O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia nesta quarta-feira, 6, a partir das 18h30, a nova taxa básica de juros. A expectativa é de que o BC irá acelerar o rimo de alta da Selic, com uma elevação de 0,50 ponto percentual (p.p.), passando dos atuais 10,75% para 11,25% ao ano.

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Mercado prevê duas altas de 0,50 ponto em 2024 e Selic em 2025 a 11,50%

Confirmada a expectativa, será segunda alta seguida nos juros e a Selic voltará ao patamar que vigorou entre fevereiro e março deste ano, quando o ciclo ainda de queda. Após passar um ano no nível de 13,75% ao ano, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano, e em setembro foi anunciado um aumento de 0,25 ponto, passando para 10,75%.

A visão sobre a decisão de aumento de 0,50 ponto é praticamente unânime no mercado. Em pesquisa com gestores de carteiras, traders, economistas e estrategistas de instituições financeiras, o BTG Pactual identificou que essa é a projeção de 94% dos entrevistados.

Praticamente metade dos entrevistado também destacou que o comunicado do Copom deve vir com um trecho frisando que “esse ritmo é visto como compatível com o compromisso de convergência da inflação à meta”. Ou seja, a expectativa é que a Selic encerre o 2024 em 11,75% ao ano.

Vale explicar que, com a elevação de juros, o BC visa controlar a inflação e mantê-la dentro da meta. Em contrapartida, juros básicos mais altos se traduzem em um custo de capital mais elevado, que afetam especialmente companhias que visam crescimento e tomam dívida. Além disso, dívidas e financiamentos atrelados ao CDI também encarecem.

Trajetória da Taxa Selic
Trajetória da Taxa Selic (Crédito:Reprodução/Banco Central (BC))

Por que os juros voltaram a subir?

Os motivos que devem fazer o Banco Central elevar os juros em uma magnitude maior do que a reunião anterior são, basicamente, dois: desancoragem das expectativas de inflação e risco fiscal.

Conforme a última edição do Boletim Focus, a projeção do mercado para inflação de 2024 subiu ainda mais além do teto da meta para o IPCA, de 4,55% para 4,59%. O centro da meta oficial para a inflação é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Sobre o fiscal, as sinalizações recentes do governo tem piorado expectativas de mercado sobre o controle da dívida pública, ocasionando uma pressão no câmbio, que saiu de R$ 5,45 na última reunião do Copom para quase R$ 5,90 nos últimos dias – o que que também impacta na inflação, dado que há uma série de produtos da cadeia de suprimentos que são dolarizados, além dos importados e de itens como passagens aéreas.

Além disso, há um ceticismo sobre a manutenção da regra vigente, o chamado arcabouço fiscal.

“Tem um ponto muito relevante que o BC olha atentamente que é a sobrevivência do arcabouço. Isso não para este ano, mas para os próximos. Acredito que teremos o cumprimento da banda inferior da meta em 2024, mas se continuarmos com esse nível de crescimento de gastos vamos ver uma dificuldade maior do cumprimento das metas de 2025. Isso precisa ser equacionado”, observa Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

“Além disso o que preocupa é o crescimento da dívida, que deve continuar nos próximos anos. O governo precisa apresentar medidas, sejam elas PECs ou não, para estruturar melhor o fiscal e garantir uma previsibilidade das despesas”, acrescenta. A projeção da Suno é que a Selic seja elevada em 0,50 p.p. e feche o ciclo em 12% no primeiro trimestre de 2025, abrindo espaço para cortes no fim do ano em questão.

O próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sinalizou que considera necessária uma mudança na parte fiscal para que os ajustes na política monetária sejam mais tênues. “Se tivermos um choque fiscal muito grande, provavelmente conseguiremos sair com taxas mais baixas”, afirmou o presidente do BC no fim de outubro.

A decisão do Copom desta quarta ocorre em meio a expectativa do anúncio de medidas fiscais por parte do governo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as medidas de contenção de gastos públicos estão “muito avançadas” e afirmou acreditar ser possível apresentar as iniciativas ainda nesta semana.

Este será também o penúltimo Copom com Campos Neto na presidência do BC.

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PIB em alta dá margem para Copom subir Selic

O fato de a economia brasileira estar aquecida e as projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) estarem sendo revistas para cima também pressionam a inflação e justificam uma postura mais cautelosa do Copom.

“De uma forma geral, o que percebemos é que tivemos uma piora do balanço de riscos. A atividade do país vem bastante forte, esperamos crescimento acima de 3% do PIB, impulsionado pelo fiscal e pelo mercado de trabalho bastante pujante. É bom para a economia, mas tem uma pressão inflacionária, e tivemos um último IPCA-15 acima do esperado”, diz Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital.

Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, também endossa que o cenário exige uma postura mais austera por parte da autoridade monetária.

“O contexto de divulgações mais recentes é preocupante e justifica um ajuste mais expressivo para conter a inflação que já bate no teto aceitável da meta. Isso tudo demonstrará que o Copom permanece tendo como prioridade o combate à inflação, o que consequentemente traria credibilidade ao Brasil”.

O que esperar do comunicado do Copom

O time de macroeconomia do Itaú, liderado pelo economista-chefe Mario Mesquita, destaca que o comunicado da última reunião do Copom havia deixado em aberto o ritmo e magnitude do ciclo. A projeção do banco é, também, de uma alta da Selic em 0,50 p.p.

“Diante de um cenário ainda desafiador, com taxa de câmbio em nível mais depreciado do que na reunião anterior, mercado de trabalho apertado, e núcleos de inflação e expectativas ainda acima da meta, as autoridades devem julgar apropriado este aumento do ritmo, avançando mais rapidamente em território contracionista. Neste contexto, a avaliação de um balanço de riscos assimétrico para cima também deve ser mantida”, diz a casa.

É possível que a decisão do Copom ocorra antes da definição do vencedor das eleições nos EUA.

“Para as próximas reuniões, em um contexto de volatilidade elevada (em especial, com relação à trajetória esperada para o câmbio em meio à reprecificação dos juros e eleições nos Estados Unidos, e ruídos associados à política fiscal no âmbito doméstico), as autoridades devem manter em aberto o ritmo dos eventuais ajustes futuros e magnitude total do ciclo, enfatizando, no entanto, o firme compromisso do comitê no processo de convergência da inflação à meta”, avaliou o Itaú.