Tinha tudo para dar errado. Uma história escrita na Inglaterra de 1940, um tema estranho que reunia num mundo imaginário monstros e elfos numa batalha em torno de um anel mágico e um orçamento considerado pequeno para os padrões americanos. Em Hollywood não foram poucos os ?entendidos? que desdenharam da saga conhecida como Senhor dos Anéis. Hoje, a história é bem diferente. A indústria de entretenimento está aplaudindo de pé a performance financeira dos filmes da série. Em duas semanas, o segundo episódio Senhor dos Anéis ? As Duas Torres já faturou US$ 400 milhões em bilheteria, superando o primeiro filme (A Sociedade do Anel) e até mesmo o poderoso
Harry Potter. No mercado, a aposta é que o filme atinja a mágica cifra de US$ 1 bilhão nas bilheterias. A febre em torno da trama de J.R.R. Tolkien é tão grande que os críticos de cinema falam na multiplicação da legião de fãs, a exemplo dos seguidores de Star Wars e Jornada nas Estrelas.

 

Os produtos para essa turma já estão nas lojas e vão além dos tradicionais brinquedos e artigos de papelaria, que inclui cadernos e agendas. Dessa vez, os adultos também foram contemplados. Uma empresa de São Paulo, a Dryzun, lançou uma coleção com 50 jóias, todas inspiradas no filme. O anel carregado pelo personagem principal, Frodo, feito com ouro 18 quilates, está saindo por R$ 1,3 mil. Outra jóia é o pendente que a personagem de Liv Tyler entrega ao galã ? uma peça feita em ouro branco com detalhes em brilhantes que custa R$ 1,8 mil. ?A procura foi tão grande que estamos correndo para repor as peças?, diz Sheila Dryzun, proprietária da loja, que conseguiu os direitos de comercialização junto aos produtores do filme, em Hollywood.

Para a indústria do entretenimento, é curioso que uma história escrita em 1940 venha a fazer tanto barulho somente agora, no Século XXI. A trilogia de Tolkien sempre foi considerada um clássico britânico, mas poucos imaginavam que fosse ainda capaz de gerar bilhões. A grande responsável pela explosão foi o estúdio New Line, ligado à AOL Time Warner e considerado pela crítica um gerador de filmes medianos, daqueles que logo vão para a televisão. No caso de Senhor dos Anéis, nem mesmo os próprios produtores (que gastaram US$ 310 milhões, nos três filmes) poderiam imaginar que o filme chegasse ao topo da bilheteria. Ganhou quem apostou lá atrás, quando a produção ainda era considerada um ?mico? por Hollywood. No Brasil, uma das empresas com essa sorte é a editora Martins Fontes. Quando comprou os direitos sobre a publicação dos livros de Tolkien, em 1992, a Martins Fontes pagou um adiantamento de
US$ 50 mil. Até agora já faturou cerca de R$ 10 milhões com a venda de 500 mil livros. ?Metade desse movimento aconteceu no último ano, com o lançamento do primeiro filme?, diz Alexandre Martins Fontes, diretor-executivo da editora. Para a empresa Solymar, responsável pelo licenciamento dos produtos relativos ao filme no Brasil, só há motivos para comemorar. Os executivos da companhia esperam crescimento de 300% nas receitas com os mais diversos artigos que estampam as personagens da trama. Em 2003, a estimativa é que o negócio alcance US$ 1,5 milhão.

É por meio dessa política de licenciamento que Senhor dos Anéis vai aumentando o bolo da receita. Para divulgar o filme, a New Line foi conservadora: gastou apenas US$ 50 milhões do próprio bolso. No fundo, o estúdio sabia que grande parte da propaganda viria dos licenciamentos e das centenas de promoções ao redor do mundo.

Tudo é motivo para explorar o personagem Frodo. Até mesmo a Nova Zelândia aproveitou os cenários naturais do filme para entrar na rota mundial do turismo. Pela primeira vez, a ilha do Pacífico atingiu a marca de 2 milhões de turistas no ano. A visita aos sites especializados dobrou e até empresas de aviação neozelandesas estão pintando suas aeronaves com os personagens de Tolkien. Os roteiros seguem à risca os espaços de filmagem, espalhados por 150 pontos do país. ?Tudo isso coloca Senhor dos Anéis entre os filmes de bilheteria histórica?, diz Luciana
Kikuchi, diretora de marketing da divisão de cinema da Warner Bros no Brasil.