local onde acontecerão as provas de vela das Olimpíadas. Muito  trabalho está sendo feito nesse âmbito, com investimento de 1,2 bilhão  de reais, mas isso não aparece aos olhos da população. É preciso ir um  pequeno passo de cada vez. Pelas dificuldades financeiras do Brasil,  quem disser que a baia de Guanabara estará limpa em menos de 20, 25 anos  é um mentiroso”.

-A despoluição da baia de Guanabara está em pauta desde a Conferência  das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente de 1992 (Eco92). O que deu  errado?

“Houve um grande erro estratégico de comunicação. Desde aquela  Conferência, foram investidos 2,5 bilhões de reais e disseram à  população que, com esta verba, teríamos uma baia limpa. Quem é militante  nesse tema sabe que essa verba é irrisória para superar os desafios que  temos que enfrentar. Teremos uma baia limpa no dia em que os quinze  municípios dos arredores tiverem um tratamento dos esgotos. Os estudos  mostram, para isso, são necessários 15 bilhões de reais. Por isso o  governo do estado resolveu solicitar apoio da iniciativa privada”.

-Como o senhor avalia as denúncias da ONG Baia Viva, sobre doenças que afetam pessoas que entram em contato com a água da baia?

“A baia não é um corpo homogêneo, existem diversos problemas. Mas a  qualidade da água na entrada da baia, onde acontecerão as provas de  vela, está dentro das normas internacionais. É possível tomar banho  nesta água. Não graças ao esforço do homem, mas graças à grande mistura  de água com o mar. O maior desafio em relação aos Jogos é a questão do  lixo flutuante. É um problema grave. O mais importante, antes de  retirá-lo, é impedir que chegue. Instalamos 15 eco-barreiras e haverá 17  durante os Jogos. Retiramos 280 toneladas de lixo por mês. A população  precisa entender que, quando uma garrafa de plástico é jogada no chão, a  chuva a leva até a baia e nenhum governo pode lutar contra isso. A  educação ambiental é fundamental. Antes dos Jogos, esta exigência em  torno da baia estava praticamente no ponto morto. A sociedade está  começando a acordar”.

-As autoridades falavam em 80% de despoluição em agosto. Na semana  passada, o prefeito do Rio falou em 60%. Qual é a porcentagem?

“Houve um grande equívoco, que gerou falta de credibilidade. Falamos  sobre metas que não tinham apoio financeiro necessário para serem  atingidas. Não vou citar porcentagem nenhuma. O governo de estado e a  população precisam ter os mesmos números. Para isso, em colaboração com  pesquisadores e com o Banco Mundial, estamos lançando uma plataforma  digital para cada cidadão possa acompanhar em tempo real os  investimentos na baia”.

-De quem é a responsabilidade?

“Existem diversos órgãos envolvidos. Os municípios cuidam do lixo. A  Marinha, órgão federal, cuida da poluição na superfície. Eu sou  responsável pelos resíduos industriais. Precisamos de um padrão para  poder agir de forma coordenada. Este desafio de uma governança integrada  é uma prioridade”.