Um dos episódios recentes mais controversos do setor de telecomunicações brasileiro foi a venda da empresa GVT para a francesa Vivendi, após uma disputa muito acirrada com a espanhola Telefônica. A controvérsia deveu-se a um comunicado lançado pelos franceses dizendo que eles tinham adquirido 57% das ações. Algumas semanas mais tarde, a Vivendi foi multada em R$ 150 milhões pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 

 

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A CVM contestou o fato de a Vivendi ter contabilizado opções de ações como ações já compradas. A Telefônica prometeu brigar nos tribunais. A briga vai longe. Enquanto os novos e emocionantes episódios do duelo corporativo não ocorrem, o saldo para o consumidor parece ser positivo. 

 

As grandes empresas de telefonia e transmissão de dados – Telefônica, Telemar e, em menor escala, a Net – ganharam mais um concorrente de peso. E a chegada dos franceses deverá mudar muito alguns mercados importantíssimos. O mais relevante deles é o de transmissão de dados em São Paulo.

 

De origem paranaense, a GVT está aos poucos oferecendo serviços de internet em São Paulo, mercado que até agora vinha sendo explorado por um duopólio estabelecido entre a Telefônica e a Net. 

 

Já começaram as operações em municípios da região metropolitana da capital e, segundo a empresa, a entrada no município de São Paulo está prevista para o segundo semestre de 2011. 

 

A chegada de mais um concorrente será fundamental para aumentar a concorrência em algo fundamental para o desenvolvimento das pequenas empresas: o acesso barato à internet de banda larga de qualidade.

 

A importância da universalização do acesso à internet é indiscutível na escola e na sociedade, sendo objeto inclusive de programas governamentais. Essa necessidade é menos visível para a pequena empresa, mas pensar em uma microempresa sem e-mail, página na internet, acesso a clubes de compras e a redes sociais – para não falar no e-mail marketing – é o mesmo que tentar imaginar uma companhia funcionando à base de lampiões de querosene e penas de ganso em lugar de canetas. Isso é ainda mais crucial em São Paulo. 

 

O município vive os estágios finais de um dolorido processo de perda de indústrias e consolida-se como o principal polo de serviços do País. Mesmo assim, hoje, o pequeno empresário paulistano paga caro pelo acesso à internet. 

 

O plano empresarial mais barato da Net,  de 600 kilobites por segundo (Kbps), custa R$ 249,90 por mês, sem telefone. Na Telefônica, o pacote de 1 Mbps sai por R$ 54,90. A GVT começa a oferecer seus planos de 5 Mbps por R$ 129,90, também sem telefone. 

 

É mais barato que o da Net, mais caro que o da Telefônica, mas com maior velocidade.

Ainda é cedo para saber se a GVT terá capacidade técnica, operacional e financeira para oferecer planos mais baratos ou serviços mais potentes que os de seus concorrentes no enorme mercado paulistano, onde se concentra a maior parte dos usuários de internet no Brasil. 

 

No duopólio paulistano, a regra tem sido de serviços de má qualidade e centrais de atendimento com dificuldade crônica em resolver os problemas de interrupção de sinal. A vinda de mais um concorrente pode ajudar a melhorar a situação para o usuário, como aconteceu na telefonia celular. A abundância de operadoras e a facilidade de portar o número de uma para outra garantiu que esse mercado chegasse a 200 milhões de aparelhos no Brasil.