DINHEIRO ? Em quem o sr. votou para presidente?
RONALDO KOLOSZUK
? O voto é secreto.

DINHEIRO ? Mas a posição do empresariado, principalmente o paulista, é conhecida. A grande maioria apoiou Geraldo Alckmin. Os vários núcleos da Fiesp ? incluindo o Comitê de Jovens Empreendedores ? seguem a opinião dos seus representados?
KOLOSZUK
? O que posso dizer é o seguinte: ninguém está contente com os índices de crescimento da economia. O Brasil está bem aquém de economias como a chinesa, a indiana, a russa. E todos nós sabemos que é possível avançar mais do que 2,3% ao ano. É possível fazer alguns ajustes na política econômica, como reduzir taxa de juros, cortar gastos públicos. O controle inflacionário é importante? Sem dúvida. Mas é preciso também olhar para o futuro. A estabilidade verdadeira vem de mãos dadas com o crescimento. Senão, é a política do ficar parado, que ninguém quer. O País tem que andar. Veja o caso dos jovens empreendedores. Vivemos de expectativas, cheios de gás para novos projetos, novos investimentos. Nos dêem as perspectivas que continuaremos investindo. Mas não dá para ter perspectiva com crescimento de 2,3% ao ano. Acho incorreta a tese de que o empresário precisa investir para criar a demanda. Não. É preciso ter demanda para puxar investimento.

DINHEIRO ? Mas o comitê apoiará o segundo mandato de Lula?
KOLOSZUK
? Como organização, temos de ser apartidários. Essa é a essência para um trabalho livre, sem amarras ideológicas. Nossa camisa é a do Brasil, independentemente de quem estiver no comando. Ninguém é louco de jogar contra o País em virtude desta ou daquela coloração política. Nosso apoio, contudo, virá acompanhado de cobranças. Cobranças por crescimento, desenvolvimento, políticas de incentivo ao setor produtivo e ética. A Fiesp está e estará atenta aos movimentos do governo, participando ativamente da vida econômica e política do Brasil. Quanto ao comitê, há uma cobrança do próprio Paulo Skaf para que tenhamos mais contato com Brasília.

DINHEIRO ? Como isso está sendo feito?
KOLOSZUK
? Por meio de comitivas empresariais a Brasília, seminários com membros do governo, visitas informais à própria Fiesp. O comitê sempre destaca alguns de seus representantes para estes contatos diretos com o mundo político. Freqüentemente, um de nossos representantes acompanha o Paulo (Skaf) aos encontros no Planalto. São experiências enriquecedoras. É uma visão progressista totalmente apoiada pelo comitê. Recentemente, o Paulo esteve na posse da ministra do Supremo Tribunal Federal (Ellen Grace) e pediu que um dos jovens empreendedores o acompanhasse. Destacamos o Fábio Nieves, que é juiz do Tribunal de Impostos e Taxas, para acompanhá-lo.

 

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“Skaf tem visão progressista. Foi dele a idéia de reunir os jovens na Fiesp”

 

DINHEIRO ? A idéia é ter uma representatividade maior, voz ativa nos debates nacionais?
KOLOSZUK
? Fazemos as coisas com muita calma. Estamos apenas engatinhando. Para montar o comitê, por exemplo, passamos quatro meses estudando a Fiesp, seus compromissos, estilo e sua forma de atuação junto ao empresariado. Tivemos a consultoria de economistas e técnicos da entidade para realizar esse trabalho. Ganharemos nossa representatividade, sim, mas sempre com os pés no chão. Nosso movimento é de contribuição para o cenário empresarial e financeiro do Brasil. Política é importante, mas é apenas parte do trabalho.

DINHEIRO ? O comitê tem alcance internacional?
KOLOSZUK
? Há um movimento na Espanha, que tem grande prestígio mundial. É o Cije, a Confederação Ibero-Americana de Jovens Empreendedores. Estamos representados lá, mas através da Conaje (Confederação Nacional dos Jovens Empreendedores). A Conaje, na verdade, integra os movimentos jovens de cada Estado. E nesse ponto o Brasil está bem adiantado. Há uma sinergia muito grande entre comitês de São Paulo, Bahia, Minas Gerais. Na questão internacional, também estamos aproveitando muito os intercâmbios. Freqüentemente, acompanhamos comitivas da Fiesp ao Exterior, participando de feiras e congressos. É uma experiência ótima para jovens profissionais que trabalham com exportação.

DINHEIRO ? Qual a sua visão sobre blocos econômicos?
KOLOSZUK
? O Brasil não pode ter amarras. O bloco é ótimo desde que exista reciprocidade. O País não pode ceder às pressões de nações vizinhas, como vem acontecendo com certa freqüência. Respeitamos as regras e temos de exigir que nossos vizinhos também respeitem. Ficamos no papel de coadjuvante nos últimos tempos, quando nossa vocação é de país protagonista em nosso continente. Então, se os blocos favorecerem a economia da região, ótimo. Se forem focos de conflito, não servem. E não podemos esquecer que há vários mercados interessantes para se firmar acordos bilaterais. Outro ponto importante é trazer os Estados Unidos para o nosso lado. Aproximarmo-nos comercialmente deles é fundamental.

