23/04/2003 - 7:00
cê escolheu o modelo, definiu a cor, a estampa dos assentos ? e sobretudo a potência do motor. Um automóvel, nunca é demais lembrar, atrai as pessoas pelo conforto e velocidade. Esses são os primeiros impulsos de compra. Nos últimos tempos, contudo, um novo quesito tornou-se fundamental: os dispositivos de segurança. As montadoras desembolsam, hoje, quase 50% dos custos de construção de um carro, dos primeiros desenhos à fabricação, para evitar acidentes ou para diminuir os danos quando eles ocorrem. Há duas décadas, essa fatia não chegava a 20% dos gastos. É uma pequena revolução, e ela já está chegando ao consumidor (leia quadro abaixo). Pode-se chamar esse fenômeno de ?efeito Volvo?. A empresa sueca transformou-se, ao longo dos anos, em ícone da feiúra sob quatro rodas. Eram carros imensos, quadradões, que privilegiavam apenas a segurança ? enquanto a maioria dos outros fabricantes cuidava do formato. Deu-se a reviravolta ? todos, sem exceção, preocupam-se em desenvolver métodos para diminuir as batidas, enquanto a Volvo, sem abandoná-lo, hoje faz automóveis elegantes. ?Já não existe carro apenas bonito e veloz?, resume Jorge Mussi, coordenador técnico da Volvo do Brasil. ?A segurança é fundamental.?
Por um desses mecanismos saudáveis da concorrência, e também da tecnologia, recursos que custavam milhares de dólares já não saem tão caro, e podem ser encontrados até em carros populares. Há quatro anos, a diferença entre um carro com air-bag e outro sem o dispositivo oscilava de R$ 3 mil a R$ 4 mil. Hoje, não passa de R$ 1 mil. A queda deve-se também ao maciço investimento dos fabricantes com a preservação da vida alheia. A Volvo gastou US$ 75 milhões para construir um centro de testes de segurança em Gotemburgo. Ford e Volkswagen fizeram o mesmo nos Estados Unidos e na Alemanha. A marca sueca firmou contrato com as prefeituras das grandes cidades com uma idéia interessante: os acidentes de veículos Volvo são avisados à empresa que trata de estudá-los. Mas de 27 mil batidas já foram escrutadas por seus especialistas. Gasta-se, em média, cerca de US$ 30 mil por teste. Um dummy, o boneco utilizado nas simulações, custa US$ 100 mil por unidade. A Ford usa pelo menos 500 deles todos os anos nos Estados Unidos.
Todas essas iniciativas fazem desembarcar um número cada vez maior de acessórios de segurança. Eles se dividem em duas categorias: os produtos desenvolvidos para evitar acidentes e aqueles pensados para reduzir os ferimentos quando eles ocorrem. Entre as invenções preventivas surgidas nos últimos três anos, há dois destaques. O primeiro deles é o sistema de controle da estabilidade. Os automóveis já têm processadores eletrônicos capazes de regular a posição dos veículos nas curvas e sua aderência à pista. A outra boa nova são os sensores que tratam de controlar a distância entre dois carros, um à frente do outro. Na vertente das criações para minimizar os estragos de uma batida, já despontaram os chamados air bags laterais. Eles protegem os passageiros em caso de capotagem. ?O air bag lateral, muito em breve, estará em todas as marcas?, prevê Clarence Ditlow, diretor executivo da Auto Safety, empresa americana. ?Mais importante que evitar os acidentes, hoje, é cuidar para que os ferimentos não ocorram.? É uma tese polêmica. A indústria ainda gasta mais para prevenir do que para proteger.
Mesmo com o lote de boas notícias, ainda falta muito para que a segurança seja tratada com a pompa merecida. Nos Estados Unidos, apenas um em cada cinco carros tem air bag. No Brasil, embora não existam estatísticas muito confiáveis, acredita-se que a proporção seja de 500 para 1. É muito pouco, e é perigoso. Mas as perspectivas melhoram. Até os anos 90, era preciso pelo menos uma década para que as inovações tecnológicas de segurança desembarcassem em modelos produzidos em território brasileiro. Hoje, com as plantas interligadas, esse período não passa de dois anos. ?Os consumidores já entendem, com essa rapidez na absorção de novidades, que segurança não é adicional, é estilo?, diz Mussi, da Volvo. ?Carros inseguros vendem menos.?