O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira, 24, que as elevações da Selic impactam o custo da dívida do governo, mas ponderou que a autoridade monetária não pode desviar de seu objetivo de levar a inflação à meta.

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Falando em eventos promovidos pelo Citi e pelo JP Morgan em Washington, Guillen afirmou que produziu um exercício preliminar para analisar os efeitos de anúncios de gastos públicos sobre condições financeiras e a inflação, defendendo que esses impactos sejam incorporados nas avaliações de política monetária do BC.

Membros da equipe econômica têm enfatizado o elevado custo da dívida pública diante do nível da taxa básica de juros, que indexa parcela relevante dos títulos públicos do governo. O cenário levou a uma previsão mais pessimista para a estabilização do endividamento federal.

“Quando pensamos sobre o melhor caminho para a taxa de juros, temos que pensar sobre nossa estrutura e nosso mandato, não podemos nos desviar disso… Entendo o ponto de que mover as taxas de juros tem um impacto sobre o serviço da dívida pública, com certeza tem, mas nosso mandato é sobre a inflação”, disse Guillen.

Na apresentação, ele afirmou não ver ingredientes que indiquem que o Brasil passa por uma dominância fiscal — quando um descontrole orçamentário do governo gera perda de efeito da política monetária e acaba por comprometer ainda mais as contas públicas.

“Para a dominância fiscal, acho que, em primeiro lugar, precisamos de um BC que seja passivo em relação aos dados, não temos isso, com certeza não teremos isso. Esse é um dos requisitos para a dominância fiscal, não vejo nenhum ingrediente para a dominância fiscal”, disse.

Novo Estudo do Banco Central

O diretor apresentou conclusão preliminar de um estudo que aprofunda a análise sobre os efeitos de uma política fiscal expansionista sobre a inflação, após citar que houve alta real de 7,8% no gasto do governo brasileiro de janeiro a julho de 2024.

Segundo ele, anúncios fiscais geram mudança na curva de juros. Uma elevação de despesas públicas tende a aumentar o nível dos juros futuros, o que gera efeito contracionista na demanda por conta da variação no câmbio. Ainda assim, o estudo sugere que o efeito é ainda mais inflacionário.

“Mesmo com contração na demanda, baseada no canal do câmbio, o choque fiscal (com gasto maior) pode reduzir o crescimento e aumentar a inflação”, afirmou.

O diretor disse que o modelo de referência usado hoje pelo Banco Central observa apenas o efeito do impulso fiscal sobre a demanda. Ele afirmou que esses impactos secundários são avaliados pela diretoria como um “modelo satélite”.

“Olhando à frente, acho relevante incorporar o impacto da política fiscal sobre as condições financeiras”, afirmou.