O patamar atual da taxa Selic, o maior em quase 20 anos, afeta os investimentos no país e também a tomada de decisão nos segmento de serviços básicos, uma vez torna o custo de capital consideravelmente mais elevado, segundo  o CEO da Aegea, Radamés Casseb.

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Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, o executivo disse que a Selic é um “agressor de cenário” e acaba moldando como os membros do ecossistema financeiro escolhem alocar capital – desde bancos e fundos até players menos relevantes.

Isso, na sua visão, acaba gerando um efeito cascata e retardando o processo para se bater a meta de universalização do acesso ao tratamento de esgoto e água tratada – demarcada para 2033 conforme o Marco Legal do Saneamento.

“Hoje, em uma indústria de capital intensivo, com o centro de nascimento de projetos com uma hiperconcentração, uma meta de atingimento de 2033 superdemarcada, esse horizonte de taxa de juros elevada por mais tempo faz uma pressão enorme sobre a escolha, sobre o escrutínio sobre onde alocar o capital. É um agressor de cenário nesse processo de decisão”, diz o executivo.

Apesar disso, o executivo frisa que acredita que as metas de universalização serão batidas ‘sem sombra de dúvidas’.

“Ainda tem um conjunto de municípios que precisa discutir o arranjo para endereçar, mas eu diria que estamos a passos largos de cumprir a meta”, avalia.

O executivo frisa que, globalmente, será desembolsada uma cifra de R$ 1 trilhão para cumprir para com a meta de universalização e garantir acesso a água e esgoto para todos os brasileiros.

Um terço da água do Pará será da Aegea

Sobre o leilão mais recente vencido pela companhia, referente a blocos de municípios no estado do Pará, o executivo destacou que a companhia tem expectativa de formalizar todos os contratos até o início de julho e que, no momento atual, todas as equipes de transição estão em Belém e rodando os municípios do estado.

No total são 99 municípios contemplados pelos blocos arrematado pela Aegea, representando cerca de um terço do Pará, e incluindo a capital. A outorga paga pela companhia foi de R$ 1,426 bilhão por três blocos, dos quais foram R$ 1,168 bilhão pelo Bloco A, que contempla Belém, representando 12% de ágio sobre a outorga mínima.

A decisão vai exigir um capital intensivo por parte da companhia ao longo dos próximos anos, somando R$ 15,2 bilhões em investimentos nos próximos 40 anos – sendo R$ 6 bilhões até o ano de 2030.

O executivo garante que a decisão não será um peso à saúde financeira da empresa, que fechou o ano anterior com uma alavancagem de 4,3 vezes seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização.

Atualmente o Pará é um estado com um dos piores índices de saneamento básico. A capital possui menos de 15% de cobertura de coleta e tratamento de esgoto.

Segundo Casseb, nesse contexto o foco prioritário deve ser na fatia da população menos favorecida.

“Tem um desejo especial de poder contribuir principalmente para populações vulneráveis muito rápido, gerando emprego e criando novos compromissos.”

Estatal de MG na mira

A Aegea chegou a entrar na discussão como uma eventual sócia da Sabesp no processo de privatização da empresa, todavia decidiu não participar do certame.

Casseb já declarou em ocasiões anteriores que a jornada toda foi um ‘MBA’ para novas privatizações, incluindo uma eventual privatização da Copasa, de Minas Gerais.

A tese é de que Minas Gerais, que é o estado com maior número de municípios do Brasil, é um mercado estratégico.

“A gente mantém uma vontade super elevada de estar em MG ampliando os nosso serviços. Atualmente já operamos Governador Valadares e esperamos que as discussões efetivas cheguem a um arranjo para a companhia estadual”, diz Radamés Casseb.