10/08/2005 - 7:00
Não há mais goteiras nem máquinas paradas nos galpões da fábrica da Bombril em Abreu e Lima (PE). As instalações também foram reformadas e os equipamentos voltaram a funcionar na unidade de Sete Lagoas (MG). A produtividade aumentou na planta de Anchieta (SP). A Bombril, de julho de 2005, está bem diferente daquela dos últimos anos. As mudanças nas fábricas são apenas uma pequena parte do amplo programa de recuperação que tenta, ainda, devolver à empresa o brilho que ela perdeu no mercado brasileiro. Na quinta-feira 4, a Bombril publicou o balanço do primeiro semestre de 2005. E os números são animadores: R$ 137 milhões de lucro líquido, contra R$ 68 milhões de prejuízo no mesmo período do ano passado. O faturamento chega a R$ 396 milhões, crescimento de 32,4% em relação a 2004 e a geração de caixa é de R$ 67 milhões, ante R$ 12,4 milhões. Dívidas foram renegociadas, bancos abriram novamente as portas e a empresa voltou a mídia com uma campanha de R$ 15 milhões. Além disso, os mais de 500 títulos protestados e os 12 pedidos de falência passaram a fazer parte do passado, assim como os salários atrasados. ?Estamos retomando o ritmo das fábricas, lançando produtos e recuperando a rentabilidade?, diz Cláudio Del Valle, diretor-superintendente. Com todos esses resultados, os donos da companhia devem estar pulando de alegria.
Mas que donos? Ninguém sabe ao certo a quem pertence a Bombril. Era do empresário italiano Sérgio Cragnotti, dono da Cirio, que a comprou do brasileiro Ronaldo Sampaio Ferreira. Comprou mas não pagou e Ferreira foi aos tribunais tentar reaver o dinheiro ou a empresa. Nesse meio tempo, Cragnotti se envolveu em escândalos financeiros, foi preso, a Cirio vendeu e recomprou a Bombril algumas vezes e as operações envolvendo as duas empresas viraram caso de polícia ? aqui e na Itália. O resumo dessa ópera é que a Bombril acabou nas mãos da Justiça. Hoje, o controle da Bombril S/A (brasileira) pertence à administração judicial nomeada pelo governo de São Paulo. A holding Bombril (italiana), está sob o manto da Justiça local. ?Em suma, ninguém é dono da Bombril?, disse à DINHEIRO Ronaldo Ferreira. ?Por isso ela está assim à deriva, sem comando, demitindo, e dizendo para todo mundo que se recuperou?. Pelo visto, a Bombril que Ferreira vê não é a mesma do diretor Del Valle.
Ferreira se refere às medidas amargas que foram tomadas pelos diretores da Bombril, como a dispensa de 500 funcionários, que aderiram a um Plano de Demissão Incentivado (PDI), e o fechamento da fábrica de Sete Lagoas, tecnologicamente defasada. ?A empresa estava inchada?, explica Del Valle. ?Era preciso reestruturá-la e recuperar a rentabilidade?. O executivo afirma que a administração anterior, no afã de manter a Bombril ativa, adotou a estratégia de preço baixo e volume. ?Eles davam grandes descontos nos produtos em certos dias do mês?, diz o executivo. ?Isso criou um vício no varejo. O cliente pensava: ?é só esperar o momento certo para comprar na baixa e fazer estoque’. Conclusão: a Bombril vendia muito mas ganhava pouco?.
Segundo Valle, a estratégia inicial foi reposicionar os preços e ajustar a produção. Ou seja, mais receita, com volume menor e menos custos. Em outubro passado, um mês antes da nova diretoria assumir, a Bombril faturou R$ 65 milhões, vendendo 22 mil toneladas de produtos. Em novembro, o volume caiu pela metade. ?Agora em julho, voltamos ao patamar das 22 mil toneladas, mas com receitas de R$ 78 milhões?, conta Del Valle. O caixa começou a girar, houve reforço financeiro de um tal Trend Bank (na verdade, uma factoring) e foi possível retomar investimentos nas fábricas. Sete Lagoas, por exemplo, será reinaugurada no mês que vem. Em Pernambuco, para incrementar a produção, a companhia lançou a marca Pronto!, de detergentes e amaciantes, exclusiva para o Nordeste. ?Investimos R$ 25 milhões nas fábricas?, conta o executivo. Ao mesmo tempo, as dívidas com fornecedores foram renegociadas. De acordo com o analista Mauro Giorgi, da corretora Geração Futuro, um fato positivo é que a empresa está honrando seus compromissos. Mas ele ressalta que a questão jurídico/societária da Bombril pode elevar o risco de investimento em suas ações. Por falar em ações, elas estavam cotadas em R$ 3,50 em outubro de 2004. Hoje, valem R$ 8. ?Só é preciso tomar cuidado com os dados do balanço. O lucro de R$ 137 milhões é ilusório?, afirma Ferreira, o ex-dono. ?A Bombril não tem dinheiro em caixa. Tem uma cifra contábil, fruto de variação cambial?, diz Ferreira. Del Valle rebate: ?Ferreira se esqueceu de ver a geração de caixa de R$ 67 milhões. Ele gosta é de reclamar?.