O segundo dia de desfile das escolas de samba de São Paulo, no Anhembi, foi marcado por confusão e atraso envolvendo a Vai-Vai e a Nenê de Vila Matilde. A Nenê de Vila Matilde atrasou a entrada no Anhembi em uma hora, porque considerou que não havia segurança na pista. O presidente Rinaldo José de Andrade, o Mantega, afirmou que um líquido que caiu do último carro alegórico da Vai-Vai deixou a pista escorregadia. Ele comunicou ao presidente da Liga das Escolas de Samba, Paulo Sergio Ferreira, o Serginho, que só colocaria a escola na avenida se ela estivesse lavada e seca.

“O regulamento me garante disputar em condições de igualdade. E não vou colocar a escola e os integrantes em risco”, disse Mantega. Do outro lado, Serginho dizia que não havia nada de errado na pista. “Não há motivo pra isso. Mas ele tem o direito de fazer isso”. A equipe de limpeza lavou e secou a pista. Enquanto o trabalho não era concluído, o público vaiou e reclamou da demora.

Considerada a capital da Operação Lava Jato, Curitiba foi a grande homenageada da Nenê de Vila Matilde. Uma das escolas mais antigas do carnaval de São Paulo, cantou “Coré Etuba – A ópera de todos os povos, terra de todas as gentes, Curitiba de todos os sonhos”, mostrando que a cidade faz jus à fama de campeã de nacionalidades no País.

Confusão

A escola de samba Vai-Vai pode perder pontos em função de uma confusão nos minutos finais do desfile. Após fechar o portão, três integrantes de apoio ao grupo, que haviam distribuído bandeirinhas para o público, ficaram ainda na pista. Mas o relógio já havia sido zerado pelos cronometristas da Liga na torre, que oficializaram o fim do desfile sem perceber os membros da escola ainda dentro da avenida.

Fiscais da Liga começaram a gritar para a torre, avisando que os três membros da equipe da Vai-Vai haviam ficado na pista. O trio percebeu a movimentação e, temendo uma punição, retirou as camisas da escola. Segundo os fiscais da Liga, agora somente as câmeras poderão mostrar se é caso de perda de pontos por atraso. Para cada minuto de atraso, as escolas perdem um ponto.

O presidente da Vai-Vai, Darly Silva, conhecido por Neguitão, disse que vai recorrer caso haja punição e negou ter infringido as normas. “O que conta no regulamento são os componentes do desfile. O julgamento só deve ser feito a quem está fantasiado. Mesmo que esteja com camiseta da escola, não conta”, afirmou.

A bateria da Vai-Vai correu bastante nos cinco minutos finais. Houve princípio de confusão nos últimos metros do desfecho, quando os organizadores da escola pediam que os participantes corressem.

A escola homenageou a Mãe Menininha do Gantois, considerada uma das principais representantes do candomblé no Brasil. Filha de Menininha do Gantois, Mãe Carmen desfilou na comissão sentada em uma cadeira banhada de ouro. Para exaltar a religião, itens como búzios e máscaras africanas tiveram destaque nos carros alegóricos e nas fantasias.

Dragões da Real

“Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João”. Caçula do grupo especial, a Dragões da Real entrou no Anhembi prestando uma homenagem ao Rei do Baião, Luiz Gonzaga, e ao seu principal sucesso, Asa Branca. O público aprovou. Usando a felicidade dos nordestinos, a escola adotou o lema “lugar de gente feliz e arretada” para puxar o enredo “Dragões canta Asa Branca”.

Os foliões da arquibancada cantaram junto com a escola o refrão “vem forrozear que o sanfoneiro vai tocar. Meu samba em forma oração. Eu sou dragões, é Asa Branca embalando gerações”. A escola saiu aplaudida do Anhembi.

Império de Casa Verde

Atual campeã do carnaval de São Paulo, a Império da Casa Verde entrou na avenida à 1 hora da manhã. Com o tema “Paz”, chamou a atenção o luxo dos carros alegóricos, destacado pelas cores azul, verde e branca. Os primeiros minutos da escola na passarela do samba foram de admiração e êxtase por parte do público.

Das arquibancadas, as pessoas estavam deslumbradas, fotografando e filmando a todo momento, porém também distraídas. O público não acompanhou a animação dos integrantes do desfile e a batida firme da bateria. Já na passarela, os participantes da Império roubaram a cena: não paravam de pular e sambar. E o cantor da bateria pedia a todo momento: “Tira o pé do chão!”.

Com um anjo no topo, o primeiro carro alegórico apresentou uma estrutura de átomos, com bailarinos fantasiados em vários tons de azul na comissão de frente. No segundo carro, um tigre branco gigante, com asas. Já no terceiro, a escola fez uma exaltação à natureza: Medusa à frente, seres místicos e galhos de árvore enroscados.

Peruche

A Unidos do Peruche decidiu homenagear Salvador com o enredo “A Peruche no maior axé, exalta Salvador, cidade da Bahia, caldeirão das raças, cultura, fé e alegria”. Carros alegóricos que apostaram no luxo com integrantes em coreografias bem ensaiadas e um enredo fácil de cantar fizeram o público se empolgar.

No ano passado, a escola quase foi rebaixada para o grupo de acesso por causa da modelo Ju Isen, que ficou nua durante o desfile e foi retirada da avenida.

Mancha Verde

Primeira escola a desfilar neste segundo dia de carnaval em São Paulo, a Mancha saiu com cerca de 10 minutos de atraso. O horário previsto para o início era 22h30. Em uma homenagem aos Zés do Brasil, a Mancha Verde exaltou em fantasias e carros alegóricos o ator José Wilker, o diretor de teatro Zé Celso, o humorista Zé Bonitinho, o personagem Zé Carioca e ainda os botecos batizados de “Seu Zé” pelo País. Chacrinha também foi homenageado.

Teve destaque uma ala que, em exaltação ao ator José Wilker, exibiu a placa com o famoso bordão “felomenal”, em referência ao personagem Giovanni Improtta, interpretado por Wilker na novela Senhora do Destino. O ator morreu em 2014.