O mercado de água mineral cresceu quase 60% no Brasil no período entre 2012 e 2021. O volume de produção saltou de 8,4 bilhões de litros anuais para 13,2 bilhões. Um segmento pulverizado, com mais de 640 produtoras, mas que perdeu um concorrente de renome na reta final de 2022. A francesa Danone anunciou em setembro o fim da comercialização da água Bonafont no País, o que abriu espaço para que duas gigantes do setor, a Minalba Brasil (pertencente ao grupo cearense Edson Queiroz) e a americana Coca-Cola (por meio da marca Crystal), ampliassem a disputa por consumidores, embaladas pela Copa do Mundo no Catar, disputada em novembro e dezembro, e pela chegada do verão, que habitualmente provoca um incremento nas vendas.

A decisão da Danone pelo término da produção da Bonafont no País foi motivada por uma mudança na estratégia de negócios com foco nas categorias de produtos que apresentam maiores taxas de crescimento, como laticínios, produtos à base vegetal e nutrição especializada. As últimas unidades do produto foram envasadas na tradicional embalagem alaranjada no dia 3 de setembro, embora ainda seja possível encontrar unidades à venda. A dificuldade para expansão pelo País também teve influência na decisão da empresa, uma vez que a água mineral tem baixo valor agregado e o alto custo do frete prejudicava a rentabilidade. Segundo informações do setor, o negócio de águas da Danone faturava R$ 230 milhões por ano.

A marca, presente no Brasil desde 2008, atendia principalmente os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais, além do norte do Paraná, regiões abastecidas pelas unidades produtoras das cidades paulistas de Itapecerica da Serra e Jundiaí, na fluminense Nova Iguaçu e na mineira Jacutinga, todas com atividades encerradas.

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“Acredito que a habitual diminuição no consumo após o verão será menor, já que teremos um concorrente a menos no mercado” Aelio Silveira CEO da Minalba Brasil.

Apesar dos investimentos realizados na divisão, “a Bonafont tem participação minoritária no portfólio da Danone Brasil”, disse a Danone à época. O market share da marca em outubro passado foi de 4,1%, distante dos 27,4% da Crystal e dos 26,3% da Minalba Brasil, que engloba rótulos como Minalba e Indaiá, além de Pureza Vital, São Lourenço e Petrópolis. As três foram adquiridas junto à Nestlé, em 2018, em acordo que envolveu também a distribuição das globais premium Perrier, S. Pellegrino e Acqua Panna. Na ocasião, o grupo suíço afirmou que iria focar os investimentos em categorias nas quais tinha maior perspectiva de crescimento, como café, produtos lácteos, nutrição, alimentação animal e orgânicos.

A saída da Bonafont provocou reação rápida das principais concorrentes. De olho no crescimento estimado de até 30% do consumo — contra os 20% habituais de até 2022 — no período de verão e com um concorrente a menos no mercado, a Minalba Brasil preparou o nível de estoque, fez um trabalho de reposicionamento junto às fábricas (são seis pelo País) para garantir a capacidade de atendimento do consumidor no primeiro trimestre, como afirmou à DINHEIRO Aelio Silveira, CEO da Minalba Brasil. “Estamos superpreparados para fazer o melhor verão da história da Minalba.” Na comparação anual, segundo o executivo, a indústria nacional deve apresentar melhores números até mesmo no período de baixa sazonalidade, a partir de meados de março. “Acredito que a já habitual diminuição no consumo será menor, já que teremos um concorrente a menos no mercado”, afirmou.

A Crystal também está de olho na lacuna deixada pela ex-concorrente. Apesar de destacar a relevância da movimentação para o mercado, a empresa aposta na maior distribuição em todas as regiões do País, por meio do sistema Coca-Cola Brasil, para seguir na ponta. A proposta da empresa para o ano, segundo Ted Ketterer, diretor de Marketing da Coca-Cola Brasil, é manter a aposta no setor “oferecendo aos consumidores uma marca conectada com inovação, sustentabilidade e qualidade.” A bandeira afirmou ainda ser a primeira do segmento no Brasil com garrafas produzidas com 100% de resina reciclada e também a pioneira no uso de resina vegetal e na redução de resina plástica em embalagens mais flexíveis. “Estamos sempre buscando inovações e ampliando nosso portfólio para atender às necessidades do consumidor”, disse Ketterer.