05/11/2021 - 8:51
No mesmo dia em que a líder da juventude indígena de Rondônia, Txai Suruí, de 24 anos, brasileira e bilíngue discursava em Glasgow, na Escócia, durante a COP 26, um indicador no Brasil provava que o descaso brasileiro denunciado por ela do outro lado do mundo teria impactos diretos (e imediatos) na construção da nossa riqueza. A crise hídrica, a pior em nove décadas, irá tirar R$ 22,4 bilhões do PIB brasileiro entre 2021 e 2022, além de acabar com 456 mil empregos. Nas redes sociais, os que chamaram a rondoniense de oportunista e “imitação tupiniquim da Greta [Thunberg]”, devem ter perdido o revelador levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre a escassez de água e seus impactos econômicos.
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Diante da maior crise hídrica dos últimos 90 anos, o aumento no preço da conta de luz era inevitável, e seus efeitos já serão sentidos agora. A estimativa é que o PIB deste ano perca R$ 8,2 bilhões em função do encarecimento da energia. A inflação sobre a energia elétrica também será responsável por eliminar 166 mil empregos no fim do ano e outros 290 mil ano que vem. E os problemas não param por aí. A CNI também previu um impacto de R$ 14,2 bilhões no PIB do ano que vem. Na indústria o impacto direto do preço da energia é sentido tanto na compra de insumo quanto no preço da produção.
Dentro dos lares, a expectativa para este ano é que as famílias percam R$ 7 bilhões em capacidade de compra, e em 2022 essa cifra salte para R$ 12,1 bilhões. Já as exportações terão perdas equivalentes a R$ 2,9 bilhões em 2021 e a R$ 5,2 bilhões no ano que vem. A CNI estima ainda que a bandeira tarifária tem peso de 13,23% na conta de luz total das famílias. De acordo com os cálculos da confederação, a conta de luz das famílias subirá 6,77% em 2021 e 18,8% em 2022, com a criação da bandeira “escassez hídrica” e os reajustes das tarifas de energia. “O aumento total de 127,5% [em 2021] na bandeira tarifária deve se refletir em um aumento de 16,87% na conta de luz das famílias em relação ao valor inicial da bandeira vermelha patamar 2”, calcula a instituição. E se os figurões de cabeça branca que desenvolvem as políticas públicas no Brasil pensassem mais como Txai Suruí e menos como um capitalista dos anos 1970, talvez não tivéssemos chegado neste ponto. “A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo. Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais. Não é 2030 ou 2050, é agora.”