17/03/2022 - 20:57
A elevação da taxa básica de juros, a Selic, para 11,75% ao ano realizada nesta quarta-feira (16) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tem impacto direto nos investimentos financeiros. Especialistas do mercado financeiro afirmam que o cenário atual torna os ativos de renda fixa bem mais atrativos. Ao mesmo tempo, ações de determinados setores negociadas na Bolsa tendem a sofrer queda por conta dos efeitos que o aumento dos juros básicos gera na economia.
É importante lembrar que aumento de 1 ponto percentual é o nono consecutivo e coloca a Selic em seu maior patamar desde abril de 2017, quando estava em 12,25%. Essa sequência de altas tem como finalidade combater a inflação.
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O CEO do Aplicativo Renda Fixa, Francis Wagner, avalia que investir em renda fixa passou a ser um bom negócio, sobretudo em ativos atrelados ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ou ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário). A justificativa, segundo o especialista é que o cenário econômico brasileiro ainda não mostra sinais de melhora. O mercado espera novas altas e dificilmente o Copom iniciará um movimento de baixa até o final do ano. Outra questão levantada por Wagner, é que independentemente do perfil do investidor – conservador, moderado ou arrojado – é sempre importante ter ativos de renda fixa no portfólio, pois ela é a parte defensiva da carteira.
O que pode variar entre cada perfil são os percentuais alocados em cada um. “Considerando um perfil conservador, pode ser interessante investir uns 90% em renda fixa, sobretudo em ativos protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), como CDBs, LCIs e LCAs. Os outros 10% poderiam ser investidos em ações. Para um perfil mais moderado, pode ser mais interessante investir entre 70% e 80% em renda fixa e o restante em ações. Já para o arrojado, alocar 60% em renda fixa e 40% em renda variável é uma alternativa viável”, aconselha.
Segundo Wagner, os produtos de renda fixa mais vantajosos no curto prazo, considerando o cenário atual, são os títulos inflacionários, ou seja, aqueles indexados ao IPCA ou IGPM, por exemplo. Atualmente é possível encontrar títulos como o CDB pagando IPCA+7% para um prazo de um ano, o que significa 7% de juros reais. Outra possibilidade de curto prazo e funciona muito bem para o médio prazo, tendo em vista o movimento de alta da taxa básica de juros são os títulos indexados ao CDI. É possível encontrar uma vasta gama desse tipo de ativo no mercado pagando entre 100% do CDI e 128% a depender do prazo de vencimento.
“Já no longo prazo, considerando investimentos com prazos acima de 5 anos, a diversificação de ativos acaba sendo mais adequada. Nesse caso, é importante conciliar uma cesta de investimentos compostos por ativos de diferentes prazos de vencimento, diferentes índices de remuneração e diferentes classes de ativos. Um exemplo seria montar uma carteira composta por renda fixa, ações e alguns fundos imobiliários, sempre alinhados ao perfil de risco de cada investidor”, explica o CEO do App Renda Fixa.
Varejo e Construção Civil
Fabrício Gonçalvez, sócio-fundador da gestora de fundos Box Asset, não tem dúvida de que a alta dos juros básicos favorece os investimentos de renda fixa. Eles ficam mais atrativos por pagarem prêmios (retornos) melhores. Gonçalvez cita como exemplos de boas rentabilidades os CDBs e também letras do tesouro, sejam pré ou pós-fixados.
No entanto, quando o assunto é renda variável, ações de empresas do setor de varejo como Magazine Luiza, Via Varejo ou Renner, e também do ramo de construção civil, como Cyrella, MRV, entre outras, serão seriamente afetadas por essa nova alta da Selic.
“O varejo, que é um segmento de consumo, sofrerá o impacto da decisão dos consumidores de cortarem a compra de produtos considerados supérfluos ou não tão necessários para o momento. Depois vem o setor de construção civil, ramo que toma muitos empréstimos. Então, as construtoras passarão a tomar crédito mais caro”, avalia. O especialista da Box Asset reforça que pode haver depreciação do Ibovespa, devido ao peso que o varejo tem na composição do índice.
Mas nem todos os papéis negociados em Bolsa vão sofrer com a decisão do Copom. Gonzalez explica haver setores cujas empresas obtêm bons resultados em momentos de adversidade e alta inflacionária como o que vivemos. Ações de companhias do setor de commodities como Petrobras e Vale, são exemplos. “Bancos também porque eles conseguem repassar a seus clientes finais todas essas taxas, assim como concessionárias de energia elétrica ou de rodovias, que conseguem, da mesma forma que as instituições financeiras, repassar aos consumidores o custo adicional gerado pela alta da inflação e dos juros”.
Movimento inverso
O analista de investimentos da Top Gain, Sidney Lima, também prevê um movimento inverso ao que vinha acontecendo até meados de 2021 no mercado financeiro. Entre agosto de 2020 e fevereiro do ano passado, a Selic se encontrava em 2% ao ano, o menor de sua história. Isso fez muita gente migrar da poupança, CDBs e outros títulos de renda fixa para a renda variável. Movimento este que especialistas acreditavam ser irreversível e parte de uma forte mudança na cultura de investimentos do brasileiro.
Mas a crise econômica e sanitária associada à alta da inflação mudou essa trajetória. “Com a renda fixa mais rentável, vários investidores sentem a tendência de migrar uma parcela maior de seus recursos para esse tipo de investimento, considerando a relação risco versus retorno que começa e beneficiar a renda fixa”, comenta.
A decisão de aumentar a taxa de juros como forma de combater a inflação não é exclusividade do Banco Central brasileiro. O Fed (Federal Reserve), dos Estados Unidos, também vem adotando a mesma estratégia, obviamente que a patamares bem menores. Até o fim do ano, estima-se que os juros básicos na maior economia do mundo cheguem a 1,87%.
“Jerome Powell, responsável pelo Fed, tem demonstrado bastante preocupação com a escalada de preços por lá. Especialmente devido à guerra entre Rússia e Ucrânia que tem afetado diretamente as cotações do barril de petróleo, de alimentos e de commodities”, explica o analista da Top Gain.