06/02/2025 - 21:53
A Bolívia decidiu recorrer à venda de ouro no exterior para obter divisas e manter as importações de combustível, que é distribuído a preço subsidiado no mercado interno, em meio a uma profunda crise econômica, informou o Ministério de Economia e Finanças nesta quinta-feira (6).
Marcelo Montenegro, titular da pasta, advertiu que, durante 2024, o Banco Central da Bolívia comprou 14,5 toneladas de ouro do setor da mineração para revendê-las diante da escassez de dólares no país. Esta receita ajuda a manter os subsídios.
Isso “não nos possibilitou, provavelmente por ora, aumentar o estoque de reservas”, mas sim “que possamos comprar gasolina, comprar diesel”, disse, em entrevista à imprensa estrangeira.
Por anos o governo lançou mão de suas reservas internacionais para financiar sua política de subsídios. Contudo, o dinheiro quase se esgotou.
O Banco Central fechou 2024 com reservas internacionais de 1,976 bilhão de dólares, das quais apenas 50 milhões eram “reservas líquidas”, ou seja, dinheiro.
As vendas internacionais de gás, que alimentavam esses fundos de divisas, passaram de representar 54,4% das exportações bolivianas em 2013 para 18,8% em 2023, segundo dados oficiais.
A escassez de dólares criou um mercado paralelo, onde o valor da divisa americana disparou para 11,3 bolivianos, enquanto o câmbio oficial — que já não é acessível ao público — é de 6,97.
O ministro Montenegro assegurou que as toneladas de ouro destinadas à comercialização não são parte das 22 toneladas que o banco emissor mantém em seu tesouro permanentemente por exigência de lei.
Embora “as operações” de compra e venda do metal precioso “ajudem” na importação de combustíveis, as exportações das empresas públicas também continuam a fazê-lo, destacou o ministro.
Para José Luis Evia, ex-membro da diretoria do Banco Central da Bolívia, a medida “não é sustentável” ao longo do tempo “porque o ouro acaba, não há disponibilidade”.
Uma norma obriga os produtores auríferos a vender ao Estado boliviano a mesma quantidade que exportam.
Mas, segundo Evia, estes preferem comercializar apenas no exterior porque recebem em dólares, enquanto o Estado paga com bolivianos segundo o câmbio oficial, algo que os prejudica.
“Se você vir as exportações de ouro registradas, elas caíram fortemente. O que isso significa? Que provavelmente muitos […] estão retirando o ouro por contrabando e não vendendo ao Banco Central”, disse Evia à AFP.