29/01/2025 - 6:00
Nesta quarta-feira, 29, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve elevar a Selic em 1 ponto percentual (p.p.), conforme sinalização dada na ata da última reunião do colegiado, em dezembro. Com isso, a Taxa Selic deve subir para 13,25% ao ano, sem surpresas.
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Uma pesquisa de mercado do BTG Pactual aponta que aproximadamente 95% dos participantes (de um total de 40) julgam que o comitê elevará a Selic neste patamar, ao passo que outra elevação de 100 pontos base (bps) na reunião de março é antevista por 87% dos entrevistados.
Tamanha unanimidade faz com que a maioria dos investidores devam voltar suas atenções não para a decisão do Copom em si, mas para o comunicado da autoridade monetária sobre a decisão, que será divulgada a partir das 18h30.
A pesquisa do BTG aponta que cerca de 87% dos pesquisados acreditam que a comunicação virá “indicando que o Copom antevê um ajuste de mesma magnitude (100pb) na próxima reunião”. Todavia, quando a pergunta se refere ao que deveria ser comunicado, a porcentagem cai para 62% enquanto 23% acham que o comunicado deveria vir “indicando que o Copom ainda antevê ajustes de mesma magnitude (100pb) nas duas próximas reuniões.”
O que esperar do comunicado
Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, comenta que a primeira reunião do Copom de 2025 com o Galípolo oficialmente à frente do comitê vai além da magnitude da elevação.
“A autoridade monetária deve continuar apertando e elevando em 1 p.p. a taxa Selic que se deslocaria dos atuais 12,25% para então 13,25%. Mas há uma parte que é contra a comunicação, e aqui reside alguma apreensão e ansiedade de como esse BC vai se portar e continuar guiando ou não os seus próximos passos”, diz o estrategista.
“O Copom deve reconhecer que as expectativas de inflação pioraram, que as suas próprias projeções de inflação para o horizonte relevante, que agora passa a ser setembro de 2026, continuam piorando”, acrescenta.
Ele aponta que em um possível cenário, o Copom pode manter apenas a sinalização para a próxima reunião de março. Em outro, Galípolo pode querer botar a sua digital e talvez endurecer ainda mais o comunicado, ou rolar para as próximas duas reuniões envolvendo também a decisão de maio, mantendo a sinalização ainda no plural, ‘o que seria uma surpresa de maior aperto’.
Além do comunicado, o debate que ganha força no primeiro trimestre de 2025 é a discussão sobre qual será o rumo da política monetária a partir da reunião de março – que é até onde vai o guidance dado pelo BC em dezembro, de duas altas de 1p.p..
Com isso, especialistas discutem qual será o pico da Selic neste ano, até onde os diretores do BC pretendem levar a taxa básica de juros – e também se serão ou não realizados cortes no fim do ano.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, comenta que o cenário base da casa é de que a Selic deve encerrar o ciclo em 15,25%, com viés de alta, permanecendo nesse patamar até o final de 2025.
“O comunicado deve manter um tom rigoroso, como observado nos últimos Comitês, especialmente devido à contínua deterioração do cenário econômico brasileiro. As projeções de inflação do mercado, assim como as nossas, têm sido constantemente revisadas para cima, e o IPCA deve permanecer acima do limite superior da meta de inflação. Além disso, as expectativas de inflação continuam ampliando a desancoragem, a atividade econômica e o mercado de trabalho demonstram resiliência, e o risco fiscal permanece elevado”, diz Sung.
Dessa forma, a projeção é de que não devem ocorrer cortes em 2025, mas sim no ano seguinte, reduzindo a taxa de juros para 13,50% ao fim de 2026.
A mediana das expectativas para o IPCA em 2025 agora é de alta de 5,50%, segundo o último Boletim Focus, no que foi a 15ª semana consecutiva de aumento na previsão.
