Rolf Börjesson, presidente mundial do grupo britânico Rexam, passa os dias em seu escritório, em Londres, atento ao que acontece no segmento de bebidas. A cada ponto porcentual de aumento no consumo global de refrigerantes, cervejas, sucos, energéticos ou qualquer outro produto envasado em latinha de alumínio ele comemora com especial entusiasmo. Motivos não faltam. O setor ? do qual o conglomerado industrial é o número um do ranking mundial ? colabora com US$ 3 bilhões do total de US$ 5,3 bilhões que o grupo fatura a cada ano. O destaque em um cenário onde a disputa se dá entre gigantes só foi possível com uma aposta tão cara quanto ousada: a aquisição, por US$ 2,1 bilhões, da American National Can (ANC), concluída em julho do ano passado. De uma só tacada esse movimento deu à Rexam a liderança do mercado americano e uma posição dominante entre os fornecedores da Coca-Cola: hoje o grupo produz 40% de todas as latas compradas pela companhia de bebidas nos quatro cantos do planeta. A carteira de clientes inclui ainda outras gigantes como Nestlé, Avon, Absolut e a Anheuser-Busch, que fabrica a cerveja Budweiser.

O Brasil entra na história da Rexam como o Eldorado Tropical. A definição é do próprio Börjesson e leva em conta o ritmo de crescimento do mercado de bebidas por aqui. No caso da cerveja, por exemplo, a produção cresceu 4,8% no ano passado, atingindo 8,26 bilhões de litros, o que coloca o País como o quarto maior fabricante do planeta. A Rexam pretende atuar em duas frentes: aproveitando a filial local da ANC e partindo para as compras. ?Temos US$ 500 milhões para investir, apenas neste ano, em novas aquisições e certamente vamos buscar oportunidades no Brasil?, garantiu o executivo à DINHEIRO durante breve passagem por São Paulo, na última semana. O alvo da cobiça dos ingleses é a Latasa. Börjesson confirma o interesse mas ressalta que ainda não fez uma proposta formal. ?Se a empresa for colocada à venda certamente vamos entrar no páreo.?

Apesar de pouco conhecido abaixo da linha do Equador, o grupo Rexam não é um novato no País. Desembarcou por aqui em 1990 como sócio da sueca Bonner AB, com a qual divide o controle da Interprint (fabricante de cartões telefônicos). Depois foi a vez de apostar no segmento de embalagens com as unidades Rexam Beauty e Rexam Medical. A primeira tem na carteira de clientes a Natura e a Avon. Ao lado da ANC esses negócios colaboram com um naco de US$ 250 milhões das receitas anuais. Número, aliás, considerado modesto para as ambições do chefão Börjesson.

O executivo assumiu o posto em 1996 com a incumbência de definir um novo rumo para o grupo fundado em 1881 pelo mercador de papéis William Bowater. Quando chegou à empresa, Börjesson deparou-se com uma situação complicada: mais de 100 empresas atuando em setores pulverizados que incluíam desde a fabricação de papel até embalagens industriais. Juntas, faturavam US$ 4 bilhões. Fazendo jus à fama expansionista dos antepassados vikings, ele arregaçou as mangas e implementou uma verdadeira revolução nas hostes do grupo. Redefiniu as estratégias e passou a concentrar-se apenas em produtos direcionados ao consumidor final. Os demais negócios foram postos à venda: ?Vamos arrecadar cerca de US$ 1 bilhão com essa operação até o final de agosto?, estima Börjesson, que espera aplicar também uma boa fatia dessa bolada por aqui.