23/03/2022 - 13:25
Após o Ocidente deixar de cooperar com a Rússia no Ártico por sua invasão da Ucrânia, o Canadá se propôs a reforçar defesas, no que seu major-general classificou como “o frente norte da Otan”.
O chefe do Estado-Maior de Defesa canadense, o general Wayne Eyre, alertou que é necessário “muito mais esforço” para reforçar a segurança nacional, com um forte “enfoque no norte”.
A ministra da Defesa, Anita Anand, que planeja viajar em breve para o Ártico, também prometeu realizar novos investimentos significativos que reduzirão a brecha no compromisso do Canadá com a Otan de dedicar 2% do seu PIB à defesa. Atualmente, destina apenas 1,39%.
“Ao mesmo tempo que observamos o que ocorre na Ucrânia, vemos de perto o que a Rússia faz no mundo. O extremo norte é uma área importante” de interesse de defesa, disse Eyre em uma conferência de segurança em Ottawa este mês.
Observou que, nas últimas décadas, a Rússia “recuperou bases da Guerra Fria que haviam sido abandonadas” na região. “Não é inconcebível que nossa soberania possa ser desafiada”, acrescentou.
O general e outros minimizaram a possibilidade da Rússia invadir o Ártico canadense com tropas, citando o clima severo e 1.600 quilômetros de mar congelado que separam os dois países. A Noruega, que compartilha uma pequena fronteira terrestre com a Rússia, deveria estar mais preocupada.
As duas nações, junto com os Estados Unidos e outros aliados da Otan, realizaram exercícios militares no norte, incluindo interceptações de aviões bombardeiros, varredura de minas nas águas do Alasca e aterrissagem de paraquedistas no gelo.
Todos concordam que a defesa americana no Ártico, que inclui um programa de vigilância da época da Guerra Fria conhecido como North Warning System (NWS), precisa de uma atualização para rastrear aeronaves e sistemas de mísseis mais modernos.
Anand prometeu “um pacote robusto para modernizar” o NWS e outras defesas continentais, que custaria dezenas de bilhões de dólares e inclui quebra-gelos, navios de guerra e um contrato para aquisição de 88 novos caças que será definido este ano.
A ministra das Relações Exteriores, Melanie Joly, admitindo no fórum de Montreal na segunda-feira que Ottawa “deve equipar melhor nossos soldados”, observou que a Alemanha decidiu gastar US$ 112 bilhões para modernizar suas forças armadas em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia.
– ‘Cabeça na neve’ –
Segundo o especialista em Ártico Michael Byers, da University of British Columbia, os gastos com defesa são secundários na política canadense.
Ottawa “não sentiu nenhuma necessidade” de fazê-lo após o fim da Guerra Fria, o que poderia ser justificado “se não acha que uma potência com armas nucleares invadirá uma democracia importante”, explicou.
Robert Huebert, do Instituto Ártico da Universidade de Calgary, definiu isso como uma “atitude de cabeça na neve”.
Byers opina que uma invasão com tropas do Ártico seria “completamente irracional para a Rússia”, observando que “é realmente um ambiente hostil” e um “longo caminho” do território central.
“A ameaça está na Europa neste momento. Não está aqui”, disse.
Huebert, no entanto, observou que a Rússia voltou ao “comportamento da Guerra Fria”, incluindo incursões marítimas e terrestres em “águas soberanas de todos os Estados do norte”, incluindo o Canadá.
Este mês Canadá, Estados Unidos, Noruega, Islândia, Suécia, Dinamarca e Finlândia anunciaram que boicotariam as reuniões do Conselho do Ártico, cuja presidência é atualmente ocupada pela Rússia.
O professor da Universidade de Ottawa, Mathieu Landriault, sugeriu que a guerra na Ucrânia tornou os canadenses mais simpáticos à ideia de aumentar os gastos militares para combater “uma Rússia mais agressiva”.
No futuro, espera ver “dois Árticos”: um onde a Rússia colaborará com a China para explorar recursos minerais e energéticos subaquáticos e buscar desenvolver a Rota do Mar do Norte para seus navios, e outro em que “os outros sete ( . ..) não querem nada com a Rússia e cooperam apenas entre si”.
Isso poderia levar ao enfraquecimento das proteções ambientais no norte, disse ele, e dividir as populações indígenas com laços econômicos e culturais através das fronteiras do Ártico, como os Saami da Escandinávia e a Península russa de Kola.