11/12/2024 - 6:00
Nesta quarta-feira, 11, o Comitê de Política Monetária (Copom) encerra sua última reunião do ano sobre decisão de juros marcada pela despedida de Roberto Campos Neto da liderança do Banco Central e por um cenário econômico pressionado.
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Na terça-feira, 10, o IPCA, o índice oficial de inflação do país, medido pelo IBGE, apontou uma desaceleração nos preços em novembro, com alta de 0,39% – ante alta de 0,56% em outubro. Contudo, em 12 meses, o índice ficou em 4,87%, acima do teto da meta, que é de 4,5%, o que pressiona o Comitê a apertar a política econômica empurrando os juros para cima.
O aperto monetário foi a decisão das duas ultimas reuniões, quando a Selic sofreu aumento de 0,25 ponto percentual (em setembro) e de 0,50 ponto percentual (em novembro).
0,75 ou 1 ponto?
Para a decisão de hoje, a expectativa é de que a taxa possa subir entre 0,75 p.p. e até mesmo 1 ponto. Ficando então entre 12% ou 12,25% ao ano. Segundo levantamento da Reuters, operadores colocam 71% de chance de uma alta de 1 ponto percentual na Selic, contra 29% de probabilidade de um aumento de 0,75 ponto. Lembrando que a taxa básica de juros, a Selic, é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle.
O Boletim Focus, que traz semanalmente as projeções do mercado para a economia, a aposta é de alta de 0,75 ponto. Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em finanças comportamentais, diz que os próximos passos do Copom serão cruciais para equilibrar o cenário econômico. “Devemos ter um aumento de 0,75% agora, com muitas apostas em um novo aumento de 1% na próxima reunião, considerando os dados econômicos positivos nos EUA e o impacto do arcabouço fiscal anunciado”.
Já a XP, por exemplo, trabalha considerando um aumento de 1 ponto agora e mais 1 ponto na primeira reunião de 2025. “Se a disposição do Banco Central de levar a inflação para a trajetória de metas em 2026 for real – e acreditamos que seja –, a resposta da política monetária tem que ser (ainda) mais firme. Assim, acreditamos que o Copom intensificará novamente o ritmo de ajuste monetário, para 1,00 p.p. em dezembro”, diz relatório da XP.
Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, vê ainda que o pacote de isenção de IR para salários de até R$ 5 mil pode dar um impulso ao consumo que, somado ao impacto inflacionário de medidas protecionistas nos Estados Unidos e ao dólar mais forte no mundo, piora as projeções de inflação para 2025 e 2026. “Desde o último Copom, as condições aqui pioraram bastante”, diz.
Cenário fiscal
Além da inflação, o pacote fiscal apresentado no final de novembro pela equipe econômica do governo deve ser considerado para a decisão. O projeto aguarda aprovação no Congresso, após ter sido recebido com pessimismo pelo mercado financeiro, que considerou as medidas propostas insuficientes para um equilíbrio das contas públicas e redução de gastos.
No comunicado da última decisão, em 6 de novembro, o Comitê apontou que “uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
Dólar no patamar de R$ 6
O câmbio é outra pressão sobre o Copom. O dólar bateu novo recorde histórico de fechamento na última segunda-feira, 9, cotado a R$ 6,08. A moeda acumula valorização de cerca de 25% em 2024. O comunicado do BC na decisão pelo aumento da Selic em 0,50 p.p. colocava o câmbio entre a conjunção de políticas econômicas externa e interna com impacto inflacionário, apontando para “uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”.
Conta ainda sobre a divisa norte-americana um cenário econômico exterior incerto com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, com ampliação das dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed [Federal Reserve, Banco Central norte-americano] no país.
Mudança no comando
Roberto Campos Neto está de saída da presidência do Banco Central. Ele foi indicado pelo então presidente Jair Bolsonaro, em 2019. Agora, será substituído por Gabriel Galípolo, que atualmente é diretor de Política Monetária da instituição e foi o nome indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar o cargo mais alta do BC.
Sua indicação foi recebida com temores do mercado sobre a independência de sua gestão e interferências do governo. Mas o economista afirmou que haverá continuidade da temporada de Selic em alta, que há preocupação com preços e com o bom andamento da política monetária.
Segundo Galípolo, as últimas decisões pelo aumento da taxa básica de juros foi natural e é lógico entender sua continuidade enquanto não se estabilizarem outros fatores dentro e fora do Brasil.