As multinacionais de segurança e transporte de valores ainda não se refizeram do susto. Executivos de marcas como a espanhola Prosegur e a americana Brinks iniciaram o ano com um problema para explicar aos seus superiores: como uma companhia localizada em Pernambuco passou na frente de todos e assumiu a liderança do setor no Brasil. O mérito pertence ao Grupo Nordeste, que nos últimos dias de dezembro comprou a maranhense Norsergel e avançou para 22% do mercado. O valor da venda não foi divulgado, mas com ela o Grupo terá em 2005 um faturamento de R$ 600 milhões ? R$ 130 milhões vindos da Norsergel ? à frente dos R$ 400 milhões da Prosegur e R$ 320 milhões da Brinks. Foi o primeiro movimento do mercado desde a febre de fusões e privatizações do sistema financeiro nos últimos cinco anos, um fenômeno que provocou a redução do número de clientes e a perda de lucratividade das empresas de transporte. ?Concentrar ou unir operações é o caminho natural?, afirma Paulo Dalla Nora Macedo, executivo do Grupo Nordeste. A empresa atua em 19 Estados e já está em São Paulo desde 1991 sob a bandeira Transbank.

A perspectiva de novas fusões parece clara diante dos números do mercado. Existem hoje no País cerca de 50 companhias que prestam serviços aos bancos. As cinco maiores têm 60% de todo o volume de negócios e o restante é dividido com empresas menores. A situação da Norsergel era um pouco diferente. Aos 45 anos, a empresa do Maranhão era bem vista pelo mercado, apesar da sua característica familiar como o Grupo Nordeste. O fundador da Norsergel ainda estava à frente do negócio ao lado dos filhos. O fato de operar na região Norte, onde a logística de transporte de recursos se faz por via terrestre, fluvial e aérea, sempre a colocou entre as mais eficientes do setor. Fora isso, a Norsergel era dona de práticas gerenciais e administrativas pouco comuns no mundo do transporte de valores. A decisão era avançar em outros territórios ou se unir com um concorrente. ?O Grupo Nordeste levou a jóia da coroa?, afirma Marcus Regueira, sócio do banco de investimentos Fircapital, que coordenou toda a negociação entre as duas companhias. A entrada do Fircapital é outra curiosidade desse negócio. O banco tem sede em Belo Horizonte e entre seus sócios o próprio Regueira, que morou 20 anos nos Estados Unidos e onde se revelou um dos maiores especialistas em fusões e aquisições de companhias americanas, e Guilherme Emrich, fundador da Biobrás, a fábrica de insulina vendida há três anos para a multinacional Novonordisk. Foi a dupla que enxergou a oportunidade e aproximou os dois lados. Durante os últimos 18 meses, as empresas conversaram em sigilo e o acordo foi selado com champanhe em dezembro. Essa história que os concorrentes não sabiam. 

R$ 600 milhões é a previsão de faturamento do Grupo Nordeste
após a compra da Norsergel