29/03/2017 - 17:34
Em setembro de 2015, Romero Rodrigues escreveu uma carta na qual anunciava que estava deixando o cargo de CEO do Buscapé, empresa fundada por ele e mais três colegas da Universidade de São Paulo, em 1999.
A partir daí, ele se dedicaria a outras atividades (logo depois, virou sócio do fundo Redpoint e.ventures) e ficaria no conselho do comparador de preços, que havia sido comprado por US$ 342 milhões pelo fundo sul-africano Nasper, em 2009.
Em dezembro do ano passado, Rodrigues cortou seus últimos laços com o Buscapé. Ele se desligou totalmente da companhia. Com sua saída, todos os quatro fundadores não estão mais no comparador de preços.
Não chega a ser uma surpresa, mas a saída de Rodrigues é emblemática da nova fase pela qual passa a companhia, agora comandada por Sandoval Martins, que era diretor financeiro do Buscapé e foi alçado ao cargo de CEO, em março de 2016.
“O Buscapé parou no tempo”, afirmou Martins, em entrevista ao blog BASTIDORES DAS EMPRESAS. “Tivemos que reescrever toda a tecnologia.”
As mudanças, no entanto, são mais visíveis do que apenas refazer toda a retaguarda tecnológica. O Buscapé caminha para um modelo de negócio misto. Sua essência permanecerá sendo a comparação de preços. Mas cada vez mais ele quer ser um lugar que ajude os varejistas a realizar vendas. Em outras palavras: um marketplace.
Se quiser entender melhor essa estratégia, pense na operação do Mercado Livre, o maior marketplace eletrônico da América Latina – curiosamente, o Buscapé mudou sua sede de São Paulo para Santana do Parnaíba, no mesmo endereço onde antes ficava o Mercado Livre.
Martins prefere evitar o termo marketplace, alegando que o Buscapé já trabalha nessa modalidade desde 2013. Mas essa tendência se intensificou nos últimos tempos, quando começou a criar áreas verticais que vão além da comparação de preços. “É para onde eles estão indo”, diz uma fonte, que conhece a estratégia da companhia.
Um exemplo é a vertical de viagens, desenvolvida em parceria com o site Viajanet. Nessa área, a empresa vende passagens, em vez de fazer comparação de preços. “Vou atrás da melhores ofertas e trago para o Buscapé”, diz Martins.
A ideia, de acordo com o CEO do Buscapé, é criar novas verticais de produtos e serviços dentro do Buscapé para fazer vendas cruzadas de serviços financeiros, de seguros, de assistência médica e de assinaturas de streamings de música e vídeo, como o Spotify e o Netflix.
Essas mudanças acontecem após uma gigantesca lipoaspiração para colocar a operação do Buscapé nos eixos. No auge, o comparador de preços chegou a ter 1,2 mil funcionários. Hoje, conta com apenas 300.
O enxugamento aconteceu por conta do fim de uma série de empresas que foram sendo adquiridas. Em 2014, o grupo contava com 18 companhias. Muitas delas foram fechadas, como o BrandsClub, que se definia com o maior outlet virtual de luxo. Só nesta operação, 500 pessoas foram demitidas.
Atualmente, a companhia conta com poucas empresas. Uma delas é a Lomadee, um programa de afiliados. Outra é o SaveMe, de cupons online. O site Moda It está nos últimos acertos para se transformar um marketplace de moda. E o Ebit permanece como uma consultoria de comércio eletrônico.
O Bondfaro, comprado em 2006, será incorporado ao comparador de preços principal. “Não faz sentido operar as duas marcas”, afirma Martins. “É um investimento desnecessário.” Há também outras operações, mas de menor relevância que ainda são mantidas.
A reestruturação do Buscapé aconteceu por um motivo muito simples. O Naspers queria deixá-lo o mais redondo possível para vendê-lo. No ano passado, o fundo sul-africano chegou a colocar o Buscapé à venda.
Muitos interessados chegaram a olhar a empresa, mas quem ficou mais perto de fazer uma oferta foi a companhia japonesa Kakaku, uma operação online que conta com reviews de produtos e serviços, além de sites de restaurantes, de hotéis e de viagens.
O negócio só não aconteceu, segundo uma fonte ouvida pelo blog BASTIDORES DAS EMPRESAS, por uma razão muito simples: o preço. O Nasper queria recuperar o investimento feito na operação brasileira, de mais de US$ 300 milhões. Os japoneses não estavam dispostos a fazer um cheque tão alto.
Não significa que o Naspers tenha abandonado o desejo de vender o Buscapé. Atualmente, ele é a única operação de comparação de preços que está no portfólio do fundo sul-africano. Ele já chegou a atuar nessa área em 13 países e saiu de todos eles, vendendo seus negócios.
“Tudo ao preço certo está à venda”, diz Martins. “Mas o Buscapé não está à venda neste momento.” De acordo com o CEO, a companhia conta com um plano bem traçado e que está sendo tocado em conjunto com o Naspers. “Mas não vou negar que batem na porta do Buscapé, querendo conversar.”
Fontes consultadas pelo blog BASTIDORES DAS EMPRESAS, no entanto, acreditam que essa nova movimentação da companhia indica que o Naspers está, novamente, se preparando para vender o Buscapé. “Ele é um fundo de investimento e é da sua natureza entrar e sair dos negócios”, diz uma pessoa que conhece a estratégia dos sul-africanos.
A reestruturação, no entanto, trouxe resultado, que podem ajudar na venda. De acordo com Martins, a companhia é lucrativa e tem dinheiro em caixa – o executivo, no entanto, não abre os dados. “O Buscapé é totalmente autossustentável”, afirma o CEO. “Tenho como me manter.”