26/11/2003 - 8:00
Ao perder em 2001 o direito exclusivo de fabricar o remédio de maior sucesso no combate à depressão, o Prozac, o laboratório farmacêutico americano Eli Lilly se viu à beira do abismo. Nas duas semanas seguintes à decisão da Justiça, a companhia perdeu 30% do valor de mercado. O Prozac respondia por uma receita anual de US$ 2,4 bilhões, o equivalente a 20% do faturamento da empresa. Era muito dinheiro em jogo e a companhia foi às últimas conseqüências. Gastou milhões de dólares com advogados para enfrentar o fabricante de genéricos Barr Laboratories, que insistia em afirmar que a patente do Prozac era de domínio público em função da sua expiração naquele ano. A briga foi parar na Suprema Corte e a Eli Lilly perdeu. ?Foi um decisão injusta porque tínhamos direito até o final de 2003?, afirmou à DINHEIRO o presidente de operações intercontinentais da Eli Lilly, Lorenzo Tallarigo. Injusta ou não, a empresa ficou sem a exclusividade de produção do remédio e com apenas dois caminhos a seguir: entrar em depressão e não reagir, ou lançar outro medicamento tão revolucionário e lucrativo como o Prozac.
Como ninguém gosta de perder dinheiro, a escolha natural foi a segunda opção. Desde a queda do Prozac, que hoje fatura apenas US$ 250 milhões por ano, a Eli Lilly fez algumas boas apostas. Nos últimos anos foram lançados sete produtos de sucesso, após um investimento anual de US$ 2 bilhões em pesquisa e desenvolvimento e o envolvimento direto de 8 mil dos 41 mil empregados espalhados pelo mundo. Dessa nova linha, o Zyprexa, antipsicótico voltado para o tratamento da esquizofrenia, é atualmente o ?queridinho? da indústria, dos médicos e dos analistas de Wall Street, que enxergam no remédio um potencial de crescimento tão exponencial quanto o Prozac. Hoje, o Zyprexa já fatura mais que o Prozac no seu auge. Só nos últimos três meses, as vendas alcançaram US$ 1,1 bilhão.
A lua-de-mel entre o laboratório e os acionistas faz as duas partes esquecerem a relação fria do passado, logo após a decisão judicial. Na época da briga com o Barr Laboratories, a Eli Lilly perdeu aliados e recebeu críticas. Havia quem acreditasse ser legítimo o seu direito de brigar pela patente que havia colocado no mercado em 1988, após bilhões de dólares gastos em pesquisas. Do outro lado, prevendo que o pior poderia acontecer com a empresa, havia analistas do mercado farmacêutico que apostavam suas cartas nos laboratórios de genéricos, que a partir de então teriam liberdade para produzir derivados do Prozac. Nesse caso, os dois lados ganharam. Parte da receita com antidepressivos realmente migrou para empresas menores, mas a Eli Lilly deu a volta por cima. As vendas entre julho e setembro deste ano aumentaram 13% em relação a 2002. ?Hoje sabemos melhor como enfrentar os concorrentes em situações semelhantes?, afirma Tallarigo.
Futuro. As lições tiradas do episódio são levadas tão a sério pela Eli Lilly que atualmente há regras rígidas em torno do lançamento de um produto que promete ser a versão do século 21 do Prozac. Batizado de Cymbalta, o novo remédio deverá ser colocado à venda nos Estados Unidos ainda no primeiro semestre de 2004. A Eli Lilly quer faturar muito com esse novo remédio para combate à depressão, que apresenta menos efeitos colaterais e mais eficácia que o seu antecessor. Embora não saiba dizer quantas patentes protegem o Cymbalta, o executivo diz que a lição foi aprendida. ?Estamos cada vez mais conscientes na hora de patentear produtos e pensamos
bem melhor nas maneiras de assegurar nosso investimento intelectual?, diz. E como seguro é o melhor remédio, o laboratório pretende diversificar ainda mais a sua atuação, que conta com áreas tão diversas como oncologia, antibióticos e diabetes, com a colocação no mercado de novos produtos para qualquer área médica. As últimas novidades são o Strattera, para problemas de déficit de atenção em crianças e adultos hiperativos, e o Cialis, para a disfunção erétil masculina, à venda em 45 países. ?Não fechamos os olhos nem os bolsos para investir em novas pesquisas para tratamentos inéditos?, diz Tallarigo.