14/03/2018 - 13:25
Lembro do jornalista chileno Patricio Tapia, que elabora o guia “Descorchados”, me falando para prestar atenção em María Luz Marín, uma enóloga que estava fazendo coisas “diferentes” próximas ao Oceano Pacífico. Isso foi no início dos anos 2000 e o projeto da Casa Marin ainda era muito incipiente, na proposta de mostrar um outro perfil dos vinhos chilenos, mais mineral, sem tanta fruta madura, com muito frescor. Provei seus vinhos ainda antes de chegar ao Brasil (eles primeiro foram importados pela Vinea e atualmente estão na Vinci) e me encantei com a sua história.
Marilú, como ela é chamada, conhecia bem a região de Lo Abarca, um dos pequenos vales de San Antonio, e, como enóloga, sabia do seu potencial para vinhos, ao menos na teoria. A proximidade do oceano – são apenas quatro quilômetros do Pacífico – garantiria a brisa fria, importante para o lento amadurecimento das uvas; eram terrenos em colinas, que favorecem a drenagem e a incidência dos raios solares. O solo calcário também indicava a qualidade. E o problema de água, que era uma carência da região, estava sendo solucionado. Só havia uma questão: ela não conseguia o direito de plantar vinhas na região. A alegação principal era para preservar a vegetação, que na verdade eram eucaliptos, e não uma vegetação nativa.
A enóloga travou diversas lutas com os órgãos competentes para obter o direito de plantar seu vinhedo, o que conseguiu no início do ano 2000. Assim, foi uma das pioneiras no Vale de San Antonio, região que atualmente é um dos destaques dos vinhos do país andino. Marilú apostou em variedades brancas – gosto muito do seu sauvignon blanc Cipreses e do riesling Miramar – e nas tintas que melhor se adaptam ao clima frio. Aqui se destacam o pinot noir Lo Abarca e o syrah Miramar Vineyard. São belos vinhos, sempre com acidez bem colocada, fruta na medida certa e muita elegância.
Atualmente, Marilú divide a enologia e o cuidado com os vinhedos com o seu filho Felipe. Seus vinhos são importados para o Brasil pela Vinci.