Economistas já enxergam Selic mais perto de 16%
No cenário mais pessimista da Suno Research, a taxa de juros pode atingir 15,75% no final do ciclo, com viés de alta, caso ocorra uma deterioração adicional no cenário econômico, maior desancoragem das expectativas de inflação e ausência de diretrizes mais claras para a redução do risco fiscal no Brasil.
Esse cenário passou a permear mais as análises de economistas desde o fim de 2024, causando revisões altistas para a taxa.
Um dos exemplos mais emblemáticos foi o banco americano Morgan Stanley, que neste fim de janeiro passou a projetar que a Selic atinja um pico de 15,75% no terceiro trimestre deste ano.
A tese é de que os juros devem seguir neste patamar pelo menos até o final do ano.
“A aprovação no final de 2024 do pacote fiscal para domar as pressões de gastos não melhorou a percepção do mercado sobre a questão fiscal. Desde a reunião anterior do Banco Central, a moeda enfraqueceu e as expectativas de inflação continuaram a se desancorar nos horizontes curto e longo”, afirmam os analistas do Morgan Stanley.
O Itaú Unibanco também revisou suas projeções, que saíram de 15% para 15,75%. Para 2026, a expectativa da casa é de 13,75%.
“Por um lado, a política monetária mais restritiva deve impactar a economia com mais força a partir do 2º trimestre de 2025. Por outro, a dinâmica do real e das expectativas de inflação serão cruciais para determinar o tamanho do ciclo”, afirma equipe de economistas do Itaú, liderada por Mario Mesquita.
A avaliação da casa é de que desde a reunião de dezembro, o Copom se deparou com novas rodadas de piora nas divulgações semanais da pesquisa Focus para expectativas de inflação, uma composição mais desafiadora para a inflação corrente, e uma taxa de câmbio que segue pressionada.
“No entanto, a política monetária mais restritiva deve impactar a economia com mais força a partir do 2T25. Diante de tal risco, em meio a elevado grau de incerteza, avaliamos que a reação mais provável da autoridade monetária seja não indicar a magnitude dos movimentos para reuniões além da próxima”.
A XP, liderada pelo economista Caio Megale, espera uma Selic terminal de 15,50% para este ano.
“Se a desaceleração econômica se intensificar, o Copom pode optar por interromper o ciclo de alta de juros antes do que o contemplado em nosso cenário base”, diz a casa, acenando para um dos temas que tem ganhado mais espaço dentro do debate macroeconômico.
UBS-BB defende que Selic até 14,25% seria o suficiente
Na sua revisão de cenário, o UBS-BB defendeu que a Selic a 14,25% seria suficiente para convergir a inflação à meta de 3% no modelo BC.
A expectativa da casa é que a Selic seja mantida em 14,25% até o fim de 2025.
A tese é de que o guidance soa como tentativa de definir parâmetros para a precificação de mercado.
“Agora, eles podem tentar estabilizar as expectativas de inflação e o pessimismo do mercado. Isso também cria uma orientação para os mercados. Consideramos esta decisão muito positiva para ganhar credibilidade e tentar domar as expectativas de inflação após uma piora significativa nesta semana”, afirmam.
Bradesco vê taxa a 15,25% em ‘meio termo’
No meio do caminho, a expectativa do Bradesco é de uma Selic fechando o ano a 15,25%.
A projeção é de que, após duas altas de 100bps, o Copom deve realizar ainda mais duas elevações de 50bps em maio e junho de 2025.
Segundo a casa, as medidas de contenção de gastos do governo não foram suficientes para gerar credibilidade acerca do fiscal, gerando ‘deterioração e volatilidade, sem um vetor claro de melhora no curto prazo’.
Na visão do time de economistas liderado por Fernando Honorato, o Brasil não está em dominância fiscal e eventualmente a Selic pode subir acima do que o mercado precifica atualmente.
“Trata-se de um equilíbrio delicado para a economia real e o Tesouro, que pode agravar o balanço de riscos, por isso defendíamos um ajuste mais gradual”.