DINHEIRO ? Quais são os principais entraves para o jovem empreendedor no Brasil?
KOLOSZUK
? Uma das principais dificuldades sempre foi o acesso ao crédito, junto às instituições financeiras tradicionais. O excesso de burocracia e a exigência de garantias reais são alguns dos problemas. Para se ter uma idéia, a criação de novas empresas, a partir da iniciativa dos jovens, dos 18 aos 34 anos, representa 65% do total. Em compensação, a taxa de mortalidade para empresas com até dois anos de existência é de 49,9%. Dois fatores explicam isso: a excessiva carga tributária no País e a falta de preparo dos empreendedores. Embora tenhamos bons cursos como os do Sesi e da Endeavor, ainda temos um longo caminho a percorrer. Uma das idéias seria aproveitar as estruturas das escolas técnicas em todo o País para a criação de cursos voltados à gestão de negócios. Por fim, ouvimos muitos jovens se queixarem da demora em conquistar a confiança de parceiros e clientes. Para isso não há fórmula. É trabalho e paciência.

 

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“Fomos à favela de Vigário Geral. Temos obrigação com as questões mais urgentes do País”

 

DINHEIRO ? Mesmo assim, há casos de sucesso entre essa nova geração…
KOLOSZUK
? Claro. Não podemos só reclamar da conjuntura. É preciso agir. Jovens que se destacaram no ambiente empresarial apresentam algumas características comuns. São elas: curiosidade, gosto pela leitura e pelo aprendizado, perseverança de não desistir, interatividade, interesse por cada oportunidade, enxergar o lado positivo das situações. Ser curioso e aprender a cada instante é fundamental. Construir relações a todo momento também é um dos fatores determinantes do sucesso. É o chamado networking. Não devemos nos fechar em pequenos círculos.

DINHEIRO ? O senhor diria que o comitê é uma espécie de MBA prático, um ensinamento fora de salas de aula?
KOLOSZUK
? De certa forma, sim. Até porque os representantes do comitê já têm uma boa bagagem acadêmica, teórica. O que o comitê faz é colocá-los em contato com a realidade corporativa. Às vezes, promovemos encontros com grandes industriais, como Benjamin Steinbruch, ou grandes economistas, como Delfim Netto. Em outras ocasiões fazemos jantares na casa de empresários. Já estivemos com Roberto Justus e Nelson Sirotski, do grupo RBS. Além dos contatos com celebridades, procuramos trabalhar temas de interesse do mundo corporativo. Há o núcleo de comércio exterior, outro de meio ambiente, um do mercado de capitais, outro de responsabilidade social. Este último, aliás, é um projeto feito em parceria com a Ong Afroreggae. Recentemente, visitamos as favelas cariocas para ter contato com a realidade e as carências dessa população. Estivemos, por exemplo, em Vigário Geral, no Rio de Janeiro. É um trabalho importantíssimo de conscientização. Olhar o Brasil de frente é uma experiência que deve ser obrigatória no currículo de qualquer executivo ou candidato a executivo do futuro.

 

DINHEIRO ? Muitos dos jovens que estão hoje no comitê vêm de famílias tradicionais, de um berço muito bom. E grande parte deles teve contato pela primeira vez com as condições de quem vive em favelas. Houve um choque cultural muito grande nessas visitas?
KOLOSZUK
? Não somos um grupo elitista. Há um bom contraste no comitê. Mas o que conta nessas visitas é mostrar a importância do comprometimento de empresários com as questões mais urgentes do País. Não existe mais essa de ficar olhando apenas os problemas internos de sua empresa, trancado em escritórios. O lucro é bom, as vendas são essenciais, mas a responsabilidade também é fundamental. Até porque agrega valor ao seu negócio.

DINHEIRO ? Jovens empresários fora dos limites da Fiesp também podem ser beneficiados com o trabalho do comitê?
KOLOSZUK
? Sim. Como já disse, não temos o objetivo de formar empreendedores. Mas podemos ajudar. Uma pesquisa recente revelou que 60% dos universitários sonham em ter seu próprio negócio. Elaboramos, então, um manual prático para o empreendedor, denominado ?Os sete pecados capitais do jovem que empreende?. Foi muito bem aceito. Outra contribuição vem de nossos congressos. No próximo dia 7, acontecerá na Fiesp o segundo Congresso Paulista de Jovens Empreendedores. O tema será sustentabilidade e teremos a presença de nomes de peso como palestrantes. Entre eles, Henrique Meirelles, Eduardo Bom Ângelo (presidente da BrasilPrev), Robinson Chiba (presidente do China in Box), Cristiana Arcangeli (da PH Arcangeli e Eh! Cosméticos) e Bia Aydar (presidente da MPM), entre outros. Já temos mais de 900 pessoas, de 36 cidades do País, inscritas no congresso.