Desde 2021, os números de boxes de armazenagem disponíveis para locação dobraram no Brasil. Atualmente, existem cerca de 2 milhões de metros quadrados, dos quais mais da metade se concentram na região Sudeste. São Paulo, Minas Geais, Rio de Janeiro e Espírito Santo abrigam 55,8% da área disponível.

O setor de self storage tem se expandido para um número maior de cidades. Em um comparativo anual, o número de município com operações de self storage cresceu 5,8% entre 2024 e 2025, passando de 104 para 110. Contudo, a vacância média também apresentou alta, passando de 18,1% no 1º trimestre de 2024 para 18,6% no mesmo período de 2025.

Self storage, ou autoarmazenamento, é um serviço no qual empresas ou pessoas alugam cômodos seguros, com acesso exclusivo, chamados de “boxes”. Os clientes utilizam esses espaços para guardar uma variedade de bens, como móveis, estoques de produtos ou arquivos, e são responsáveis por administrar seus próprios itens.

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Líder do segmento, com 400 mil m² disponíveis, a GoodStorage detém uma fatia de 20% de toda área disponível para locação do país. Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, o fundador e CEO da empresa, Thiago Cordeiro, disse que o crescimento da companhia decorre de um trabalho estratégico de relação com o próprio desenho urbano do estado de São Paulo — onde surgiu e ainda é o foco de atuação — que envolve inclusive as chamativas cores laranja e verde com as quais são pintados os galpões.

O executivo acumula o cargo de presidente da Associação Brasileira de Self Storage (ASBRASS), através da qual afirma a liderança de sua empresa no setor. Os números dos concorrentes, no entanto, não são divulgados.

Estratégia verde e laranja

“A gente precisava conseguir construir um reconhecimento de marca vinculado ao prédio, que tivesse algum tipo de destaque. Usar uma cor mais chamativa era um pouco isso”, recorda Thiago Cordeiro sobre a criação da empresa em 2013.

Em 2024, a companhia deu um passo decisivo ao comprar a concorrente Guarde Aqui, aumentou sua oferta em 400% e assumiu a liderança do setor, tornando-se quase sinônimo de self storage em São Paulo.

Hoje, a empresa conta com quatro unidades no Rio de Janeiro, duas em Brasília e uma em Belo Horizonte. “Temos três avenidas de crescimento desenhadas, mas aqui em São Paulo as pessoas já começam a associar um pouquinho o laranja e o verde, e esse é o foco”, diz.

Como são utilizados os boxes da GoodStorage

É possível tornar-se um cliente da GoodStorage com preços de aluguel mensal a partir de R$ 85 por metro quadrado. A empresa oferece espaços de 1 até 50 m² (mais usados por pessoa física), de até mil m² (com uso frequente de pequenas e médias empresas) e de até 10 mil m² (locados por grandes varejistas do e-commerce como reforço logístico).

Para fechar um contrato com uma self storage, não é necessário fiador, seguro fiança ou outras garantias costumeiramente exigidas para locar um imóvel. Tampouco há multa para interromper o contrato a qualquer momento.

A empresa não observa de perto como o espaço é utilizado, já que os boxes permanecem fechados, com acesso exclusivo do cliente. O uso mais recorrente dos boxes é como uma sala de depósito para guardar objetos que não cabem mais em casa.

“Tem casos engraçados de pessoas que montaram uma biblioteca pessoal, com cadeira e uma luminária. Ou que guardam coleções de gibis, revistas antigas, etc. Mas não é regra”, explica Cordeiro.

Thiago Cordeiro, fundador e CEO da GoodStorage
Thiago Cordeiro, fundador e CEO da GoodStorage (Crédito:Divulgação)

Já foi notado no entanto um amplo uso como depósito de prestadores de serviços que necessitam rápido deslocamento de peças, como manutenção de elevadores e ar condicionado, ou para mobilidade de mercadorias em negócios como mercados autônomos e serviços hospitalares. “A economia tem tantas cadeias, tantos negócios, tantos elos nas cadeias, é uma loucura. Você tem você tem de tudo”, diz Cordeiro.

A variedade de usos decorre justamente de uma estratégia da GoodStorage de posicionar seus ativos em locais centrais — no bairro de Pinheiros, por exemplo, há três unidades. Thiago Cordeiro acredita prestar contribuições para o atual projeto de adensamento dos bairros em São Paulo.

“Você tem que aproximar o fluxo de funcionamento das pessoas porque assim elas vão conseguir ter melhores serviços e melhor qualidade”, diz o CEO sobre esta visão de cidade. O transporte de bens precisa acompanhar a maior concentração demográfica. “Nos centros urbanos mais desenvolvidos, a gente vê isso: a logística foi se fracionando em espaços menores”, conclui.

De startup à propriedade de fundos de pensão

Atualmente, um fundo de pensão dos EUA chamado Evergreen é o sócio-controlador da GoodStorage. “Eu sou um sócio pequeno, bem pequeno”, diz Cordeiro. “Essa turma tem um olhar patrimonialista, de muito longo prazo, então a gente não tem necessidade de buscar estrutura de capital no mercado de capitais via IPO.”

A empresa conta hoje com 56 galpões de self storage e 14 voltados para logística de grande porte, todos edifícios próprios. As unidades contam com equipes de apoio, habilitadas para auxiliar clientes e também para prospectar novas contratações no local. Algumas oferecem cafeteria e espaço de coworking para quem for visitar seu box. “A gente no final do dia monetiza funcionalidade”, afirma Cordeiro. A base de locatários chega a 23 mil.

Apesar de não abrir os dados exatos, a empresa afirma que alcançou em 2024 faturamento “ligeiramente abaixo de R$ 300 milhões”, e projeta ficar entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões para 2025.