Sobre a postura do Banco Central em manter a Selic em um patamar de 15% por um tempo ‘bastante prolongado’ – como citado em atas e comunicados – o presidente da instituição, Gabriel Galípolo, reiterou que praticamente todos os indicadores tem sinalizado que a austeridade no política monetária é o caminho a ser seguido para trazer a inflação para a meta.

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Durante coletiva do Banco Central feita nesta quinta-feira, 25, Galípolo frisou os dados recordes do mercado de trabalho endossam as decisões da autarquia de manter a Selic no seu maior patamar para os últimos 19 anos.

“Mesmo com a Selic alta, você praticamente gabarita no livro-texto as condições de contorno para uma elevação e para manter juros contracionistas. Por onde você olhar, difícil não reunir condições de contorno”, disse o presidente do Banco Central.

O economista ainda destacou que os dados de desemprego e de inflação estão praticamente no mesmo patamar.

Nesse sentido, avalia que o ‘pior cenário para o trabalhador’ seria uma inflação elevada, com perda de poder de compra – ainda que atualmente a massa salarial esteja em patamares recordes, assim como a taxa de ocupação.

Diogo Guillen, Diretor de Política Econômica do BC, endossou as falas destacando que ‘prevalece a visão de que o mercado de trabalho está aquecido’.

Conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados na semana passada, o Brasil chegou no seu menor patamar de desemprego da série histórica do indicador, iniciada em meados de 2012, aos 5,6%.

Em números absolutos, isso significa que cerca de 6,1 milhões de brasileiros estão em situação de desemprego. Com esse dado e o momento atual da economia, o Brasil se aproxima – ou até mesmo integra – a faixa do pleno emprego.

Galípolo X Haddad

O presidente do BC ainda comentou que considera ‘um luxo’ ter representantes do Ministério da Fazenda e do Tesouro que criticam o atual patamar de juros com ‘delicadeza e educação’.

“Se você escuta a fala do ministro Fernando Haddad, é uma fala de uma gentileza e assim, emitindo sua opinião, que é absolutamente legítima”, disse, na coletiva de imprensa.

O presidente, todavia, destacou que atualmente 96% dos respondentes das pesquisas apontam que o BC ‘deveria fazer e o que está fazendo’

“Estamos dependentes de dados, que vamos seguir observando, para identificar se a taxa de juros está no patamar contracionista o suficiente para produzir a convergência da inflação para a meta.”

Haddad declarou, na terça-feira, 23, que o atual patamar da taxa de juros é ‘injustificável’.

“Se você me perguntar se acho justificável os juros estarem nesse patamar, eu acredito que não, mas não estou no lugar dele [Galípolo]”, disse ao ICL Notícias.

“Eu penso que o Galípolo vai chegar num momento em que ele vai juntar a diretoria e tomar essa decisão. Eu entendo que tem espaço para esse juro cair”, completou o ministro da Fazenda.

Na última Ata do Copom, divulgada também na terça-feira, 23, o BC comunicou que após avaliar os efeitos acumulados do choque de juros, entrou em um novo estágio da política monetária que prevê taxa inalterada por longo período para buscar a meta de inflação.

“Após uma firme elevação de juros, o Comitê optou por interromper o ciclo e avaliar os impactos acumulados”, afirma a ata do Copom, em referência à reunião do Copom de julho.

“Agora, na medida em que o cenário tem se delineado conforme esperado, o Comitê inicia um novo estágio em que opta por manter a taxa inalterada e seguir avaliando se, mantido o nível corrente por período bastante prolongado, tal estratégia será suficiente para a convergência da inflação à meta”, consta também no documento.

Na semana anterior o BC decidiu pela manutenção da Selic em 15% ao ano pela segunda vez consecutiva em decisão unânime. No comunicado, os diretores destacaram que o ambiente segue incerto e demanda cautela, e que que o comitê seguirá avaliando se manter os juros nesse patamar por período bastante prolongado será suficiente para levar a inflação à meta.